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República Madura – por Bianca Zasso

foto bianca zasso chamadinhaJuventude é sinônimo de coletivo. Adolescentes dos quatro cantos do planeta escolhem seus semelhantes e andam em grupo em busca de uma personalidade e o sonho comum de conquistar e mudar o mundo, mesmo que este mundo seja ali na esquina ou na cidade mais próxima.

Repúblicas se espalham pelas cidades universitárias e ensinam a dividir mais que o pão e o miojo, mas histórias, alegrias e desafios. Só que o tempo passa e, um belo dia, precisamos caminhar sozinhos ou pelo menos com menos companhia. Mas será que maturidade precisa da solidão para ser vivida com plenitude? Um certo filme francês mostra que não.

E se vivêssemos todos juntos, produção de 2012 do diretor Stéphane Robelin tem cinco ótimos protagonistas que já cruzaram a linha dos sessenta anos. Annie (interpretada com segurança por Geraldine Chaplin), Jean, Claude, Albert e Jeanne (vivida por Jane Fonda, esbanjando charme e beleza) são amigos há décadas e reúnem-se semanalmente para colocar o papo em dia e degustar um bom vinho. Todos com a vida feita, os filhos encaminhados e morando em casas confortáveis e espaçosas.

O que parece ser o auge da existência torna-se uma série de dúvidas quando o bonachão Claude é internado pelo filho em um asilo. Ainda com alma de conquistador juvenil, ele pede a ajuda dos amigos para sair da casa de repouso e voltar a sua vida normal, o que inclui prostitutas e bebedeiras. O plano de fuga dos senhores dá certo, mas é só o começo da batalha. Albert, marido de Jeanne, começa a demonstrar sintomas do Mal de Alzheimer e torna a vida da esposa uma eterna vigília.

Entre um abraço reconfortante e uma lembrança dos tempo de mocidade, surge a ideia: e se todos morassem juntos e se ajudassem mutuamente resolver os problemas trazidos pela velhice? Ideia maluca, dirão alguns. Mas parte do mesmo pressuposto da garotada, onde as contas e as dúvidas são divididas em nome do crescimento.

Unidos no mesmo recinto, o ambiente de amizade perfeita vai, aos poucos, empalidecendo. Romances antigos, desejos contidos e perguntas nunca respondidas vêm à tona e colocam em risco a harmonia do grupo. Observando com atenção o pequeno mundo formado pelo quinteto, está Dirk, um jovem alemão às voltas com sua pesquisa sobre a terceira idade e as brigas com a namorada francesa.

Sem dinheiro, ele é contratado por Jeanne para passear com o cachorro de Albert e acaba tornando-se mais um morador da casa dividida pelo amigos. Sangue novo na república madura. Porém, não há conflito de gerações. Ao contrário de muitos idosos por aí, a turma de E se vivêssemos todos juntos conhece bem os arroubos joviais e não está a fim de dar lição de moral a Dick. Ao contrário, quer aprender com ele e repensar suas escolhas do passado. Nada daquela história de “no meu tempo era diferente”. Os tempos mudaram, mas o amor, a paixão e os sonhos ainda fazem parte das pessoas, tenham elas quinze ou noventa anos.

E se vivêssemos todos juntos não é nada careta. Talvez este seja um dos motivos pelo qual o filme agradou, por mostrar uma nova maneira de envelhecer, onde não é preciso louvar o passado o tempo inteiro nem confundir idade com conhecimento. Temos muito que aprender mesmo depois que as rugas aparecem e quem ainda nem chegou aos trinta pode nos ensinar mais do que se imagina. Morando sozinhos ou em casas cheias, não sejamos velhos chatos, por favor.

E se vivêssemos todos juntos? (Et si on vivait tous ensemble?)

Ano: 2012

Direção: Stéphane Robelin

Disponível em DVD e Blu-Ray

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