ESPAÇO ALVIRRUBRO. Leonardo da Rocha Botega e a vitória incrível para Dona Maria, a capitã da cozinha

A impecável vitória para a Dona Maria

Há dois anos a rotina de Dona Maria tem sido assim: acordar cedo, cuidar da família e rumar para a Baixada Melancólica. Sempre com o sorriso aberto, batalhando pelo pão do dia-a-dia, com o carinho de quem sabe que faz algo especial, aquela senhora linda é responsável pelo silencioso trabalho que faz os meninos alvirrubros terem a força necessária para os treinos e os jogos. Entre um afago e uma brincadeira, assume uma das posições mais importantes para o clube: ela é a capitã da cozinha. Graças a ela, o Theo tem o tão desejado macarrão, o Pedro Guilherme o cafezinho e até mesmo o presidente Mello ganha bolinho de chuva. Foi ao lado desta senhora que assisti, no telão instalado no refeitório do clube, a partida contra o Glória de Vacaria.

Dona Maria vibrava, sorria, ficava nervosa e apreensiva a cada lance. Eram os seus meninos que estavam em campo. Eram aqueles que ao longo da semana, ela procurou distrair e fazer relaxar diante da difícil tarefa de buscar um resultado que para muitos era impossível. Entre o nervosismo e o sorriso confiante, orgulhosa, me confessou que rezou e pediu proteção ao lado do ônibus antes da saída da delegação para a viagem. Emocionada, me disse: “Eu adoro esses meninos, tenho eles como se fossem meus filhos”.

Para muitos “especialistas em palpite” esse seria o jogo de nossa eliminação. “Especialistas” que falam como papagaios, mas são incapazes de enxergar como águias o valor de um grupo de jogadores e de uma comissão técnica que não chegou aonde chegou por sorteio. Sem se ater aos palpites, com a confiança de quem sabe aonde quer chegar e com o apoio de uma torcida apaixonada, os Titãs da Baixada rumaram à serra. Após uma semana de muitos treinos e demonstrações da força coletiva, abençoado pelo carinho de Dona Maria, o time entrou em campo disposto a garantir a vaga nas semifinais. E que disposição!

Esse time alvirrubro é mais que um time, esse time é uma comunhão de afetos. Afetos que entraram em campo e jogaram de forma impecável do início ao fim. Aos 2 minutos e aos 11 minutos, Jackson teve duas chances de abrir o placar. O ímpeto dos meninos alvirrubros quase foi por água abaixo aos 15 minutos, quando Giancarlo, após dividir com o goleiro João Paulo, chutou para o gol. Manolo no último instante afastou, em uma defesa comemorada como se fosse um gol pela torcida alvirrubra. Uma comemoração que ganhou impulso um minuto depois, quando Pablo, num contra-ataque fulminante, literalmente “engoliu” a defesa do Glória e cruzou para Chiquinho. Quando Mago é Maestro se encontram o resultado só pode ser genialidade. E assim foi: 1×0. Explosão entre os torcedores em Vacaria, explosão no refeitório da Baixada.

Um minuto depois, João Paulo foi mais milagroso e salvou o empate do Glória em um lance isolado diante do domínio dos meninos do Vinicius Munhoz. Aos 23 minutos, Pablo se atrapalhou e perdeu uma chance. Aos 33 minutos, Jardisson foi impedido de marcar pelo jogador Ruan que cometeu falta e acabou expulso. Com 11 contra 11 nossos meninos voavam, com 11 contra a 10 o voo foi mais alto. Aos 2 minutos do segundo tempo, mais uma vez Pablo faz uma bela jogada pela esquerda e cruza, Paulo Henrique Borges chuta e o zagueiro do Glória toca com a mão na bola, pênalti. Chiquinho bate e faz 2×0. Gritos, lágrimas e sorrisos explodem no refeitório e no Altos da Glória. Nem mesmo o susto do gol do Glória aos 18 minutos através de um chute de fora da área de Dionas Bruno afetou essa alegria coletiva. Uma alegria que se transformou em redenção aos 45 minutos, quando Dudu Mazão (um dos grandes talentos da equipe, um menino que sofreu com as lesões e a incerteza no início do campeonato) aproveitou a sobra de bola após o chute de Jardisson e fez: 3×1. Nesse momento, Dona Maria já não escondia a felicidade, cantando e dançando com a torcida. O jogador Julinho (que não foi relacionado para o jogo, mas que tem um futuro brilhante) visivelmente emocionado era abraçado pelos torcedores no lado de fora do refeitório. Era a beleza de um clube onde torcida, direção e jogadores são apenas um!

Foi nesse clima que a torcida ainda pode ver uma bela jogada de reserva para titular, em um time onde isso pouco importa. Paulo Henrique, após linda jogada individual, cruzou para Jackson fechar o placar: 4×1. Quatro gols para premiar o esforço da direção, a competência da comissão técnica, o apoio incondicional da torcida (daqueles que viajaram sete horas para ver o time, com direito a ônibus estragar na estrada e tudo, e daqueles que lotaram o refeitório da Baixada), a alegria do Obama quando arruma os uniformes e a fé de Dona Maria.

Esforço, competência, apoio, alegria e fé são palavras que resumem o caminho trilhado até aqui. São as costuras que ligam um sonho próximo e possível de se tornar realidade. Um sonho que emociona aqueles que acompanham o cotidiano do clube. Um sonho que se fortalece na sintonia entre a torcida e os jogadores. Um sonho construído por pedaços de desejos individuais que se cristalizam em um grupo de meninos que não são apenas atletas., são exemplos de que “sonho que se sonha junto é realidade”!!!!!