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Tempo? Presente, ainda! – por Pylla Kroth

Dia 31 de dezembro de 2018. Olho para o horizonte do alto da minha janela, choro, respiro, dou uma engolida seca e começo a escrever. Escrever o quê? O certo é que devo escrever, se publicar ou não aí é uma questão que daqui pra frente terei todo cuidado de analisar. Não sou profeta, mas dias escuros se aproximam.

Há alguns dias encontrei na rua do Acampamento um amigo que me fez esse pedido: “escreva sempre, Pylla, alguém um dia vai publicar e o mundo saberá tudo aquilo que guardamos dentro do nosso coração, no peito já calejado de dor”. (Ele se referia a um tema que somente eu e ele sabemos a verdade a respeito, os outros que sabiam já morreram, ou talvez ainda haja alguns que sabem mas que não se atreveriam contar)

Aquele pedido me intrigou. Fato é que já escrevi e entreguei em boas mãos, pois do amanhã pouco ou quase nada sabemos. No momento do encontro não prometi, mas aos pés de seu caixão, sete dias depois, o fiz. Esse meu amigo não foi apenas um ex-vereador como a imprensa da capital divulgou quando de seu falecimento. Ele foi um dos maiores escritores que a América Latina já teve. Não cabe aqui escrever seu curriculum, pois não caberia em tão poucas linhas.

Quando escrevo gosto de contar coisas boas, o que nem sempre é possível, portanto não quero fazer uma retrospectiva do ano que finda, pois quem tem memória sabe de sua colaboração para os acontecimentos que não foram ao acaso.

Quem fez parte dessa trama com o nome de mudança e usando inclusive nossa fragilizada Democracia sabe também de suas responsabilidades, com o futuro de seus filhos e da nação, inclusive a imprensa “maria vai com as outras”, “riquinhas claro”, foi cada um de vocês, de nós, cada um sabe, e não me venham daqui a uns anos se fazerem  de loucos. Toda ação gera reação, quem não sabe dessa teoria espiritual?

Tenho pra mim que apenas virou os números no calendário, pois os fatos ocorridos neste ano e que nos envolvem até as goelas, isto ainda vai longe, vai respingar no dia a dia do novo calendário como gotas de vulcão.

“Ano passado eu morri, mas este ano eu não haverei de morrer” e nem quero a essas alturas dos fatos. Me sinto um escolhido da história por estar vivo. E quero fazer de meus dias uma vivência de luta com gosto e com toda força que já não é mais a mesma, reconheço.

Sei que horas doces, horas amargas, alegres ou tristes fazem parte de nossa vivência, mas assim acho que todos devem viver seus dias, pois a vida nos impõe essa regra. Se quisermos viver teremos que ver, matar no peito, driblar e se possível fazer o gol nas jogadas do tempo.

Tempo que me vem na cabeça os anos vividos e que não foram poucos. Vi o fogão a gás aparecer, fui a aniversários para comemorar, comer e me divertir e não para fazer selfies para as redes sociais.

Às vezes penso que estou indo embora. Fui da turma do Mandachuva, do desenho animado mudo, do Nacional Kid, do Rin Tin Tin, do Topo Gigio, do homem pisando na Lua, da novidade do sabonete (pois só existia sabão), usei tamancos e com o “chinelo de dedos” levei um tempo pra me adaptar, e sou do tempo do Chiclete Ploc também.

Enfim… será que fui da última geração que ouvi meus pais e avós, e músicas que não agrediam os ouvidos? Atravessamos a era do Rock, Pop, Stock e hippies, nos educamos em escolas públicas, carnavais nos clubes, bailes de debutantes, e crianças tinham dois meses de férias.

Seria eu de uma edição limitada e que está como os dias contados? Fato é que todos os dias sinto que somos menos, vamos caindo. Peço aos Deuses que meu coração resista. Por essas quero aproveitar, pois tivemos muito trabalho para construir o mundo. Esse mesmo mundo que hoje esta sendo destruído por falta do que no passado tínhamos em abundância: o amor ao próximo.

Divido essa escrita não para que se sintam privilegiados, infelizmente minha geração esta indo embora rapidamente. E qual o mundo que deixaremos para as próximas gerações? Pensem bem. Vocês hoje têm a faca e o queijo na mão e, como disse esse meu amigo, que partiu recentemente: “essa gurizada de hoje tem o melzinho na chupeta demais e estão se lambuzando”.

E finalizo hoje minha escrita com um comentário dele feito em um post meu na rede social e que pra mim, um cantador, faz todo sentido passar adiante: “A vida é feita de música que a natureza tamborila. Também quero estar na fila por que o sonho da gente não há nada que o mutila. A gente carrega no peito e, se preciso, na mochila um futuro de mil conquistas, sem mordaças ou gorilas”.

E para os homens sem o senso humano e sensibilidade, deixo os versos dele, meu amigo Humberto Gabbi Zanatta, que musicados viraram hino: “Não podemos se entregar pros home, mas de jeito nenhum, amigo e companheiro. Não tá morto quem luta e quem peleia, pois lutar é a marca do campeiro”. A nossa marca. Se erramos e todos erramos, pensamos que sempre haverá a chance do acerto. Vamos em frente. Que não nos falte coragem. Bom ano a todos. Ao infinito e além.

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a imagem que ilustra esta crônica é uma reprodução de internet.

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