O professor Daniel Aarão Reis, da Universidade Federal Fluminense, produziu uma carta aberta pouco antes do início de mais um movimento grevista nas instituições federais. Embora todo seu histórico de lutas, inclusive contra a ditadura, o educador de 69 anos, recebeu enxurrada de críticas dos paredistas. Especialmente por dizer que “as greves de hoje mais prejudicam que ajudam”. Suas posições, aliás, foram reafirmadas em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, neste sábado.
Pois é exatamente sobre o que fala Aarão Reis que reflete um outro professor. Este de Santa Maria, e também com um histórico de lutas pelos direitos da categoria, mas que descrê do sindicalismo como é praticado hoje. Trata-se de Ronai Pires da Rocha, que mantém um blogue “Coisas do Campo” (AQUI). É nele que publicou, neste final de semana, mais um texto crítico, comentando exatamente o material de seu colega fluminense. Vale ler, nem que seja para discordar – o que não é o caso deste editor. A seguir:
“Sobre os trilhos que se afastaram
Ineficazes, antiéticas, injustas e ilegítimas, eis o que as greves da Andes são, segundo o professor na Federal Fluminense: ineficazes, pois o que ocorre é um esvaziamento da universidade, antiéticas porque acobertam férias extras e remuneradas; injustas e ilegítimas porque atingem somente o ensino de graduação e são greves deflagradas por pequenas assembléias. O sindicalismo andeano extraviou-se, distanciou-se de suas bases.
Se num trilho a universidade federal tornou-se mais complexa e incorporou a pós-graduação na sua própria medula – coisa que não existia nos anos oitenta -, em outro trilho o sindicalismo andeano, agarrado à bandeiras de fundo político-social que dizem muito pouco ao sindicalizado, distanciou-se daquilo que hoje é uma universidade federal, com todos os seus problemas. Os dois caminhos se afastam cada vez mais, para azar de quem não quer ver isso.
O entendimento generalizado da comunidade universitária é que a grande maioria dos problemas que temos devem ser resolvidos andando, e não parando.
Mas o sindicato não consegue entender isso. Quer parar as universidades, ou ao menos fazer de conta que elas param.
A unica possibilidade de recuperação da legitimidade do nosso sindicalismo é que ele volte a ter um mínimo de princípio de realidade. E isso somente será obtido se ele passar a ouvir a maioria dos professores, que fazem a universidade andar no dia a dia, apesar de seus problemas. Parar a cada dois, três anos é visto hoje como choradeira. Acho que não é por acaso que nas assembléias quem defende a greve tem que gritar. É quase um choro…”
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Problema é um só: política partidária entrou onde não deveria entrar, não só nas universidades.