Bud, os porcos e Gisele – por Liliana de Oliveira
Dia 28 de agosto a história de um cachorro choca a cidade de Santa Maria. O cachorro foi queimado vivo e foi transferido para o Hospital Veterinário da Universidade Federal da cidade. Bud, como o cão é chamado, estava sendo tratado em uma clínica do município da Região Central do Rio Grande do Sul, e apresentou piora no quadro de saúde.
A cidade comovida se mobilizou, arrecadou dinheiro, ração, remédio e arrecadou tanto que a veterinária responsável recentemente anunciou que não seria mais preciso enviar doações. Na tv, nas redes sociais só se falava nisso. Nas redes sociais algumas pessoas clamando por justiça divina e outros cidadãos de bem desejando que se fizesse o mesmo com o possível responsável pelas queimaduras no cachorro. Pobre Bud!
No dia 25 de agosto uma carreta tombou no Rodoanel em São Paulo. A carreta transportava porcos vivos. Alguns morreram no tombamento e os demais foram resgatados com vida. Alguns ativistas, outros veterinários e outros cidadãos de bem resgataram os porcos. Os ativistas criaram um projeto de crowdfunding para ajudar a financiar alimento, medicamentos e o abrigo para os animais resgatados. Ativistas criaram “vaquinha online para porcos do Rodoanel”. O objetivo era reunir R$ 50 mil, mas quando o valor estava próximo de ser alcançado, aumentou para R$ 200 mil e depois já estava em R$ 300 mil. Pobres porcos!
No dia 2 de agosto na cidade de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, Gisele Santos resolveu dar fim ao seu relacionamento com Élton Jones Luz de Freitas. Foi espancada pelo namorado e teve as mãos e os pés decepados por um facão. Gisele ficou quatro dias internada na UTI do Hospital, passou por cirurgias para reimplantar os pés, mas, as mãos não puderam ser reimplantadas. A família mudará de cidade por medo de que Freitas seja solto.
Os amigos criaram um grupo no Facebook, batizado “Amigos do Serginho – Corrente do Bem”, no qual pedem doações de fraldas e lenços umedecidos, além de quantias em dinheiro para tentar comprar próteses. Os amigos também criaram uma vaquinha online #VamosdarasmãosaGisele para arrecadar fundos para pagar as altas contas médicas, próteses, medicamentos. Diferente dos porcos e de Bud, a campanha para arrecadar fundos para Gisele está muito longe de alcançar seu objetivo. Pobre Gisele!
Com certeza um sentimento não exclui o outro. Mas leu-se severas críticas aos que socorreram animais, como se fossem insensíveis às tragédias humanas. Temi que teu texto fosse mais uma crítica do que uma reflexão.
É trágico como vive confortavelmente anestesiada a sensibilidade humana. Um centro sadio e coeso de bom senso parece uma anormalidade consumida no egoísmo letárgico. Sensibilidade existe, mas difusa em perspectivas pouco pragmáticas.
Dulcineia, meu texto sugere pararmos e refletirmos sobre o comportamento humano na contemporaneidade. Doar aos animais e se sensibilizar com o sofrimento deles é fundamental, tanto que trabalho com bioética e a defesa dos direitos dos animais, mas isso não pode nos afastar da nossa humanidade. Não podemos nos sensibilizar com bicho e não nos sensibilizar com gente. Podemos e devemos ampliar nossa sensibilidade de tal modo que possamos colaborar e contribuir com pessoas e animais.
Quem critica aos que doaram aos animais, sabe se estes também não doam a causas humanas? Quem critica aos que doaram aos animais, fez doação à Gisele? Quem critica os que doaram aos animais sabe que ativistas/veganos/vegetarianos fazem refeições e distribuem a pessoas em situação de rua???