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O dia que o vilão encarou a guarda – por Bianca Zasso

foto biancaFilmes sobre roubo costumam partir de dois caminhos: roteiros mirabolantes, onde um plano milimetricamente arquitetado é colocado em prática com uma facilidade incrível ou então descambar para o lado da comédia e o que era para ser um momento de tensão torna-se uma imensa série de situações engraçadas tanto para ladrões quanto para vítimas. Sidney Lumet, diretor falecido em 2011 e autor de obras como Serpico e Antes que o diabo saiba que você está morto, optou por conduzir a sua história de roubo com as características de um thriller temperado de um humor quase melancólico.

Um dia de cão, lançado em 1975, tem um pé na realidade. A história dos amigos Sonny e Sal, que resolvem assaltar um banco numa tarde de calor escaldante do verão nova-iorquino foi vivida pelos veteranos do Vietnã John Wojtowicz e Salvatore Naturile em agosto de 1972. Publicada em forma de reportagem na revista Life, a história foi parar no cinema, alcançou sucesso de público e crítica e ainda levou para casa, num desses paradoxos da vida, o Oscar de Melhor Roteiro original.

Protagonizado por Al Pacino e John Cazale, ambos em atuações intensas, Um dia de cão conquista por ser um filme de roubo onde o que menos importa é o cofre ou a quantia contida nele. O que prende o público são os diálogos enlouquecidos entre Sonny e a polícia, o ego inflado ao ver sua imagem na televisão e o ambiente de camaradagem surreal que se forma entre os reféns e os bandidos. Mais do que isso, Um dia de cão é um filme onde, por mais que nossa razão tente nos convencer do contrário, torcemos para que Sonny consiga sua fuga e seu dinheiro. Descobrimos a causa nobre de seu roubo e isso nos toca, por mais que assaltar um banco não pareça uma decisão sensata para se realizar o sonho de alguém.

Ambientado quase integralmente em uma única locação (técnica que Lumet já havia utilizado no clássico 12 homens e uma sentença), o filme nos diverte com piadas em doses homeopáticas, como Sonny ensinando uma das reféns a usar uma espingarda, mas não alivia. O tempo todos somos lembrados que não estamos em uma brincadeira simples. Os rostos suados dos atores, a multidão ora endeusando, ora crucificando o nosso “herói”, garante a atmosfera sufocante que faz de Um dia de cão uma das produções mais criativas e bem dirigidas do cinema americano dos anos 70. Contemporâneo de Stanley Kubrick e John Cassavetes, Sidney Lumet fazia filmes ao gosto de Hollywood sem nunca deixar de imprimir sua marca.

Torcer para o vilão não é nenhum pecado. Diria que é a maior prova de que somos humanos e, como tais, temos dentro de nós o bem e o mal, manifestado de diferentes formas. Tem horas que até o mais simpático dos mocinhos nos entedia. Sonny é um homem confuso, à beira do abismo. Quem nunca se sentiu assim? Um dia de cão nos assalta como poucos filmes conseguem. Só resta nos rendermos.

Um dia de cão (Dog day afternoon)

Ano: 1975

Direção: Sidney Lumet

Disponível em DVD e Blu-Ray 

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