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O que nos seduz – por Liliana de Oliveira

“O lugar mais erótico do corpo não é lá onde o vestuário se entreabre? Na perversão (que é o regime do prazer textual) não há “zonas erógenas” (expressão aliás bastante importuna); é a intermitência, como o disse muito bem a psicanálise, que é erótica: a da pele que cintila entre duas peças (as calças e a malha), entre duas bordas (a camisa entreaberta, a luva e a manga); é essa cintilação mesma que seduz, ou ainda: a encenação de um aparecimento-desaparecimento”.

Assim, Roland Barthes no seu livro O Prazer do Texto escreve sobre o texto de prazer. Mas o que seria o texto de prazer? Seria o texto de prazer aquele que ao ler penso: é isso para mim!? Segundo Barthes o “para mim” não é nem subjetivo, nem existencial, mas nietzschiano (“no fundo, é sempre a mesma questão: o que é que é para mim?…”). Leio, releio e penso que o prazer do texto, assim como o prazer de um filme, assim como o prazer sexual e tantos outros prazeres dependem sempre de mim. Não é o outro que me é necessário, mas a ocasião, o espaço, a possibilidade de uma dialética do desejo. Segundo Barthes, “a possibilidade de uma dialética do desejo, de uma imprevisão do desfrute: que os dados não estejam lançados, que haja um jogo”.

A encenação de um aparecimento-desaparecimento seduz muito mais do que aquilo que tudo mostra. Sempre gostei daquilo que se insinua, daquilo que não é explícito, daquilo que não é vulgar. Sempre gostei de imaginar aquilo que se insinua e que não se mostra. Sempre achei mais sexy o vestido que insinua, do que aquele que não me dá a possibilidade de imaginar aquilo que não vejo.

Do mesmo modo, na literatura, no cinema, na música, gosto das entrelinhas e das sutilezas. Gosto de finais abertos que me permitem dar ao filme ou ao livro o fim que eu julgar apropriado. Então, sempre que gosto de algo ou de alguém isso tem muito mais a ver comigo do que com o outro? Minhas escolhas literárias, amorosas, musicais, dizem muito sobre mim? Penso que sim.

Por isso, um livro ou um filme me mordem no começo ou não me mordem mais. Preciso que a trilha sonora, as falas, o vestuário, a fotografia, o texto, provoquem uma excitação, arranquem um pedaço de carne, caso contrário, será um filme ou um texto frígido. Descarto frigidez. Dispenso finais felizes. Abro mão do controle e da previsibilidade. Me arrisco a jogar e a viver a imprevisão do desfrute. Afinal, nada mais lindo na vida como na arte do que não sabermos o final da história.

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