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Cronenberg no divã – por Bianca Zasso

foto biancaObserve o mundo e você vai perceber que as grandes ideias, mudanças e inovações surgiram após alguma crise vivida por seus criadores. Não falo apenas de descobertas que mudaram a humanidade, mas de pequenas coisas do cotidiano, onde conseguimos avistar dentro de um mar de problemas a gota que será nossa salvação.

O diretor David Cronenberg lida em seus filmes com pessoas e sociedades em crise. Obras como Marcas da violência, A mosca e Crash- Estranhos Prazeres mostram o olhar singular que o cineasta canadense tem sobre o mundo. Seus personagens são movidos, enganados e até perseguidos pelo desejo. Em 2011, Cronenberg levou para as telas um história inspirada na vida de dois grandes homens que dedicaram suas vidas a entender a mente humana.

Um método perigoso tem como protagonistas o suíço Carl Jung, um dos nomes mais importantes da psicologia, e o austríaco Sigmund Freud, que dispensa apresentações. A trama é ambientada num dos períodos mais importantes para a psicanálise, onde Freud buscava acabar com a fama de ciência judaica de seu método. Jung, um protestante aristocrata e interessado em seus estudos, parecia ser a parceria perfeita. Mas o foco do filme não é a troca entre os dois. Há uma mulher no meio do caminho.

Sabina Spielrein chega ao hospital de Zurique diagnosticada com histeria e torna-se paciente de Jung, que usa o seu método de cura pela fala. O resultado é, além da cura de Sabina, o seu ingresso no curso de medicina com o intuito de tornar-se psiquiatra. De paciente, a moça torna-se discípula. Porém, a relação mestre e aprendiz torna-se mais intensa, o que afeta Jung. O médico tenta fugir de seu desejo e aprender a lidar com algo que, em seus pacientes, parece muito mais simples de ser tratado.

Um método perigoso é um filme burocrático, sem nenhum arroubo artístico ou estético. Os efeitos em CG não são dos melhores e há pouco da assinatura de Cronenberg nas cenas. Quem conhece a trajetória do diretor sabe que ele imprime uma violência coreografada e bela na maioria de seus trabalhos. Em Um método perigoso, no entanto, parece que o diretor prezou a direção de atores, já que o elenco se mostra afinado. Viggo Mortensen, Michael Fassbender e Keira Knightley atuam sem afetação, isso sem contar a ponta do francês Vincent Cassel como Otto Gross, que será mais uma influência que um paciente na vida de Jung.

Um método perigoso não é a melhor apresentação para descobrir quem é David Cronenberg. É apenas uma boa história conduzida com inteligência, mas sem a ousadia dos outros longas de sua carreira. Mas passa longe de ser perda de tempo. Cronenberg é bom até quando é mediano. Há momentos que nos perguntamos o que podava o “toque cronenberguiano” de aparecer na tela. Produtores? Algo pessoal? Essa nem Freud explica. É ver e tentar descobrir.

Um método perigoso (A dangerous method)

Ano: 2011

Direção: David Cronenberg

Disponível em DVD e Blu-Ray

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