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Pessoas são esquisitas – por Márcio Grings

Ele entrou no restaurante de óculos escuros, boné e fones de ouvido zumbindo. Dessa forma, tem a impressão de que está imune a contaminação externa. Dentro do seu mundinho particular, tudo fica sobre controle. Os fones estão tão altos, que ninguém se atreveria a tentar iniciar uma conversa. “Into the void” do Sabbtah rolando com volume no talo. Os óculos o deixam numa posição de olhar com atenção as coisas, sem que algum chato de galochas perceba para aonde as bulitas estão mirando. Perfeito. Escolhe uma mesa longe da TV e deixa o molho de chaves guardando a mesa.

Escolhe sua refeição com calma, observando as variações e montando cuidadosamente o prato do dia. Fica confuso quando há muitas opções, e no final das contas, detesta bufês. Enfim, pelo menos o restaurante fica próximo ao trabalho. Afinal, é comida, ele não é um daqueles morrinhas que não come ‘isso’ ou ‘aquilo’. E o ambiente é bacana. Meia luz. Ele gosta de lugares onde a luminosidade não exerce sua plenitude.

Senta à mesa, deposita a carteira e o celular ao lado das chaves. Continua de boné, fones e não tira os óculos. Apenas desliga o som do smartphone, mas deixa os fones assestados nos ouvidos. Precisa daquele momento. Sempre existe algum filho da puta aporrinhando e atrapalhando sua mastigação. Ao conversar enquanto come, percebe que o rango não faz o caminho correto dentro dele. Precisa evitar os chatos e a gastrite.

Começa a esgravatar no prato muito lentamente. É um exercício difícil, mas inevitável para que consiga evitar os remédios. Antes engolia os alimentos, agora os saboreia. Na mesa ao lado, um casalzinho parece estar vivendo o ápice de uma espécie de Lua de Mel.

– “Ai amor, come essa couve. Tem cálcio, pra ti ficá sempre com vigor pra fazer aquiiiilo”.

– “Ah, eu não preciso dessas coisas, meu bem! Eu me garanto”.

Argh! Puta que pariu. Bem ao meu lado, dois pombinhos solando na fofura”, conclui em pensamento enquanto solta um longo suspiro de desaprovação.

– “Prova essa carne, Jorge”, diz a mulher, ao mesmo tempo em que o homem abre a boca e recebe uma golfada de alimento diretamente da mão dela.

– “Hum, deliciooosa!”. Ela faz um biquinho e tasca um beijo no meio da boca do cara abarcando um bocado de molho que ia descendo pelo pelos lábios dele. “Deus do céu! Isso vai ficar pior”, pensa. Observa tudo de canto de olho protegido pelos óculos escuros, ouvidos atentos.

Aumenta o volume do smart e vira a cadeira mais pra esquerda. Volumêra comendo frouxa nos fones. “Não tem jeito, pessoas são esquisitas”, fala sussurrando num tom muito baixo.

“Sabra Cadabra” neles.

 

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