Esse é o típico caso de tiro no próprio pé. Os grandes veículos, especialmente os jornalões, apostaram tanto no caos, nos últimos anos que, agora, eles próprios são vítimas. E, pior, correm o sério risco de sucumbir. O exemplo do câmbio é lapidar, como mostra, didaticamente, o jornalista Luis Nassif, em artigo publicado no portal que ele edita. Acompanhe:
#
“O Câmbio e a crise dos jornalões
Nos próximos dias haverá nova rodada de demissões nos principais jornais brasileiros – especialmente Estadão e Folha.
Em outros momentos, as demissões resultaram de erros estratégicos para se adaptar às novas tecnologias. Deste vez, é câmbio na veia.
Os problemas da mídia com o câmbio explicam bem porque ela – ao lado do mercado financeiro – tornou-se o principal obstáculo a um câmbio competitivo, que preservasse a vitalidade da indústria instalada no país – nacional e estrangeira.
Vamos a um pequeno jogo de simulações, em cima de algumas correlações de preços. Imagine os seguintes dados:
1) De cada 100 de vendas avulsas e assinaturas, suponha que papel, responda por 30; gráfica por 10; distribuição por 5; pessoal por 40; outros por 10; restando um resultado operacional de 5. São números estimados superficialmente, importando mais a ordem de grandeza.
2) Supondo uma desvalorização cambial de 30%, o custo do papel subirá para 39% – mantidas as demais premissas – e o resultado operacional cairá de 5 para -4.
3) Para retomar o patamar anterior, será necessário um corte de 23% na folha, reduzindo-a para 31% do custo final. Ou então, aumentar em 16% a tiragem, sem levar em conta custos de campanha.
4) Ocorre que o cenário é cada vez mais de queda de tiragem. Cada 5% de queda de tiragem impacta em mais de 3% o resultado operacional, para um setor que opera com baixíssima margem de lucro. Reajuste cambial de 30% e queda de tiragem de 5% jogam o resultado operacional em quase -7%
Está-se falando de uma estrutura hipotética porque o resultado operacional de vendas avulsas e assinatura costuma ser bastante negativo – compensado pela receita publicitária.
Acontece que nos grandes centros a publicidade minguou, devido à crise que a própria grande mídia alimentou.
Não se atribua a crise a uma conspiração midiática. Ela é de quase exclusiva responsabilidade dos erros de política econômica do governo Dilma.
Mas desde 2010 a velha mídia vinha apostando insistentemente no pessimismo como arma política. Conseguiu comprometer o maior feito internacional do país, a Copa do Mundo, espalhando um terrorismo que afetou profundamente o fluxo de visitantes e a imagem do país no exterior.
Regozijou-se quando a Lava Jato paralisou e colocou em risco a cadeia produtiva do petróleo. Estimulou o movimento irracional do Ministério Público Federal de liquidar com as empresas, atacando qualquer tentativa de acordo que, punindo vigorosamente executivos e controladores, preservasse a atividade das companhias.
No amadorismo que marcou os grupos de mídia desde 2005, combateram qualquer forma de mudança nas regras de publicidade, que permitisse a travessia mais rápida para a era digital. E cerraram forças quando se revelou a cumplicidade criminosa entre a Editora Abril e a quadrilha de Carlinhos Cachoeira.
Com esse movimento, beneficiaram exclusivamente o elo mais forte, as Organizações Globo, que ampliaram cada vez mais sua fatia no bolo publicitário nacional.
A própria Globo irá sofrer pesadamente com o câmbio. E, à medida em que a Smart TV (TV por Internet nos modernos aparelhos de TV) for se ampliando, será o fim da TV aberta e dos grupos familiares de mídia.”
PARA LER A ÍNTEGRA, NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.
Nassif andou lendo O Capital de novo e saiu com um monte de continhas bobas. Conforme a empresa corta os 23% do pessoal para manter o resultado, vai recontratando menos gente para repor e, óbvio, com salário menor. A despesa com pessoal cai, os 40% diminuem. A crise pode ser grave, mas não vai ser assim para sempre, não a ponto de fazer todas as empresas de mídia quebrarem. A verba publicitária acaba voltando menor. A do governo para o pessoal chapa branca nem vai faltar e talvez aumente.
Papel de menor custo era importado para desgraça dos fabricantes brasileiros (em termos, papel fabricado aqui por multinacionais). Este efeito não afeta só a imprensa, outros setores irão sofrer.
O objetivo da coluna é obviamente, atacar a imprensa não chapa branca. Ministério do Turismo divulgou números sobre a Copa, esperava 600 mil turistas estrangeiros e vieram mais de um milhão.
A pérola é não atribuir a crise a uma conspiração midiática e logo em seguida afirmar que houve aposta no pessimismo afetando os resultados economicos da copa.
Em seguida fala em "regozijo" como se este tivesse algum resultado prático. E mais uma pérola: defende a impunidade das empresas e chama o MP de irracional por defender o que a lei manda.
Finalmente, mais um exemplo de bom jornalismo. Omite que as empresas da Lava a Jato poderão continuar a executar os contratos em vigor, só não poderão (se condenadas) assinar outros. Foi o que aconteceu com a Delta, empresa blindada pelo governo na CPI do Cachoeira.
E a internet/smartv? Alguém lembra do Plano Nacional de Banda Larga de 2010? Massificar o acesso na velocidade de 1 Mega? Criação da nova Telebrás?
Só falta lançarem o programa Mais Marketing.
No mais, o jornal O Sul anunciou o fim da edição impressa.