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O susto e o medo – por Bianca Zasso

biancaOs atores Bela Lugosi e Boris Karloff ocupam lugares especiais no coração de quem curte o cinema de horror. Isso porque, caso o prezado leitor não saiba, eles foram as grandes estrelas da produtora Universal no período de ouro dos filmes que assustavam das crianças aos vovôs. Em 1931, enquanto Lugosi causava arrepios como o protagonista de Drácula, Karloff encarnava o eterno Monstro criado pela mente da escritora Mary Shelley em Frankenstein. Mas o grande encontro da dupla aconteceria alguns anos depois, mais precisamente em 1945, em uma produção que privilegia o medo ao susto.

E que medo! O túmulo vazio, dirigido por Robert Wise e inspirado em um conto de Robert Louis Stevenson, tem um roteiro que até hoje causa controvérsia. Na Edimburgo de 1831, o cocheiro Gray (Karloff) contribui para a pesquisa do médico MacFarlane de uma forma um tanto inusitada: nas madrugadas ele rouba corpos do cemitério para servirem de cobaia para os estudos do doutor e seus alunos, entre eles o promissor Donald Fettes.

Logo ele passa de simples aluno para auxiliar de seu mestre, além de responsável por receber o “material” coletado por Gray. Quando a segurança dos cemitérios da região é reforçada, Gray resolve dar o seu jeitinho e estrangula algumas vítimas para garantir seu dinheiro junto ao Dr. MacFarlane. Ao mesmo tempo, Fettes tenta ajudar uma menina que perdeu os movimentos em um acidente. Ou seja, corpos precisarão ser dissecados em nome da cura.

A fotografia de O túmulo vazio é um encanto macabro. Utilizando recursos de luz e sombra, típicos do cinema noir, o filme consegue passar toda a atmosfera sufocante e sombria da cidade, em especial nas cenas de “caça” de Gray. E Bela Lugosi, onde entra nisso tudo? Sua participação é pequena mas vale o ingresso. Na pele de Joseph, empregado da casa de MacFarlane, o ator húngaro participa de uma das melhores cenas do longa, um embate com Karloff para deixar os fãs do terror sorrindo e torcendo sem parar.

Mais do que ser um bom filme e cumprir o seu papel dentro do seu gênero, que é assustar a plateia, O túmulo vazio também consegue ser fiel à literatura de Stevenson e imprimir na película a ideia de que os piores fantasmas moram dentro da mente dos vivos. Os cadáveres frescos trazidos por Gray auxiliam a ciência mas também maltratam a consciência do Dr. MacFarlane. Vale tudo pelo bem da medicina? Perguntas e mais perguntas.

Wise, conhecido por seu trabalho com musicais belíssimos como West Side Story, emprestou seu talento e presenteou o público com um ótimo filme de terror e que, mais do que provocar pesadelos, consegue nos fazer pensar sobre quais são os verdadeiros monstros na nossa história. Para a nova geração, que associa o terror a coisas sanguinolentas como a saga Jogos Mortais, O túmulo vazio parece coisa de criança. Mas lembrem-se: é na infância que nascem nossos medos, bem longe do sangue e do corte.

O túmulo vazio (The Body Snatcher)

Ano: 1945

Direção: Robert Wise

Disponível em DVD no box Obras-Primas do Terror

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