EMBLEMA. A poucos dias de se completarem 3 anos da tragédia da Kiss, bombeiros atuam a “meia boca”
O material a seguir, que serve sobretudo para a devida reflexão acerca das condições em que está a corporação dos bombeiros, foi publicado originalmente nesta quarta-feira, pelo jornal A Razão. E a poucos dias de serem lembrados os três anos do incêndio da boate Kiss, em decorrência do qual morreram 242 meninos e meninas. Acompanhe:
Por TIAGO BALTZ (texto) e GABRIEL HAESBAERT (foto)
“Nove bombeiros para atender toda Santa Maria…
… Daqui a sete dias completa-se três anos da maior tragédia de Santa Maria, o incêndio da boate Kiss, que vitimou mortalmente 242 pessoas. Em uma cidade em que uma tragédia dessa proporção ocorreu imagine-se que três anos depois ao menos o seu Corpo de Bombeiros esteja com mais homens e equipamentos, certo? Errado.
Nove homens para atendimento na cidade e sem carros aptos de incêndio para trabalho de rua – segundo um bombeiro, que preferiu não se identificar. Assim era a situação em Santa Maria ontem (terça). De três carros, um para cada posto na cidade, em Camobi, no Parque Pinheiro Machado e na sede do 4º Comando Regional, na Rua Coronel Niederauer, no Centro, apenas o mais velho dele, modelo cedido pela Base Aérea e que seria, nas palavras do militar, “peça de museu”, estava em pleno funcionamento.
O comandante dos Bombeiros, tenente-coronel Luís Marcelo Gonçalves Maya, confirmou que eram apenas nove homens no plantão. Ele reconhece que a situação nesse período de verão, com o deslocamento de Bombeiros ao litoral, é critica. “A falta de efetivo é pública. Mas não tivemos nenhuma ocorrência que deixou de ser atendida. Atendemos todas. Quando ocorreram enchentes no final do ano, por exemplo, chamamos reforço do pessoal que estava de férias”, diz o oficial.
Quando aos carros ABT (Auto Bomba Tanque), Maya afirma que dois estavam aptos ao serviço, um deles saiu da oficina ontem. “Temos um baixado, é verdade. A população sabe das nossas dificuldades. Não há motivo para não divulgar isso”, fala o coronel.
O oficial ainda lembra que o desempenho dos militares em serviço é excelente. “No último final de semana salvamos duas pessoas no balneário Passo do Verde, em local fora da área de banho. Nossos homens são excelentes – faltam recursos”, completa Maya.
“SE A KISS OCORRESSE HOJE, SERIA PIOR”
A frase acima é de Ubirajara Pereira Ramos, o Bira, bombeiro coordenador da Associação de Bombeiros do Rio Grande do Sul (Abergs). Ontem (terça), de Porto Alegre, ele confirmou que Santa Maria chegou a ficar sem carros de incêndio. “Sabemos de dias em que havia apenas sete homens para atender toda a cidade”, completa.
Segundo Bira, a situação é semelhante em todo o Estado. “Há um enorme déficit de efetivo. Temos 571 aprovados em concursos, ainda não chamados. Nosso efetivo é de 2300 homens, que estão envelhecendo, todo anos há saídas da corporação. Tudo isso é um risco para o militar e um risco para a população”, alerta.
Bira ainda diz que cidades como Santa Maria, com 250 mil pessoas, precisam contar com a sorte. “Não pode haver duas ocorrências ao mesmo tempo. Temos que contar com a sorte. Se a Kiss ocorresse hoje, seria pior”.
A única solução para a Abergs é pressionar o governo para a nomeação imediata de novos bombeiros e a complementação da Lei para a independência dos Bombeiros. “A Lei para a separação dos Bombeiros da Brigada Militar já existe, mas não está regularizada. Há um projeto parado na Casa Civil. Sem a regularização não podemos ter nenhum plano de orçamento, nenhum convênio, nada. A gestão do governo estadual é péssima, pessoas morrem por isso”, finaliza Bira.
Situação de carro de incêndio doado é russa
Com festividade, em março do ano passado, foi comemorada na cidade a chegada do moderno caminhão russo AC-5,0-5, carro de bombeiro apto para intervenções em áreas rurais e urbanas.
A cessão do veículo foi gratuita, feita pela empresa russa Fire Group Prioritet ao município. Mas um detalhe não permite o livre uso do equipamento – falta a documentação do carro.
O coronel Maya explica que há grande dificuldades nos trâmites para a documentação. “É um veículo para uso especial, precisa de licenças muito específicas. Há três semanas enviei mais um pedido, para a regularização da sinalização lateral, Mas ainda espero resposta”.
Atualmente, para sair do quartel, o veículo precisa ser escoltado por batedores. “Com batedor acompanhando podemos rodar. A solução é a chegada da documentação”, fala Maya.
Por ser de grande porte, há ainda outro problema. “Há certos locais na zona urbana que ele não vai. A cidade tem problemas na infraestrutura que não permite o seu uso”, diz um Bombeiro.
O termo de comodato para a doação do veículo tem duração de um ano, podendo ser renovado por igual período. O carro é modernamente equipado e diferente dos que já existiam na cidade. Ele será utilizado em ações de combate a incêndios e emergências, na zona urbana e rural.”
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