Classe C: fim de um sonho – por Carlos Costabeber
Tenho insistido que ao contrário das regiões metropolitanas e industrializadas, Santa Maria ainda não apresenta um quadro recessivo, com uma certa manutenção nos índices de emprego. Afinal, a cidade é beneficiada pela entrada diária de 4 a 5 milhões de reais, provenientes da folha de pagamento dos órgãos públicos e militares. Só do Exército, são 10.000 contracheques (incluindo inativos) todos os meses, e a Universidade tem um orçamento de 1 bilhão de reais por ano, só com pessoal. Isso tem alimentado ao longo de muitos anos, um comércio pujante, e um forte segmento de prestações de serviços.
Um bom exemplo em Santa Maria, é a indústria da construção civil, que incrivelmente, está mantendo os investimentos em novas moradias; e por consequência, tendo um baixo nível de desemprego. Apesar das limitações na liberação de crédito bancário, a demanda continua aquecida, como se pode ver pelo números de edifícios que estão sendo construídos.
Desde o Plano Real, os brasileiros passaram a conviver com uma inflação baixa, favorecendo diretamente os assalariados. Estes, até então tinham seus rendimentos corroídos pela elevação descontrolada dos preços, e caminhando para o empobrecimento (as pessoas capitalizadas, ao contrário, estavam protegidas, ganhando justamente com as elevadas taxas das aplicações financeiras).
Assim, nos últimos 10 anos grande parte da população das classes D e E puderam subir de patamar, passando a usufruir das benesses oferecidas pela sociedade de consumo. O pleno emprego e o sistema de proteção social do Governo, foram fundamentais para que milhões de brasileiros obtivessem uma sensível melhoria no padrão de vida.
Só que a estratégia dos governos Lula e Dilma de promover o crescimento do país com base no estímulo à demanda interna, se revelou um erro macroeconômico, e que começou a ser pago justamente pelos brasileiros que ascenderam à Classe C. Com isso, apenas em 2015 a crise devolveu 4 milhões de pessoas às classes D e E (renda mensal entre R$ 995 a R$ 1.646 na D e até R$ 995 na E), com suas naturais consequências. Uma pena!
E para piorar, com o agravamento e o alongamento da crise, não está descartada a possibilidade de a classe C voltar a responder por menos de 50% da população brasileira (uma queda ao nível de 2010). Isso porque é sabido que nos períodos recessivos, quem paga a conta são as classes mais baixas. E não é por acaso que o Brasil fechou 2 milhões de empregos formais no ano passado, com a projeção de um milhão de novas demissões nesse ano.
E ainda temos que considerar. Para os próximos meses, uma devolução maciça de imóveis e automóveis financiados a pessoas que perderam condições financeiras. É só esperar para ver, a crise ainda está por vir. Que Deus nos livre.