Retrospectiva 2015 - Perspectiva 2016

ALÔ, 2016! Bandas autorais irão se multiplicar em Santa Maria. Mas há outras boas novidades, também

Por ATÍLIO ALENCAR (texto e foto)

Geringonça, um dos acontecimentos de 2015, e que vai avançar 2016 adentro
Geringonça, um dos acontecimentos de 2015, e que vai avançar 2016 adentro

2015 foi um ano torto, pra dizer o mínimo. O governo reeleito abandonou o programa que o elegeu;  uma oposição tacanha, com os olhos grandes a mirar o trono, pôs-se a armar conchavos de quinta categoria; os escândalos envolvendo apropriação do erário atingiram a estratosfera das cifras; a grande mídia brasileira acabou com qualquer resquício de dúvida sobre suas aspirações sinistras e ausência de escrúpulos.

Até o Ministério da Cultura esteve ameaçado de extinção, não custa lembrar.

Mas 2015 também foi um ano bom – ou de coisas boas acontecendo em meio à crise. Em Santa Maria, apesar da já costumeira inércia administrativa e de um horizonte nulo de políticas públicas voltadas para a cultura, algumas iniciativas se destacaram em franca oposição à mesmice vazia dos gabinetes.

Mas digo isso sem intenção de fazer uma retrospectiva; pelo contrário, quero arriscar uns chutes para o 2016 que vem chegando. Começo com a música, a menina-dos-olhos da cultura santa-mariense. Mas já aviso que não são exercícios de futurologia: são só tentativas de imaginar alguns percursos lógicos, e também de se permitir um lapso de otimismo.

Então vamos lá:

* As bandas autorais vão se multiplicar pela cidade. Inspiradas em grupos que tem superado todas as dificuldades com espaço e falta de incentivo, e apesar das barreiras demonstrado amadurecimento artístico, novas formações vão enriquecer a fauna musical de Santa Maria. Uma geração que já desponta consciente do cenário pós-ilusório da indústria cultura, com disposição para fazer as coisas acontecerem;

* Festivais de pequeno e médio porte, a exemplo do que se viu esse ano, vão ocupar a cidade, ampliando o circuito para além dos espaços já consagrados do centro. Mais diversificados, mais inclusivos e com coragem de não fazer concessões ao assédio de políticos e empresários;

* No campo das grandes atrações, um público mais ciente dos seus direitos e dos padrões mínimos de qualidade vai comprar menos gato por lebre. Quer vender ingresso a preços altos em lugares chiques? Então, caro produtor, dê um jeito de garantir a satisfação dos pagantes. Ouvido não é penico. Acredito que com tanta reclamação em 2015, para o ano que vem isso muda (pra melhor).

* Gravar um disco em casa é uma realidade com a qual as bandas de 15 ou 20 anos atrás sequer ousavam sonhar. Com a proliferação e o barateamento das tecnologias de captação isso não só é possível, como recomendável. Muitos dos artistas que despontaram recentemente fizeram sua estreia com trabalhos caseiros – o que é quase um paralelo à proliferação das microcervejarias. Qualidade e autonomia são tópicos fundamentais. Em Santa Maria, certamente sentiremos cada vez mais os efeitos benéficos dessa tendência.

* Por fim: no circuito independente, Santa Maria já deu mostras que volta a pulsar como uma célula vital para a região. Esse movimento só há de crescer. Com o perfil cosmopolita da cidade, não há pretexto para isolamento cultural. Arte é relação, intercâmbio, fluxo de ideias e expressões. Que sejamos muito mais abertos para a livre circulação em 2016.

Meus singelos chutes para a música de Santa Maria em 2016 são basicamente esses. Espero, sinceramente, que se realize isso e muito mais na Boca do Monte.

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