Navegar é preciso – por Antonio Candido Ribeiro
Pois é, o mundo gira, junho se veste de verão, o Vento Norte, como um lobo que se perdeu da alcatéia (escrevi com acento para que mais facilmente meus três ou quatro amados leitores, se estiverem distraídos, possam logo entender a ideia – esta, infelizmente, sem acento), uiva fora do tempo. E a vida passa. Só não passam as velhas novas notícias: identifica-se aqui mais um corrupto e acolá outro corruptor. Aponta-se mais um parlamentar que achaca seus servidores, que pensa que o Erário é seu cofre particular, que zomba da decência, que manda para as cucuias o respeito mínimo por princípios éticos comezinhos, que, enfim, manda às favas (ainda se usa mandar “às favas”?) os valores republicanos.
Pois é, o mundo roda, junho se transverte em janeiro, a vida se colore em briques pela rara e bela Vila Belga desta bela e maltratada terra de Imembuy (que, de conto indígena de Cezimbra Jacques, virou lenda na pena de João Belém) e passa nos olhando meio de soslaio, meio de revesgueio, como diria um gaudério, deixando transparecer que ela própria não acredita no que está vendo e que sabe ser resultado de sua ação sobre tudo que nos cerca.
Só não passam as velhas novas notícias. Serão todas elas, as velhas novas notícias, verdadeiras? Ou elas estão aí para embotar nossas mentes desprevenidas e disponíveis para aceitação do que nos é vendido como verdade?
Serão verdadeiros todos os melindres que pululam pelas redes sociais, nascidos, não raras vezes, de palavras, frases e imagens mal colocadas, descontextualizadas ou simplesmente mal interpretadas? Talvez, sim, provavelmente sim, pois as pessoas têm pressa e não se dispõem à mínima investigação sobre o que acontece em nossa volta e saem por aí, discursando pela vida, como se discursar fosse necessidade ou obrigação.
Sei lá, soubesse não estaria aqui divagando sobre o sexo dos anjos!
O fato é que tudo me parece meio fora do lugar. Constroem-se realidades que não passam devaneios. Criam-se problemas onde problemas não há, o que me faz lembrar de uma peça teatral lá do início da década de setenta do século passado, de autoria de João Bethencourt, cujo título é “Onde não houver um inimigo urge criar um”.
Em síntese, parece que andamos em círculos. Parece que, no vazio, tateamos às cegas, que navegamos sem rumo entre brumas em busca de um improvável porto seguro. Bueno, de qualquer forma, como ensinou Pessoa, recuperando a frase do general romano Pompeu, “Navegar é preciso, viver não é preciso”.
De fato, nihil novi sub sole. E que se lasquem os ditongos abertos, porque o acordo ortográfico, até prova em contrário, foi outra empulhação e muita gente ganhou dinheiro. Mais ou menos como a tomada.
Como não poderia deixar de ser, mais um anúncio bombástico em BSB. 70 bilhões até 2018. 130 bilhões de 2018 em diante. 70 a 90% de grana do BNDES (ou seja, dívida e juros). Provavelmente as empreiteiras de sempre. Uma obra faraônica, ferrovia bioceanica, com dinheiro chines.
Saúde, educação, segurança? Nenhuma notícia nova também.
Pessoa gostava de andar bem vestido e fugir dos cobradores de fraque vermelho. Feliz era ele, nós temos que aguentar o nosso dinheiro ser mal gasto pelos "de vermelho".