Quem são esses pais acusados? – por Luiz Alberto Cassol

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Como explicar que pais que perderem seu filhos por erros de outros seres humanos, agora, são tachados de culpados por algo?

Se tu estás chegando agora, saibas que três pais de vítimas da tragédia de Santa Maria foram chamados para depor como se fossem culpados de algo. Quando o que almejam é saber o que ocorreu.

Chega de meio termo.

Que culpa tem esses pais?

Vamos lá. Frases que não calam! Culpados são esses pais?

A culpa é defenderem seus jovens filhos que tiveram a vida apartada por um local que não deveria estar aberto. Um local chamado boate Kiss. Na data de 27 de janeiro de 2013?

Culpa de os próprios pais afirmarem que deve ser distinta a culpabilidade de quem deixou aquele local funcionando, em diferentes graus de responsabilidade?

Culpa de tentarem entender o que aconteceu?

Culpa por tentarem fazer dessa tragédia um exemplo para que outras não aconteçam?

Culpa por demandarem que outros pais não passem pelo mesmo que eles?

Culpa de não aceitarem simplesmente que o convívio com seus filhos foi aniquilado e que não há culpa?

Culpa de erguerem cartazes com os rostos de seus filhos?

Culpa de vestirem, com orgulho, camisetas com as faces de seus filhos em seus peitos, em seus corações?

Culpa por não entenderem como seus filhos entraram em uma boate para se divertir e tenham saído  sem vida?

Culpa por dizerem eu amo meu filho e vou buscar as causas de sua perda até o fim de minha vida?

Culpa por saberem que centenas de sobreviventes sofrem os males tóxicos que aquela madrugada lhes deixou de herança, e que agora esses mesmos pais auxiliam os sobreviventes?

Culpa por criarem ONGs para auxiliarem outras pessoas, a partir da tragédia, como legado de um trabalho que seus filhos já faziam?

Culpa por dizerem: vamos transformar Santa Maria na Capital da Prevenção?

Culpa por afirmarem com tamanha generosidade, em função da morte de seus filhos, que isso sirva de exemplo de prevenção?

Culpa por manterem a Tenda da Vigília onde rendem homenagens aos seus filhos e oferecem abraços afetuosos como contrapartida?

Culpa por serem pais e verbalizarem um direito da paternidade: onde está meu filho?

Culpa por gritarem pela vida de seus filhos?

Culpa, simplesmente, por serem pais?

Culpa, pela completa inversão de valores para com eles?

Culpa por todos aqueles que lhes prometeram ajuda e que, agora, lhes viram as costas?

Chega!

Ah! Esses pais que nunca se entregarão por um algo intangível: o amor incondicional!

Ah! Esses pais heróis que lutam dia a dia para saberem o que aconteceu!

Ah! Esses pais que se colocam na paternidade dos outros e dizem: isso não pode acontecer novamente.

Ah! Esses pais que realmente fazem do questionamento algo para que o futuro seja melhor.

Ah! Esses pais que incomodam a tantos por serem pais!  Por serem pais! Por serem pais!

Ah! Esses pais que estampam seriedade, sinceridade e humanidade!

Ah! Esses pais de todos nós!

Culpo-me eu por fazer parte de uma sociedade hipócrita e submissa que faz de conta que o que aconteceu não é com ela.

Culpo-me eu por tamanha injustiça por esses pais, familiares e esses sobreviventes.

Flávio, Paulo, Sérgio.

Vocês são heróis de uma sociedade que prefere se calar!

Vocês são para além do que são! E só vocês sabem o que são e o que representam!

Vocês representam a todos os pais, familiares e sobreviventes que simplesmente querem entender o que aconteceu e não se calam!

Pais é o que vocês são!