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Imprevisibilidade Humana – por Liliana de Oliveira

Um avião Airbus da companhia Germanwings, empresa da Lufthansa, caiu no sul da França no dia 24 de março vitimando 150 pessoas. A aeronave ia de Barcelona, na Espanha, para Düsseldorf, na Alemanha, segundo autoridades aéreas. Andreas Lubitz, 28 anos, de nacionalidade alemã, copiloto é apontado como responsável pela queda do avião da Germanwings. Segundo a promotoria francesa o copiloto assumiu o controle da aeronave e teria derrubado o avião deliberadamente, pois se recusou a abrir a porta da cabine para o piloto, não enviou nenhuma mensagem de socorro ou urgência e nenhuma resposta foi dada a todas as chamadas dos vários controladores de tráfego aéreo.

Depois do ocorrido tentamos entender os motivos que teriam levado o jovem alemão a derrubar voluntariamente a aeronave. O que mais nos intriga é o fato de se tratar de um alemão e não de um árabe radical extremista, de se tratar de uma das melhores companhias aéreas do mundo e do fato do copiloto não apresentar nenhuma relação com o terrorismo. Será então que mesmo boas companhias aéreas correm o risco de derrubar um avião? Será que qualquer um de nós em algum momento pode ultrapassar o limite tênue entre a saúde e a doença e cometer um ato que comprometa a nossa vida e a vida de outros? Será então que não existe raça, credo ou lugar que nos garanta segurança? Será então que não são somente os terroristas são capazes de ações violentas que coloquem em risco a vida de outros?

Sentimo-nos amedrontados. E com medo nos apressamos em buscar diagnósticos que comprovem a insanidade ou a depressão que teria levado o copiloto ao suicídio arrastando junto consigo muitos outros. Queremos desesperadamente encontrar um motivo que justifique tal ato e que o coloque longe de nós, que o coloque no lugar dos insanos.

Alguns dirão que Andreas era um jovem estudioso, feliz com a possibilidade de voar pela reconhecida companhia aérea e que jamais imaginariam ser ele capaz de tal ato. Sempre que escuto esses relatos me dou conta do quanto nós confiamos naquilo que vemos e do quanto somos incapazes de perceber boa parte daquilo que se passa no outro. Recusamos a ideia de que não conhecemos o outro. Recusamos a ideia de que alguém tão próximo de nós, alguém como nós seja capaz de uma ação tão violenta.

Outros ainda dirão que as companhias aéreas fazem exames periódicos e que se o copiloto tivesse problemas os colegas ou a empresa teriam percebido. O presidente da companhia aérea envolvida declarou que o copiloto tinha realizado exames periódicos e que estava bem.  Quando escuto essas declarações me dou conta do quanto acreditamos nos exames (exames que na sua grande maioria medem habilidades físicas e não emocionais) e na sua capacidade de detectar nossos estados mais íntimos. Mesmo que realizássemos exames psicológicos ainda assim há no humano sempre um resíduo. Há sempre algo de humano, de imprevisível que escapa de qualquer racionalidade, explicação ou medição. A imprevisibilidade nos assusta, mas não seríamos humanos se não tivéssemos a capacidade de deliberar e alterar o rumo da nossa própria vida. Mas há que se ter cuidado, pois alterar nossa vida muitas vezes implica em alterar a vida de outros.

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2 Comentários

  1. Verdade, O Brando!
    Espero que possamos um dia viver num mundo com menos estereótipos e com menos ilusão no que se refere a razão.

  2. Mostra que o estereótipo de "alemão" é tão errado quanto o de "extremista muçulmano" (nem todos são árabes).
    De fato, a razão é um instrumento imperfeito (para horror dos "iluministas") e o mundo é muito mais aleatório do que gostaríamos.
    E, óbvio, não faltam os profetas do passado: "como é que os alemães não viram isto?".

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