O mercado seleciona – por Giorgio Forgiarini
‘Não tem senso moral, social, estético ou afetivo’. Ele ‘se alimenta de dinheiro’

O mercado seleciona, eles disseram. E tantas e tantas vezes repetiram, com tanta convicção que, sim, eu acreditei. Aliás, não apenas acreditei como acredito até hoje. Sim, o mercado seleciona. O que nunca disseram é: afinal de contas, o que o mercado seleciona?
Alguns anos atrás Mc Pipokinha tripudiou: “Trinta minutinhos no palco e eu ganho setenta mil. Uma professora num mês não ganha nem cinco”. Não entrarei no mérito de quem é Mc Pipokinha, mas não posso deixar de refletir quanto à verdade contida em seu deboche. Ela, mesmo oferecendo contribuição muito controversa à sociedade, foi abençoada pelo deus “mercado”. Os professores não.
Hoje, são centenas os homens e mulheres a abandonar carreiras socialmente produtivas para dedicar suas vidas à exibição e venda de conteúdos muitas vezes bizarros, patéticos ou obscenos na internet. Com isso, faturam alto, muito mais alto do que se trabalhassem como enfermeiros, policiais ou carpinteiros, por exemplo.
Exemplos não são poucos. Andressa Urach, que já foi modelo, garota de programa e pastora evangélica, no ano de 2023 faturou mais de R$ 500 mil em 23 dias vendendo filmes de conteúdo explícito, dirigidos e gravados por seu próprio filho. “Luva de Pedreiro”, um rapaz cuja única virtude perceptível é chutar bem uma bola, faturou mais de R$ 1 milhão em um único mês do ano de 2022.
Aliás, sintomático é, também, que um jogador de futebol mediano ganhe 100, 200 vezes o salário de um motorista de ônibus.
Na música, o empobrecimento é notório, assim como também é seu propósito. Melodias complexas e poesias sutis não deixaram de ser compostas, mas têm sua divulgação reduzida, justamente por não serem “vendáveis” aos olhos do mercado. Nem sequer chegam ao grande público, cada vez mais bombardeado por batidas repetitivas e refrões escrachados, muito mais lucrativos. No cinema, salvo virtuosas exceções, percebe-se uma profusão de manjadíssimos filmes de super-heróis, além de tolas refilmagens de desenhos animados, filmes esses que, em regra, consomem os maiores orçamentos e alcançam as maiores bilheterias.
A lógica se reproduz em vários setores. Alimentos ultraprocessados, sabidamente insalubres, dão muito mais lucro que alimentos orgânicos. Equipamentos são concebidos, produzidos e vendidos para ficarem defasados em poucos anos. Empresas são criadas e se propõem a solucionar problemas que simplesmente não existiam antes de elas nascerem (alguém me explique para que serve um aplicativo de entregas, quando sempre tivemos telefones). E as farmácias? Bom, eu não saberia por onde começar a falar sobre esse incompreensível “boom” de farmácias abertas por todas as cidades.
Volto, então, à pergunta a que me propus: afinal, o mercado seleciona o quê? Tenho uma hipótese. O mercado seleciona o que é melhor para o mercado. Seleciona aquilo que dá mais retorno financeiro. O mercado não tem senso moral, social, estético ou afetivo. O mercado se alimenta de dinheiro e selecionará o que, de maneira imediata, lhe proporcionar mais alimento. Não importa o quão bom, competente ou inovador você ou sua empresa forem. O sucesso no mercado não depende disso. Depende de você dar ao mercado aquilo que o mercado quer. E isso me preocupa. Deveria preocupá-los também.
(*) Giorgio Forgiarini é advogado militante, com curso de Direito pela Universidade Franciscana, é Mestre em Ciências Sociais e Doutor em História pela Universidade Federal de Santa Maria. Ele escreve nas madrugadas de sábado.
Resumo da opera. Brasil é uma esculhambação mesmo, ninguém espere algo diferente. Altas discussões de bagrinhos ‘estrategicos’ só servem para matar tempo. Simples assim.
‘Deveria preocupá-los também.’ Obvio que não. Negócio é tocar a vida que já é complicada. ‘Consertar a humanidade’ é coisa de quem tem tempo de sobra, já está com a vida ganha. Alas, ‘consertar’ na base do discurso porque não fazem nada além de discursar e produzir textos. Acham que irão convencer os outros a tentar uma receita que deu errado em todo lugar que foi implantada.
Assunto caindo da moda, sucessão Papal. Rerum Novarum. Sobre os comunas. ‘Mas, além da injustiça do seu sistema, vêem-se bem todas as suas funestas consequências, a perturbação em todas as classes da sociedade, uma odiosa e insuportável servidão para todos os cidadãos, porta aberta a todas as invejas, a todos os descontentamentos, a todas as discórdias; o talento e a habilidade privados dos seus estímulos, e, como consequência necessária, as riquezas estancadas na sua fonte; enfim, em lugar dessa igualdade tão sonhada, a igualdade na nudez, na indigência e na miséria.’
‘Depende de você dar ao mercado aquilo que o mercado quer.’ Mais ideologia. Todo mundo é ‘vitima’ de alguma instituição ou de alguém. Os vermelhos estão ai para ‘consertar’ isto. Discurso é o habitual, só falam no que ‘não presta’ sem apresentar alternativa. Porque a alternativa ruiu com o Muro de Berlim em 1990.
Para as pessoas normais valem os tres ‘p’s” do marketing, preço, produto e ponto de venda. Não adianta abrir uma concessionaria da Ferrari (exemplo ficticio, não existem as oficiais) em SM porque não vai vender e nem se pagar.
‘Não importa o quão bom, competente ou inovador você ou sua empresa forem.’ Aspecto ideologico. Para os vermelhos ‘bom, competente e inovador’ não é questão de opinião propria, é questão do que é indicado por alguém, uma ‘autoridade’ ou um burocrata. Todo mundo pode fazer qualquer coisa e está decretado que é bom e inovador e produzido por pessoas competentes. E o principio da quermesse de cidadezinha do interior. A barraca de pipoca e a pesacaria são tão bons quanto o Epcot Center ou comer um sorvete na sobra da Torre Eiffel.
Economia comunista da extinta União Soviética era baseada no ‘o Estado determinará o que será produzido, onde será produzido, quais os recursos utilizados e por qual preço os produtos serão vendidos’. Não impediu, como em qualquer Estado de exceção, o surgimento de um mercado negro. Nota de rodapé para os imbecis, negro porque feito nas sombras. Alas, as vezes até tolerado pelo Estado. As gineteras, prostituição em Cuba, com muita propina rodando. Bebidas alcoolicas no Irã e outros paises islamicos. Até mesmo em paises ditos democraticas ele surge. Festas clandestinas aqui no Brasil durante a pandemia por exemplo. Existe demanda a oferta aparece.
Economia fascista era baseada em mobilizar um pais numa economia de guerra mesmo em tempo de paz. Ainda assim a Italia não estava pronta para entrar na Segunda Guerra.
‘O mercado seleciona o que é melhor para o mercado. Seleciona aquilo que dá mais retorno financeiro.’ A oferta só surge onde existe uma demanda. O mote é ‘produza o que as pessoas necessitam ou convença as pessoas que elas necessitam o que voce produz’. A segunda parte é para quem tem dinheiro. Vide iPhone que os ‘socialistas’ tanto gostam.
‘Alimentos ultraprocessados, sabidamente insalubres, dão muito mais lucro que alimentos orgânicos.’ São mais baratos, quem compra?
‘[…] filmes esses que, em regra, consomem os maiores orçamentos e alcançam as maiores bilheterias.’ Mesmo assim estão dando os maiores prejuizos. Um filme para se pagar necessita de duas vezes e meia a tres vezes o valor do seu orçamento na bilheteria. Perdas em desenhos e filmes de super herois já são a norma e não a exceção.
‘Na música, o empobrecimento é notório, assim como também é seu propósito. Melodias complexas e poesias sutis não deixaram de ser compostas, mas têm sua divulgação reduzida, justamente por não serem “vendáveis” aos olhos do mercado.’ Sempre funcionou assim. Quem escuta Jovem Guarda e Bossa Nova hoje em dia? Em 1967 Elis Regina, Caetano Veloso e Gilberto Gil patrocinaram a marcha contra a guitarra eletrica em São Paulo. Alas, Correios, estatal, está quebrando. Patrocinou o Lollapalooza com 6 milhões e a turne de Gilberto Gil com 4 milhões. Nada a ver com ‘mercado’. Todo mundo sabe que Gilberto Gil já é nichado há decadas.
‘Aliás, sintomático é, também, que um jogador de futebol mediano ganhe 100, 200 vezes o salário de um motorista de ônibus.’ O preço para ver um motorista de onibus dirigindo é relativamente barato.
Sem medo de errar pode-se dizer que os componentes do ‘mercado’ que dá dinheiro para MC Pipokinha não é o mesmo ‘mercado’ que dá dinheiro para Andressa Urach ou ‘Luva de Pedreiro’. Alas, se Andressa Urach quiser ser pastora pode, tem toda liberdade. Alas, o corpo da gaucha de Ijui é dela, faz o que quiser. O que leva a outra questão. Se o MC, o Luva e a profissional não estivessem onde estão, sabendo de onde sairam, fariam o quê? Até onde a falta de assistencia social e de um pais organizado influiu nas decisões que tomaram e levaram a ser o que são?
Mercado é um espantalho que os vermelhos inventaram. Um conceito abstrato utilizado por muitos. Não passa do resultado da soma de decisões individuais. Seja dos consumidores, seja dos investidores. Não é uma conspiração, um encontro de maus elementos na cobertura de um edificio de luxo.