A praça, sua poesia e encanto – por Luiz Carlos Nascimento da Rosa
Uma praça não se constitui, apenas, em um lindo ponto verde cravado num imenso mundo inorgânico de concreto no espaço urbano de uma cidade. A praça expressa uma concepção de vida e de mundo de seus cidadãos e de suas autoridades públicas. A praça manifesta, de forma natural e produzida pelo trabalho humano, uma concepção estética. A criatividade e o belo, como um todo, formam, em uma cidade, com a praça a uma síntese de processos criativos que circunscrevem o maravilhoso mundo da arte.
Para os gregos, na antiguidade clássica, a praça era um lugar de grandes momentos de convivência e o espaço público de reflexões, debates e tomadas de decisões sobre os destinos políticos da polis. Na praça grega os sofistas com suas retóricas buscavam o convencimento e, de forma intensa, debatiam e enfrentavam os dialéticos.
Os sofistas continuam espalhados, até hoje, por esse mundão afora querendo afirmar suas “verdades” através da retórica, que a bem da verdade são argumentos meramente convincentes. Os dialéticos são minorias, mas sujeitos de reflexão que respeitam o processo dialógico como uma das formas de produção de uma vida coletiva, mais generosa e digna.
Voltando à praça. Lindo era o nome desse lugar público e de debates dos gregos. Para eles esse espaço era denominado de Ágora. As nossas praças, além de se constituir em um lindo espaço verde, lugar de passagem, lugar de estada e passeio de pessoas, funcionam como uma caixa de reverberação do agito e barulho das pessoas circulando. As árvores de todos os tamanhos, que formam as praças, no imenso vazio da noite, armazenam sussurros de aleatórios transeuntes e declarações de amor de apaixonados amantes.
A praça Saldanha Marinho, em Santa Maria, com suas formosas árvores, é um lugar de estar, de ligação e de travessia, pois forma um amálgama e elo do ser humano com sua natureza e o centro nevrálgico da urbanidade de nossa querida e singular “Boca do Monte”. A Saldanha Marinho é um lócus de mobilização e criação cultural. Em maio, nossa praça, na feira do livro, reúne autores, leitores e o belo e encantado mundo das páginas de livros. A poesia flana livremente e majestosa, em maio, na lindinha e aprazível praça.
Além de nossa praça ficar em frente ao Teatro Treze de Maio, lá ocorrem shows de música e apresentações teatrais o ano todo. Sem falar na beleza que fica a nossa praça em tempos de natal com suas luzinhas clamando para as pessoas buscarem e emanciparem, em seu íntimo, seu cantinho da afetividade e amor.
Em Tupanciretã, minha terra natal, a praça Coronel Lima está encravada em minha memória afetiva, pois lá nos reuníamos, brincávamos e projetávamos nosso futuro em tardes ensolaradas de domingo. Caso queira saber das novidades e das notícias, boas e más, da polis tupanciretanense vá ao ponto de táxi do camarada chamado de “Sombra”. O dia todo tu verás um “clube do bolinha” reunido na praça e tecendo comentários sobre a vida de nossos conterrâneos.
É deslumbrantemente linda a nossa Praça Coronel Lima. Foi no Grupo Escolar Joaquim Nabuco, em frente essa praça, que dei meus primeiros passos pelo mundo maravilhoso do saber. Estes saberes e fazeres, apreendidos na escola e na praça, é que me orientaram e iluminaram meu caminho para a possibilidade da construção de idéias através da escrita.
Em mornas e estreladas noites de verão, depois de estudar matemática, de forma faceira brincávamos e, sob a luz Lívia da lua e brilho de um céu estelar, alimentávamos, de forma romântica, nossas singelas formas de saudáveis e propulsores amores adolescentes. Tenho uma relação umbilical e ontológica com o mundo encantado da praça. Seu verde, o estar e a travessia dos transeuntes me causam perplexidade e encanto. O em si, seu entorno, a absorção do ruído urbano e o sussurro dos amantes, na periferia e no interior da praça, se constituem num espaço material, sentimental e produção de líricas formas de manifestação poética.
Revitalizemos a Ágora grega e tornemos as nossas praças um fermento para a libertação do ser humano e sua contribuição efetiva para a produção de uma polis realmente bonita e democrática. Vivifiquemos as diferentes formas de amor e vamos contribuir para a conservação e aprimoramento de nossas praças e suas delicadas belezas estéticas. Há muita poesia na conjugação do humano, natural e pictórico que formam a praça.
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