O Golpe final (?) de Cunha – por Bruno Seligman de Menezes
A figura emblemática de Eduardo Cunha parece estar com os dias contados após a denúncia do Ministério Público Federal. Entretanto, o seu legado de estragos, desmandos e negociatas produzirá seus nefastos efeitos sobre toda a sociedade brasileira.
Capitaneando uma tropa de deputados insignificantes, associado a alguns deputados oposicionistas irresponsáveis que permitem as tresloucadas ações de Cunha para atingirem o governo, temas extremamente relevantes à nossa democracia vêm sendo decididos na Câmara dos Deputados conforme a agenda de seu presidente. Assim ocorreu com uma reforma política à la carte, para manter o financiamento de campanhas por empresas privadas, como também ocorreu com a redução da maioridade penal.
Muito embora contasse com um apoio massivo da opinião pública, diversos organismos nacionais e internacionais, tanto os que lidam com a questão criminal como os que se debruçam sobre a questão infanto-juvenil, posicionaram-se de forma categoricamente contrária à aprovação da Proposta de Emenda Constitucional.
Nada foi suficiente para o ímpeto de Cunha que levou à votação um projeto que reduzia a maioridade penal de maneira irrestrita, para todos os crimes. Surpreendentemente, não obteve o quórum qualificado para emendas constitucionais. Durante toda a madrugada e parte do dia seguinte, o Presidente da Câmara articulou emendas à proposta e apoios, sendo que em menos de 24 horas foi votado um novo projeto, de duvidosa legalidade, contando com a mudança de posicionamento de aproximadamente 20 parlamentares.
É este o Brasil de Cunha. Cunha, como Collor, Renan, Sarney e tantos outros, não tem uma causa ou uma bandeira para lutar. Estão lá em causa própria, em benefício pessoal. São pessoas que se servem do público para alçarem voos privados. Ainda assim, acabarão não caindo (como Renan e Sarney), ou voltando (como Collor), por terem por trás de si um denso apoio econômico, midiático e popular (no caso de Cunha, religioso).
É certo que essa grande cruzada contra a corrupção é inédita em nosso país. Se servirá de algo para mudar a mentalidade política (pelo menos incutir o medo de ser pego), não tenho muita confiança. Sequer sei se a aprovação em dois turnos da redução da maioridade penal foi realmente o golpe final de Cunha. A única coisa que não tenho dúvidas é que foi um golpe, porque nisto ele é craque.
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