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Um tratado com a LEVEZA – por Márcio Grings

Faz pouco tempo me dei por conta de uma coisa. Anota aí – um dos segredos da paz interior pode ser encapsulado em uma palavra: LEVEZA. Quando há LEVEZA, todo o resto se resolve e intempéries se dissolvem, feito açúcar numa taça de chá. LEVEZA é um atalho/passaporte com o lado ensolarado da existência, um enlace espiritual com o divino, uma conexão direta em crenças e forças do invisível. Só que para obtermos esse Green Card com a dita cuja, precisamos ralar um bocado, para só então, sermos contemplados com a benesse de tão agradável e esperada companhia.

E o pior, esse cavalo lépido cansa de passar encilhado, e você não vê. Ao longo dos dias, dropes de LEVEZA são introduzidos sem que consigamos perceber como ela se infiltra em raros segundos de vida, irrefutavelmente desperdiçados. A LEVEZA deu o ar da graça naquele por do sol de ontem, e você nem aí. Trancafiado dentro de casa, puto da cara por que o PC ‘tava dando pau, e claro, não percebeu a dita LEVEZA tirando onda e tingindo o céu com matizes nunca antes vistos por olhos desatentos. Perdeu!

A LEVEZA chega de mansinho quando o gato faz ninho no colo e ronrona deliciosamente enquanto vocês dois relaxam no sofá. A LEVEZA pousa no ombro quando aquela sensação de dever cumprido faz o clique na fechadura segundos antes de você deitar a cabeça no travesseiro. Não se assuste, não são fantasmas arrastando correntes, é apenas a LEVEZA dando boa noite.

Sabe o que acontece? Essa vida maluca de hoje o faz inverter as bolas, e a jogatina dos dias deixa as rodadas previsíveis como um baralho viciado em esconder as cartas sempre debaixo da mesma manga. Mude a mão do jogo! Perder pode ser um ganho. Não trapaceie você mesmo, e principalmente dê chance ao imprevisto. Desembaralhe as cartas e trancafie essa carpeta ensebada numa gaveta escura.

A LEVEZA é prima irmã da beleza natural das coisas, por isso, descompromissadamente, é preciso se enamorar com ela, ficar algum tempo nu ao seu lado e favorecer a intimidade de vocês. Desagrade uns dois, três, dez ou vinte, jogue tudo pra cima, respire e mergulhe fundo nessa cama de algodão & nuvens.

Você precisa tratar a LEVEZA com pompa e circunstância, fazê-la sentir o aroma dos seus lençóis limpos, cafungar no cangote dela, acariciá-la como um amor há muito tempo aguardado. Abra sua melhor garrafa de vinho, acenda as velas no candelabro, queime um incenso e coloque um quarteto de cordas para ilustrar o encontro.

O diapasão é o seguinte: o que realmente importa nessa vida, o ontem, o hoje ou o amanhã? Saiba que a LEVEZA repousa no presente, nada de saudosismo ou projeções futuras. Abra o saco de gatos e jogue lá dentro toda a culpa, arrependimento, carnês atrasados, e qualquer porcaria que esteja pesando nas suas costas. Esvazie a droga da mochila!

Ok, eu sei! O azedume me impede de passar mais mansidão nesse recado de Ano Novo. Maldito ranço que fode com a LEVEZA. Por isso, respirei fundo na tentativa de deixar passar essa sensação ‘leve’, e assim quem sabe, diluir toda essência nesse epílogo. Afinal, a LEVEZA também precisa de manutenção.

Vamos lá…

Que a LEVEZA conspire a nosso favor e fique um bom tempo ao lado de quem a favorece, já que como sabemos nada é permanente. Apenas peça que ela seja mais duradoura, constante e suave. Que a LEVEZA pegue na sua mão, que a tranquilize enquanto massageia suas costas, debruçando o olhar sobre aquilo que aprecia e ama. Que a LEVEZA sorria lindamente até você ouvir o movimento dos lábios dela elevando o rosto, como uma ponte levadiça que nos conecta até um lugar confortável.

E quando chegar lá, só então terá a certeza de que todo o resto não mais importa, o peso foi deixado para trás, pois finalmente estará adentrando no fértil território da LEVEZA.

Antes de pisar nas Terras do Leite & do Mel, eis que nesse compasso de espera, eu lhe aviso: não esqueça que a LEVEZA nunca chega facilmente. Contudo, quando ela marca presença, invariavelmente mescla-se a um estado de espírito. Daí é necessário dar um trato legal na LEVEZA! Ao lado dela, busque o oásis da existência, sente no gramado e contemple o que está a sua volta. Ela é uma cabana de madeira acostada frente um lago paradisíaco, perdida no meio do nada, límpida dos males e anseios nefastos da civilização.

A porta está entreaberta, que a LEVEZA entre em sua vida como um raio de sol numa manhã de inverno.

Feliz 2015!

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