Contradição? PMDB é o maior partido e a sua fortaleza vem da aparente desorganização
O Partido do Movimento Democrático Brasileiro é o sucedâneo do MDB, a agremiação que combateu, no âmbito da legalidade, o regime militar autoritário instalado pela quartelada de 1964. E é forte, muito forte, em números, como você já leu nesta página (releia aqui) na semana passada. Mas é também o mais dividido entre todos os partidos brasileiros. Incapaz, inclusive, de bancar uma candidatura própria à Presidência da República, na eleição passada.
E agora vê-se envolto de novo numa disputa interna fraticida. Hein? Entre irmãos? E isso levará a quê? A mais divisão, provavelmente. E a brigas intestinas sem data para acabar. Isso é ruim, não? Não. Pelo menos não para quem, como as cientistas políticas Lúcia Avelar e Maria Inez Walter, da Universidade de Brasília (UnB), avalia a história e a vida do PMDB.
Mais que isso, elas afirmam, escudadas no próprio estudo, e também nos números que colheram em pesquisa para esse fim, que é da aparente desagregação que advém a fortaleza da agremiação diante do eleitorado brasileiro. É o trabalho delas, combinado com o pleito interno do PMDB, que opõem os que apóiam o atual presidente Michel Temer aos que defendem o desafiante Nelson Jobim, que se transforma em excelente reportagem que a revista Carta Capital está publicando em sua edição que está nas bancas.
No texto, assinado por Sérgio Lírio, a revista avalia o trabalho, ainda não concluído, das cientistas e as disputas internas do PMDB. E trazem mais números, a comprovar (ou não) a tese sobre o quanto é fortão o peemedebismo. Vale a pena conferir. A seguir:
A força política do PMDB está justamente em aparentar desagregação
Até o domingo 11, quando os delegados vão eleger o presidente pelos próximos dois anos, o PMDB vai se consumir em uma disputa interna que, vista de fora, dará a impressão de que a legenda caminha inexoravelmente para a ruptura entre as diversas correntes de poder. Qualquer chance de chapa única, a apontar uma histórica convergência de interesses, parece ter sido enterrada na terça-feira 27. Após um almoço no Palácio das Laranjeiras, sede do governo do Rio de Janeiro, patrocinado por Sérgio Cabral, cinco dos sete governadores do partido tentaram convencer o deputado Michel Temer, de São Paulo, a desistir da reeleição, em favor do gaúcho Nelson Jobim, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal.
Cabral acionou o viva-voz do telefone e, diante da platéia, fez a proposta. Temer abriria mão da candidatura. Em troca, seria unanimemente reconduzido ao cargo em 2009 e comandaria o partido durante as eleições presidenciais de 2010. O deputado, que contabiliza o apoio da maioria dos filiados com direito a voto na convenção do dia 11, rejeitou a oferta. Não posso inverter, afirmou. Os governadores, além de questões regionais, moviam-se por uma causa comum, a rejeição ao apoio do outsider Anthony Garotinho a Temer e os possíveis efeitos desse arranjo sobre o equilíbrio das forças internas. O ex-governador carioca, que ainda acalenta o sonho de ser ungido candidato à Presidência da República pelo partido, garantiu ao deputado paulista 69 dos 77 votos dos delegados cariocas, a despeito das pressões de Cabral.
O impasse, para muitos analistas políticos, é revelador da dispersão e da fragilidade do PMDB. Mas, ironicamente, é na caótica correlação de forças regionais que a legenda parece sustentar seu poder. Dos quatro maiores partidos do País, o velho MDB é o único a não enfrentar, explicitamente, uma crise de consciência. O PFL, agora Partido Democrata (PD), adotou a surrada tática de mudar de nome para ver se engana alguém e sobrevive às mudanças do perfil do eleitorado. O PSDB, bem a seu estilo, contratou uma consultoria para elaborar um novo programa. O PT, apesar da reeleição de Lula, ainda vive o dilema sobre a necessidade de uma autocrítica e de uma refundação, como sugerem algumas correntes. Só o PMDB se mostra contente, ou no mínimo confortável, com o estado das coisas.
Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e um estudo, ainda em fase de conclusão, das cientistas políticas Lúcia Avelar e Maria Inez Walter, da Universidade de Brasília (UnB), auxiliam na compreensão do poder do PMDB. Segundo o TSE, o partido continua a ter o maior número de filiados, 2,03 milhões. Em segundo vem o PP, com 1,2 milhão.
Já o trabalho das pesquisadoras detalha outras informações do tribunal. A legenda comanda 19% dos 5.577 municípios e influi diretamente na vida de mais de 25 milhões de brasileiros. Ao lado do ex-PFL, o PMDB pode ser definido como um partido dos grotões. Juntas, as duas agremiações comandam a maioria das cidades com até 20 mil habitantes e com os piores indicadores de desenvolvimento social. Detalhe: 71% dos municípios têm, no máximo, 20 mil moradores. É uma conseqüência do bipartidarismo dos tempos da ditadura. Herdeiros diretos da Arena e do MDB, ambos os partidos, únicos autorizados a operar na legalidade sob os militares, espalharam os tentáculos por toda a Federação. É uma influência que, mesmo abalada nos últimos anos, criou raízes profundas na política nativa.
Qual a importância de dominar as prefeituras? Segundo Lúcia Avelar, o poder local garante a eleição de uma numerosa bancada federal. O PMDB, de fato, agrega na atual legislatura o maior número de senadores (20) e deputados (91). Fundamental para a formação de maioria no Congresso e para a chamada governabilidade, o partido negocia apoios em troca de cargos e mantém uma influência arraigada na máquina estatal, reforçada no período em que José Sarney presidiu o País.
Tenho dúvidas se interessa realmente ao PMDB lançar uma candidatura própria. Na situação atual, ele fica só com os bônus do exercício do poder, analisa a pesquisadora. É um partido com uma vida longa pela frente.
O levantamento da UnB indica, porém, mudanças no horizonte que talvez expliquem as atuais promessas de unidade do partido em um provável governo de coalização com o PT, ainda que a disputa entre Temer e Jobim revele o grau de superficialidade da proposição. Se a Lula é fundamental contar com a força do PMDB para alcançar uma estabilidade no Congresso, à legenda outrora comandada por Ulysses Guimarães interessa vincular-se aos programas sociais e torcer pelo sucesso do Programa de Aceleração do Crescimento.
Por quê? Pelos prováveis ganhos eleitorais. Entre as eleições municipais de 2000 e 2004, quem mais conquistou prefeituras, em termos porcentuais, foi o PT. Saltou de 3,4% para 7,4%. Em segundo ficou o PL, que indicou José Alencar à Vice-Presidência na chapa de Lula em 2002. Passou de 4,2% para 6,9%. O avanço do PT e do PL deu-se sobre a base do PMDB, que não ocupou ministérios nos dois primeiros anos do mandato petista. Em 2000, os peemedebistas tinham 22,6% dos prefeitos e passaram a 19% quatro anos mais tarde. O PFL, oposicionista, também sofreu. O número de municípios administrados pelo atual PD caiu de 18,5% para 14,2%.
São estatísticas da real politik facilmente traduzíveis em propósitos mais…
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