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As imagens da guerra Israel versus Hamas e as eleições presidenciais americanas – por Carlos Wagner

A influência do conflito do Oriente Médio na disputa eleitoral nos Estados Unidos

Maior adversário de Joe Biden na reeleição norte-americana é Donald Trump, um mestre no uso das redes sociais (Foto Reprodução)

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden (democrata), tem sido muito cuidadoso com as palavras ditas a respeito da guerra entre Israel e o Hamas. Especialmente nas conversas públicas com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, 73 anos, um homem polêmico, que responde a dois processos na Justiça e vem tentando mudar a legislação para se safar das acusações.

Na tentativa de mudar a lei, o primeiro-ministro fragilizou a segurança do país, o que facilitou a invasão dos terroristas do Hamas ao território israelense no último dia 7 de outubro, quando executaram mais de 1,3 mil pessoas e sequestraram 220.

Netanyahu está empenhado em cumprir a promessa de destruir o Hamas, que comanda a Faixa de Gaza, um confuso aglomerado urbano onde vivem mais de 2 milhões de pessoas, das quais mais de 5 mil já foram mortas ou feridas pelos disparos da artilharia e da força aérea de Israel. Dependendo da evolução dessa situação, ela se tornará uma pauta em 2024 nos debates entre os candidatos à presidência dos Estados Unidos.

A prudência de Biden se deve ao fato de que ele concorre à reeleição. Sabe o poder que as redes sociais têm nas eleições. Em 2018, quando concorreu contra o então presidente Donald Trump (republicano), Biden foi esmagado pela máquina publicitária das redes sociais do ex-presidente. Nos dias atuais, até eclodir a guerra Israel versus Hamas, o foco dos adversários e dos jornalistas contra o presidente era a sua idade, 80 anos.

De parte da imprensa, é “pegação de pé”, que podemos traduzir como importunação. Dos adversários políticos é etarismo, uma aposta no preconceito que a sociedade tem contra os velhos. O fato é o seguinte. Israel e Hamas já tiveram vários enfrentamentos. Mas o atual é o primeiro transmitido online pelos telefones celulares. Isso tem significado uma abundância de imagens e depoimentos dos civis dos dois lados disponíveis para a imprensa ao apertar de um botão.

Biden tem reafirmado o histórico apoio militar dos Estados Unidos a Israel. E o direito que os israelenses têm de se defender dos atos terroristas do Hamas. Mas tem afirmado o apoio dos Estados Unidos à existência de um país para os palestinos, conforme determinação das Nações Unidas (ONU). Também tem advertido o primeiro-ministro de Israel para que não cometa os mesmos erros que os americanos cometeram quando exerceram o seu direito de ir atrás dos culpados pelos atentados de 11 de setembro de 2001, os fundamentalistas ligados ao terrorista saudita Osama Bin Laden, da Al-Qaeda, que sequestraram aviões e os jogaram contra as Torres Gêmeas, em Nova York, e o Pentágono, em Washington (DC), matando e ferindo milhares de pessoas.

Biden falou em erros cometidos. Não mencionou os erros. Mas quando assumiu como vice do presidente Barack Obama (democrata), que governou o país de 2009 a 2017, desmontou uma série de estruturas espalhadas pelo mundo pela CIA, o serviço de inteligência dos Estados Unidos, que mantinham ilegalmente e submetiam à tortura prisioneiros ligados aos acontecimentos de 11 de setembro, entre eles a prisão na base militar americana de Guantánamo, em Cuba. E também as invasões do Afeganistão e do Iraque, que acabaram espalhando movimentos fundamentalistas pelo mundo islâmico.

As condições precárias em que vivem os mais de 2 milhões de habitantes em Gaza, impostas pelo governo israelense, se agravaram durante o governo de Trump (2017 a 2021), que apoiou e incentivou o radicalismo do primeiro-ministro de Israel. Essas condições fortaleceram o Hamas no poder – há matérias disponíveis na internet.

Atualmente, existe a possibilidade real de que o adversário de Biden seja novamente Trump. Ou, caso não seja ele, um candidato com um perfil político semelhante ao do ex-presidente, o que significa ter fortes ligações com a extrema direita. Até os dias atuais, nenhuma guerra teve tanto impacto na opinião pública dos Estados Unidos como a do Vietnã (1955 a 1975), na qual 58 mil soldados americanos morreram ou desapareceram.

O final da década de 60 e início de 70 foi marcado por grandes mobilizações populares ao redor do mundo. Hoje, a época é outra. Ela é caracterizada por um avanço da extrema direita no mundo inteiro, que vem sendo detido pela abundância disponível de informações, graças às novas tecnologias de comunicação.

As eleições presidenciais americanas acontecem no próximo ano. Portanto, não existe interesse do governo Biden de que o conflito se prolongue por muito tempo. Muito embora o primeiro-ministro de Israel tenha afirmado que a guerra contra o Hamas vai ser longa. Netanyahu tem usado o mesmo linguajar do então primeiro-ministro da Inglaterra Winston Churchill (1874-1969), durante a Segunda Guerra Mundial (1938 a 1945).

Na época, a Inglaterra vivia sob ameaça de ser invadida pela Alemanha nazista. Em um discurso histórico, para inflar a resistência e o ânimo dos ingleses, Churchill afirmou: “Lutaremos nos oceanos, na terra e no ar”. Embora a situação seja diferente, Netanyahu usa palavras semelhantes às de Churchill para encorajar o exército israelense para o confronto com o Hamas.

Para arrematar a nossa conversa. Procurei e não encontrei um dado confiável sobre o tamanho da influência dos conflitos entre Israel e o Hamas sobre o eleitor americano. Mas na prática de quase quatro décadas na lida de repórter aprendi que vários motivos levam uma grande parcela de eleitores a decidir em quem votar a caminho do local de votação. Um dos motivos pode ser uma imagem. E imagens fortes têm sido geradas em abundância na guerra entre Israel e Hamas.

PARA LER NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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14 Comentários

  1. James Carville assessor de Clinton. ‘É a economia estupido!’. Além disto, a esquerda ianque apoia a causa palestina. Anti-semitas (a esquerda e direita) pegam carona. Alas, um estudante da Universidade de Cornell (com feiçoes orientais) foi preso. Ameaçou judeus de degola, esfaqueamento. Ameaçou atirar num predio. Crime federal. Aulas andaram sendo suspensas. O que leva a outro assunto, a aniquilação do ensino de Ciencias Humanas na Ianquelandia.

  2. Conflito tem muitos lados. Um deles é o pessoal que só quer tocar a vida. Seja em Gaza, seja em Israel. Todo conflito é assim, serve para a Revolução Farroupilha, para 93 e 23 também. Americano medio não sabe apontar Israel no mapa. É capaz de achar que o Brasil fica na Africa.

  3. ‘Netanyahu tem usado o mesmo linguajar do então primeiro-ministro da Inglaterra Winston Churchill […]’ Obvio que não. Cinco dias atras Bibi declarou a ‘segunda guerra de independencia’. Eles têm imaginario proprio, não sei porque tanto eurocentrismo.

  4. ‘]…] nenhuma guerra teve tanto impacto na opinião pública dos Estados Unidos como a do Vietnã (1955 a 1975) [..;]’. Se desconsidermos Afeganistao e Iraque. Entre 2 e 3 milhões de veteranos. Saida do Afeganistão foi tão desastrada quanto a queda de Saigon. Aqui não falam, por lá muito. Só não aparece na midia tupiniquim. A ‘giuót’, Global War on Terror.

  5. ‘[…] existe a possibilidade real de que o adversário de Biden seja novamente Trump’. Primeiro, os dois tem que estar vivos. Segundo, estão tentando declarar Trump inelegivel. Terceiro, muita coisa pode acontecer até la.

  6. ‘Essas condições fortaleceram o Hamas no poder […]’. Hamas venceu eleições legislativas de 2006. Nunca mais ocorreram eleições. Ajuda humanitaria foi suspensa inclusive pelos paises arabes. Depois disto toda ajuda humanitaria foi militarizada pelo grupo terrorista. Material de construção virou tuneis. Adubo virou combustivel de foguete. ‘[…] há matérias disponíveis na internet’. A boa e velha catação de milho, publicam só o que interessa. Perderam credibilidade. Viva o Tik Tok.

  7. ‘Biden tem reafirmado o histórico apoio militar dos Estados Unidos a Israel.’ Problema é o Congresso. Partido Republicano está dividido. Uma parte quer largar de mão a Ucrania. Outros querem amarrar ajuda a Israel (que é consenso) com a da Ucrania.

  8. ‘[…] imagens e depoimentos dos civis dos dois lados disponíveis para a imprensa ao apertar de um botão.’ Isto é algo que os antigos da imprensa tem dificuldade em captar. Só porque estão transmitindo não significa que tem muita gente assistindo. TV a cabo esta praticamente morta por la. CNN Business, noticia de agosto. Pela primeira vez cabo e tv combinados tem menos de 50% da audiencia (49,6). Netflix e Youtube tem 38,7%. Quem procurar em outras fontes a audiencia por faixa etaria vai descobrir que o problema é maior.

  9. ‘[…] o foco dos adversários e dos jornalistas contra o presidente era a sua idade, 80 anos.’ Isto é o que a midia esquerdista tupiniquim deixa passar. Por conta do ‘ageismo’. Não mencionam a divida publica indo para a casa do chapeu. Este ano a Fitch aumentou a classificação de risco da divida de longo prazo (de AAA para AA+). Existe uma crise migratoria na fronteira com o Mexico. Uma epidemia de opioides. Juros altos para o padrão americano e ameaça de recessão paira.

  10. ‘[…] Biden foi esmagado pela máquina publicitária das redes sociais do ex-presidente.’ Não só as do ex-presidente. O escandalo do laptop do filho do presidente foi abafado pela midia esquerdista. Coisa que veio a tona depois da eleição. E em certa medida ainda é. Sujeito tinha armas ilegalmente segundo a acusação (não poderia, é usuario de crack). Existem outras acusações, inclusive sonegação.

  11. ‘[…] a promessa de destruir o Hamas […]’. Isto é ‘retórica’. Ehud Barak noutro dia estava na CNN e mandou a real. Sabem que não é possivel matar uma ideia, objetivo é deixar o grupo inoperante. O corolario da fala é que administração de ataques não irá mais prosperar. O que leva ao chute, uma provavel futura guerra no Libano. Que pode não acontecer, ha muitas peças se mexendo e muita negociação nos bastidores.

  12. Em tempo. Cristina Kirchner também responde a processos de corrupção e também tentou intervir no judiciario. Uma juiza cupincha dela até se recusava a se aposentar. Aqui nenhuma preocupação canhoteira. Alas, segundo Gilmar Mendes ”Se hoje temos a eleição do Lula, isso se deveu a uma decisão do STF’. O que preocupa não é a eleição em si, Molusco com L., abstemio, honesto e famigerado dirigente petista uma hora ou outra vira adubo. Problema é a ostentação do poder, algo que vai perdurar e pode gerar futuramente um problema igual ao de Israel.

  13. ‘[…] o primeiro-ministro fragilizou a segurança do país, o que facilitou a invasão dos terroristas […]’. Responsabilidades ainda estão para ser determinadas. Assunto interno daquele pais. Pessoal que protestou, inclusive reservistas que declararam que não iriam aparecer se fossem convocados também tem sua parcela. Alas, dos mais de 1400 mortos eram maioria. Inclusive na rave.

  14. ‘[…] vem tentando mudar a legislação para se safar das acusações.’ Isto é no minimo discutivel. Coalizão que sustenta o governo Bibi tem elementos conservadores. Alguns defendem uma Palestina somente para os Judeus, dai a alcunha de ‘extrema-direita’ que receberam da midia esquerdista (pleonasmo). Pessoal do Alfabeto e uso de drogas também entram nesta conta. Suprema Corte daquele pais andou revertendo politicas do parlamento (principalmente assentamentos). Ativismo judicial de ministros apontados por primeiros ministros de esquerda. Ou seja, ‘vanguarda iluminista’ por lá também.

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