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A vida, a arte e a farsa de Emmet Ray – por Bianca Zasso

biancaQuantos talentos se perderam por falta de registro? No mundo do jazz, um dos nomes mais significativos teve poucas canções registradas em disco e seu destino é incerto até pelos mais detalhistas pesquisadores. Sua vida pessoal errante parece ter atrapalhado o aproveitamento de seu potencial e impediu que ele ganhasse mais palcos, fãs e homenagens.

Seu nome, Emmet Ray, considerado por muitos (e por si mesmo!) o segundo melhor violinista do mundo, perdendo apenas para o cigano Django Reinhardt. Entre os entusiastas da obra de Emmet está o mais jazzista dos cineastas, o americano Woody Allen. Essas linhas iniciais são para confundir e não para explicar o tema de um dos filmes mais criativos do final da década de 90. Até porque, Emmet Ray nunca existiu. Pelo menos não no tão aclamado “mundo real”.

Poucas e boas é daquelas produções que só poderiam ter saído da mente inquieta de Woody Allen. Só ele conseguiria criar um falso documentário sobre um violinista que poderia ter marcado a história da música americana. Ele já havia experimentado o gênero em Zelig, onde incorpora um homem camaleônico que causa confusão por onde passa.

O que diferencia o filme de 1983 de Poucas e Boas é que Allen constrói uma trama que mistura depoimentos de supostos conhecedores da vida e da obra de Emmet com cenas ficcionais que ilustram as malucas histórias que envolvem o músico e os que o cercam. Sean Penn, o protagonista, não é Emmet, mas um ator interpretando Emmet. Isso colabora para que o público se identifique ainda mais com os personagens.

A ambientação nos anos 30, celebrada por uma direção de arte impecável, torna o filme ainda mais interessante. É uma mini cinebiografia bem ao gosto Hollywoodiano intercalada com falas ditas com tanta convicção, inclusive pelo próprio Allen, que é de se pensar se Emmet não esteve mesmo entre nós.

Poucas e boas não possuiu a intensidade que o diretor imprime em títulos como Crimes e Pecados, por exemplo, nem a comédia de diálogos certeira de Noivo neurótico, noiva nervosa. E esse parece ser seu grande trunfo. O tempero Allen está presente, mas numa medida mais moderada. O elenco está afiado, mas sem deixar de lado que ali estão atores interpretando retalhos da vida louca de um músico talentoso, egocêntrico e beberrão.

Dentro da filmografia surpreendente de Woody Allen, Poucas e Boas parece um filme onde ele apenas atua, ou talvez tenha dado alguns conselhos ao diretor. Ele está lá, mas faz de tudo para parecer que não está. Confuso? Não se apegue a explicações completas, prezado leitor. Todo amante de cinema adora um amor inventado. Ainda mais se for por Woody Allen.

Poucas e Boas (Sweet and Lowdown)

Ano: 1999

Direção: Woody Allen

Disponível em DVD, Blu-Ray e na plataforma Netflix

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