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Corrupção e cavalos – por Bianca Zasso

Se valer de um ato de bravura para conquistar as pessoas e investir com garantias certas em uma carreira política. Parece notícia de jornal revelando os meios nada corretos que um político usou para chegar ao poder, mas esta é na verdade a trama central de Ambição acima da lei, um faroeste que tem tudo a ver com a história da América.  Só que não a história dos desbravadores do oeste e sim dos corruptos da metrópole.

Lançado em 1975, ano em que os filmes de faroestes já não eram mais a galinha dos ovos de ouro dos estúdios de Hollywood, Ambição acima da lei tem ingredientes que garantem a bilheteria: ação, um bom roteiro e dois astros da época, Bruce Dern e Kirk Douglas, que também assina a direção do longa.

O xerife federal Howard Nightingale tem como principal objetivo capturar o temido pistoleiro Jack Strawhorn, conhecido por seus roubos e assassinatos. Seria mais um duelo entre mocinho e bandido, encenado milhares de vezes em faroestes produzidos mundo afora não fosse um detalhe. O que move Nightingale não é promover uma vida melhor para a população do Texas e honrar a estrela que carrega no peito. Toda essa dedicação contra o “mal” é o ponto de partida para conquistar os moradores e também a imprensa local, já que o xerife quer mesmo é ser chamado de senador.

Com um discurso entusiasmado e emocionante (honrando o sobrenome Nightingale, que significa rouxinol), a vitória parece ser o destino do homem da lei. Mas prender Strawhorn é só o começo de uma jornada onde quem era mocinho mostra as garras e quem era bandido revela os podres por trás da luta contra os criminosos.

Kirk Douglas podia se deixar levar pelo ego inflamado pelo sucesso e fazer seu personagem tomar conta de todas as cenas, mas o lado diretor parece ter transparecido mais. Quem comanda a trama é Bruce Dern, conhecido por interpretar serial killers em filmes da década de 60, a maioria dirigidos pelo mestre do terror independente Roger Corman. Seu personagem tem a frieza de um bandido e, mesmo quando resolve virar o jogo, não demonstra um pingo de redenção ou aquela tradicional bondade repentina que surge nos integrantes do lado negro, típica dos blockbusters que insistem num final esperançoso.

Outro coadjuvante que se destaca é Harold Hellman, interpretado por James Stacy, um jornalista sem perna e sem braço que desconfia da bondade inabalável de Nightingale. Aliás, não seria uma crítica à imprensa o fato de o dono do jornal ser retratado sem um braço e uma perna? Essa é apenas um dos significados que podemos encontrar em Ambição acima da lei, que foi lançado em plena época do escândalo Watergate, motivo pelo qual a crítica viu na trama deste faroeste bem construído uma analogia a corrupção que rondava os corredores da Casa Branca.

O preconceito com o faroeste existe desde os primórdios do cinema. Mesmo no tempo onde os sons estridentes dos tiros não ecoavam na sala escura, existiam os olhares torcidos para filmes protagonizados por homens armados e de chapéus. Mas Ambição acima da lei é um dos bons exemplos de que o oeste e seus homens podem ser apenas um detalhe para se contar uma boa história.

Ambição acima da lei (Posse)

Ano: 1975

Direção: Kirk Douglas

Disponível em DVD

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