O tempo – por Liliana de Oliveira

Dizem que o tempo ameniza.

Isto é faltar com a verdade.

Dor real se fortalece

Como os músculos, com a idade.

É um teste no sofrimento

Mas não o debelaria.

Se o tempo fosse remédio

Nenhum mal existiria.

(Emily Dickinson)

Lendo isso, imediatamente lembro-me daquilo que o tempo não ameniza. Lembro-me das dores que o tempo fortalece. Há algumas perdas que são irreparáveis.  Perdas que se fazem sentir ao longo da vida. Perdas que se fortalecem como os músculos, com a idade.

Se o tempo fosse remédio, apagaria todas as mágoas, dores e amores.  Se o tempo fosse remédio, nos reconciliaria com nosso passado. Se o tempo fosse remédio, o sofrimento por aqueles que amamos e perdemos se dissiparia. Entretanto, alguns amores e dores com o tempo se fortalecem.  Algumas ausências se tornam presenças.

Por vezes, o tempo é generoso e parece nos dar uma trégua. Por vezes, conseguimos não lembrar daquilo que nos falta. Por vezes, nos sentimos felizes. Por vezes, o tempo refaz o que desfez.

E quando penso que o tempo é um teste no sofrimento lembro-me do meu pai que sempre se emocionava quando falava de seu pai falecido. Quando falava de seu pai falecido, voltava a ser o menino de doze anos.

Sempre ouvi dizer que “o tempo é o melhor remédio” e que “o tempo cura tudo”. Isto é faltar com a verdade. Há dores que não curam. Há coisas que não se remediam. Há ausências que não são esquecidas. O que acontece é que nos acostumamos com as ausências e com as perdas porque precisamos seguir em frente. Seguir em frente carregando tudo na gente. Seguir em frente porque com o tempo aprendemos que também somos aquilo e aqueles que nos faltam.