Uma religiosa, da mesma congregação da Irmã Lourdes Dill, foi vítima de assassinato quando atuava em favor dos mais pobres em Eldorado do Carajás, uma zona ainda hoje conflagrada no norte do País. O crime faz 30 anos nesta terça-feira e vale conferir o texto-homenagem à irmã Adelaide Molinari, assinado pela coordenadora do Projeto Esperança/Cooesperança. A seguir:
“Martírio de Irmã Adelaide Molinari – 30 anos
No dia 14 de abril de 2015 completam-se trinta anos do Martírio da Irmã Adelaide Molinari, Filha do Amor Divino. Nascida em 02 de fevereiro de 1938 em Garibaldi/RS numa família de Imigrantes Italianos. Ela foi uma das três Filhas do Amor Divino da Província Nossa Senhora da Anunciação com sede em Santa Maria/RS, que integrou a primeira Comunidade no Pará, cujo envio Missionário se deu no dia 13/02/1983 em Santo Ângelo/RS, por Dom Estanislau Kreutz, Diocese/irmã de Marabá-Pará.
A partir de 16/03/1983, Irmã Adelaide, com prestimosidade e dedicação acolheu em seu generoso coração o povo de Eldorado dos Carajás-Pará, ou seja do Km 02, PA 275. No dia 14 de abril de 1985, as Irmãs da Comunidade de Curionópolis – Pará, levantaram muito cedo, como de costume e cada uma se dirigia para a Missão na Comunidade que cada uma havia assumido no planejamento comunitário, daquele ano.
Irmã Adelaide se despediu das suas coirmãs, comprou a passagem e tomou o ônibus indo para Eldorado dos Carájas, numa distância de 28 km, onde se reuniu com o povo para a celebração da Palavra, pois no domingo, dia do Senhor, era o 2º domingo do tempo Pascal.
O povo era muito pobre, simples, humilde, sofrido, mas de uma Fé profunda e de um cultivo permanente dos seus compromissos cristãos, assumidos no Batismo. Após a celebração da Palavra, ela permaneceu no local até a tardinha, orientando as famílias, para o casamento, batizado, catequese, grupo de jovens e CEBs. Foi um dia de intensa Evangelização, Oração, Orientação e convivência fraterna.
Estas foram as suas últimas atividades apostólicas realizadas com um grande objetivo evangelizador: unir as famílias, fortalecê-las na Fé, animá-las como cristãos batizados. Em sua missão Irmã Adelaide sempre revelou total dedicação e compromisso com os pobres, jovens, crianças, marginalizados, doentes, idosos, excluídos, indígenas, entre outros.
Os que a sociedade descartava, eram os seus preferidos. Neste contexto, e no encontro com o povo pobre, simples e humilde, não imaginando que seria o seu último encontro evangelizador com esta comunidade, ela concluiu o encontro com a oração final, despediu-se do povo e foi até a Rodoviária de Eldorado do Sul, comprou a sua passagem para voltar a Curionópolis.
Neste local na Rodoviária, Irmã Adelaide encontrou o jovem amigo e o Sindicalista, lutador do povo, Arnaldo Dalcídio Ferreira o qual defendia o direito à terra, envolvendo intensos conflitos agrários na região do sul do Pará. Dialogavam sobre o assunto , para ver a melhor forma de ajudar aquele povo simples, humilde e sofrido que era parte de sua missão. Ninguém imaginava que este era o seu último dia de vida.
O senhor Arnaldo nesse momento foi vítima do trama do atentado. O tiro que fez a bala de revólver atravessar o tórax do líder sindical, e o tiro foi mortal para Irmã Adelaide, atingindo-a na sua principal artéria do pescoço, por onde jorrou todo o seu sangue, a que levou à morte fatal. Ela não precisou gritar, sua voz era mansa e suave que foi se acabando até o seu último respiro de sua preciosa existência.
Mas o estampido do revólver que lhe tirou a vida e deixou gravemente ferido o sindicalista, pai de família, que já havia atravessado fronteiras de norte ao sul, de leste, a oeste do Brasil, fazendo se ouvir em vários países do mundo.
Irmã Adelaide, ao ver o assassino desenrolar o pacote que tinha em suas mãos, o revólver, exclamou : “Meu irmão, não faça isso”, e nisto o infeliz disparou a arma, cujo tiro foi mortal para ela, e depois de atravessar o pescoço do sindicalista, que não morreu.
Durante estes 30 anos que lembra o Martírio desta saudosa e inesquecível Irmã Filha do Amor Divino, Irmã querida de nossa Congregação, o povo da região do Pará junto com as Irmãs e a Diocese, fazem a cada ano as caminhadas de Irmã Adelaide. S
ão 30 anos de caminhadas orantes, celebrativas e que clamam por Paz e Justiça Social . A 30ª edição da caminhada, acontecerá nos dias 11 e 12 de abril de 2015, em Eldorado dos Carajás, rumo à Curionópolis, até sua sepultura. Que este Martírio de Irmã Adelaide, fruto da Fé, seja um clamor por Justiça, Paz e uma Reforma Agrária tão esperada em todo o nosso imenso Brasil. “ Irmã Adelaide, teu sangue de mártir que banhou o chão, nos mostra o caminho da Libertação”.
Rezemos com a Irmã Adelaide a última Oração que ela fez com a Comunidade no dia 14/04/1985, antes de sua morte:.
“Escuta, ó Pai, a nossa Prece.
Teu Filho Jesus venceu a morte e continua vivo no meio das comunidades cristãs. Que também nós possamos ser fortes , como ELE.
Que ninguém fuja da luta, nem mesmo com ameaça de morte.
Que saibamos ficar atentos às necessidades da comunidade.
Que de hoje em diante ninguém mais fique sofrendo desamparado.
Alimenta, ó Pai, a nossa Fé para que não te neguemos em nossa ação.
Por Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, na unidade do Espírito Santo. Amém”.
“Irmã Adelaide é Mártir da Justiça” (João Paulo II a Dom Alano Pena- 14/05/1985)
Irmã Lourdes Dill, Filha do Amor Divino
Coordenadora do Projeto Esperança/Cooesperança”
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