Descobri que sou um piá – por Vitor Hugo do Amaral Ferreira
Dia desses fui chamado de piá. Confesso, em um tom que nunca fora, por uma pessoa que nunca esperava. Sentimento de tristeza me fez refletir por uns instantes (alguns dias). As nossas humanidades nos deixam tão humanos que assusta.
Aquele ‘piá’ não saía da minha cabeça. Somos muito daquilo que queremos ser aos que amamos. Ser o melhor filho, marido, pai, amigo. Não sei vocês, mas quero sempre ser o melhor, tipo uma disputa comigo mesmo.
Eis que lembro que somos humanos, suscetíveis a erros e acertos. Preocupei-me nas minhas atitudes infantis, pois o ‘piá’ brincava em meus pensamentos. Onde errei? Afinal, aos meus trinta e poucos anos já não soa como elogio quando adjetivado como ‘piá’.
E continuei a procurar – nessas alturas já queria esconder – o tal do ‘piá’ que me caracterizava. Aí pensei, sou zeloso com os meus; comprometido no trabalho; não me faltam responsabilidades e dou conta delas; acordo cedo e durmo tarde na certeza que faço minha parte; resolvido comigo e com os outros… Deixei de pensar que a irresponsabilidade fosse a marca do ‘piá’, que teimava em me atormentar.
Lembrei que quando meu avô perguntava-me, eu sempre respondia com uma piada, alguma brincadeira, até um dia ouvir dele: “com o Vitico não tem tempo ruim”. Demorei pra saber que ali havia um elogio. Veio-me, ainda, à memória, que meu pai tirava fácil um riso dos outros. É assim que as pessoas lembram dele. Pois bem, ser ‘piá’ não deve ser tão ruim assim. Já me convenço que foi um elogio, descobri que sou um piá.
A segurança do tal elogio só me foi confirmada quando fui aos livros ver a definição de ‘piá’. Conclui o que já me era sabido, o substantivo significa criança; mas descobri que na sua origem guarani significa ‘coração’; como os indígenas chamavam os filhos ‘tchê piá’ (meu coração). Descobri, feliz, que sou um piá! Afinal, não pode ter algo ruim quando se é criança ou, do guarani, onde se é coração!
Vitor Hugo do Amaral Ferreira
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