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A química do amor – por Luiz Carlos Nascimento da Rosa/Professor/UFSM

luiz carlos

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Um dos maiores poeta da música popular brasileira, o alagoano Djavan, num lindo verso escreveu: “o amor é como um raio/galopando em desafio/abre fendas/cobre vales/revolta as águas do rio”. Escrever e cantar o amor, não é uma tarefa simples, pois podemos cair num clichê ou piegas. Mas penso que é um tema que, necessariamente, atravessa nossas vidas e a História do desenvolvimento do pensamento humano; portanto precisamos ter coragem de enfrentá-lo.

Poetas, romancistas, músicos, psicólogos e  psicanalistas têm dedicado, de forma séria e profunda, muito tempo de suas vidas, e em seus atos criativos, enfrentar essa temática com o intuito de elucida-lo e explicá-lo. Ou seja, numa primeira aproximação, podemos dizer que o amor deve ser tratado de forma multidisciplinar.

No primeiro semestre letivo de 2015, na disciplina de Didática da Química, um grupo de alunos desenvolveu e apresentou, para o contexto do ensino médio, uma aula que denominaram “A Química no Amor”. Esses alunos foram corajosos e criativos, e o processo desenvolvido envolveu, em debates e reflexões, toda a nossa turma.

Nós, Educadores em Química, temos consciência que não é nada fácil convencer nossos alunos e a sociedade que é imprescindível conhecer a Química para nos entendermos e compreendermos o mundo em que vivemos. Para a grande maioria de nossa população a química é “um bicho de sete cabeças”. Talvez a Química não seja esse bicho papão, mas a forma que nos relacionamos e ensinamos, em sala de aula, que seja o motivo da forma desamorosa que ela é tratada.

Aqui voltamos ao título de nossa crônica; até no mais sublime dos sentimentos humanos, o Amor, vê-se a mal tratada Química envolvida. Na Mitologia grega o belo e formoso Eros é o Deus que representa e é responsável, no Olimpo, pelas mágicas e formidáveis coisas que dizem respeito ao ato amoroso.

Neste contexto, a flecha de Eros é o instrumento que, quando atinge o ser humano, desencadeia e carreia sua vida para o campo do sentimento que denominamos Amor. Na nossa aula, na Didática, chegamos a uma conclusão que são um conjunto de substâncias químicas que, em substituição a mágica flecha de Eros, que mobilizam e envolvem não o coração, mas o cérebro, de homens e mulheres, para a complexa e sedutora vida amorosa.

Os hormônios transmitidos pelos neurotransmissores é que produzem a explosão de reações em nosso cérebro, e nos levam ao envolvimento amoroso com os outros. Quem já não sentiu o sagrado friozinho na barriga quando se deparou com o Ser do outro que, num primeiro impulso, poderia se transformar na desejada e amada “cara metade”?

Coitado de quem não passou por essa experiência, pois essa explosão é uma demonstração clara de que estamos vivos e damos primazia ao sagrado ato de amor. Sentir um aroma floral, ver uma roupinha específica e ver mobilizado sua memória afetiva é o resultado de um desencadeamento químico que esta cravado em nosso cérebro as coisas de vivencias das coisas do mundo do grande sagrado Eros.

É a Eniletamina que está, quimicamente, trabalhando em nosso templo do amor chamado corpo. A dopamina, um neurotransmissor, contribui, de forma brilhante, para o sentimento de alegria que potencializa nosso estado de felicidade. Substância que é responsável por descargas que nos encaminham para o “sacro” mundo humano de generosas emoções.

A oxitocina e vasopressina produzem a sensação de segurança dos laços afetivos no amor romântico e no amor da mãe com seu rebento. Surgem nas contrações uterinas do parto e na descida do leite para a indispensável amamentação. Sem falar que esse hormônio é eliminado durante o orgasmo e vai gerar grandes laços emocionais.

Aqui, podemos dizer que a Química nos ensina o quanto é bom, necessário fazermos amor. Quanto mais se faz amor e quanto mais se tem orgasmo, mais oxicitocina e vasopressina se mobilizam, e a partir desse maravilhoso processo mais somos capazes de aprofundar nossos laços afetivos.

A bendita serotonina é um neurotransmissor que está ligado à fixação em nosso objeto de desejo e paixão. Baixa produção de serotonina pode causar mau humor, cansaço, sonolência, falta de paciência e distúrbios de memória e de concentração. Mau humorados desse pragmático mundo cuidem de suas taxas de seretonina e portanto, façam amor e amem muito!

Falemos da testosterona e do estrogênio. Porta de entrada do prazer, do sentimento amoroso e do desejo. São hormônios sexuais que se iniciam na adolescência quando dão início à circulação em nosso organismo. A testosterona é um hormônio masculino e o estrogênio é produzido pelas mulheres.

Perdoem-me os puritanos, falsos moralistas e reacionários fundamentalistas, mas essa explosão química em nosso corpo não diferencia cor ou sexo. Quando desejamos e amamos eles explodem e pronto. Parafraseando o psicanalista francês, Jacques Lacan, eu diria que quando mais desejamos e mais conhecemos o desejo do outro, mais somos capazes ter o outro como nosso objeto de desejo.

A ordem da vida, para a felicidade e sanidade, é desejar e amar. Deixe a Química se movimentar em sua vida e tenha prazeres na vida. Para encerrar, trago o romancista francês Albert Camus, quando declara: não ser amado é uma mera contingência da vida; a grande desgraça é não amar.

OBSERVAÇÃO: a imagem que ilustra esta nota é uma reprodução de internet.

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