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ARTIGO. O juiz Sérgio Moro é herói de não poucos jornalistas. Mas há também os que questionam. E forte

“Vão dizer que estou de conluio com ladrões. Podem dizer. Os cabos eleitorais de Sergio Moro (FOTO) faziam poesia sobre jacarandás floridos, enquanto eu escrevia, e muito, sobre a impunidade de corruptores”
“Vão dizer que estou de conluio com ladrões. Podem dizer. Os cabos eleitorais de Sergio Moro (FOTO) faziam poesia sobre jacarandás floridos, enquanto eu escrevia, e muito, sobre a impunidade de corruptores”

“Sergio Moro não é meu herói”

Por MOISÉS MENDES (*)

O juiz Sergio Moro é o herói de muitos jornalistas. Mas já antecipo que ele não é meu herói. Só tive heróis justiceiros na infância e na adolescência. Não posso, como alguns colegas, a maioria veteranos, acreditar que Moro seja o nosso Batman. Desde que deixei Alegrete, com barba na cara, perdi o direito de ser pueril, ingênuo ou simplório e seguir Batmans.
Não posso comemorar a justiça de masmorra de Curitiba, onde presos sem condenação apodrecem moralmente enquanto resistem ao apelo da delação. Não concordo com o que diz o juiz, que a divulgação indiscriminada de grampos seja serviço de “utilidade pública”. Também me constrangem atos esdrúxulos que finalmente são questionados por juristas – os poucos bravos que não se encaramujaram.

Agora, vão dizer que, por tudo isso, estou de conluio com ladrões. Podem dizer. Os cabos eleitorais de Sergio Moro faziam poesia sobre jacarandás floridos, enquanto eu escrevia, e muito, sobre a impunidade de corruptores.

Mas nunca imaginei que um dia poderia ter um personagem como Sergio Moro sob aplausos. Assim como não desejo que suas práticas se disseminem como regra e se voltem, mais adiante, contra a mesma direita que hoje exalta sua postura.

Mas vejo colegas em campanha pelo juiz Moro à presidência da República, como alguns fizeram outras vezes com outros Batmans (como o Collor que caçava marajás, segundo o lamacento jornalismo-pistoleiro do final dos anos 80).

Desculpam-se alguns que o jornalismo tem mesmo a tentação pelo espetaculoso. Que jornalistas inseguros gostam de figuras como Moro. E que encontram em Moro o sujeito que dá glamour às suas teorias. É mais do que isso. Não é apenas ingenuidade. É adesismo mesmo, muitas vezes com posições mais radicais que a dos líderes golpistas e dos patrões. Mas sempre com a desculpa de que defendem a democracia.

Estou constrangido. Sempre temi que, perto da velhice, pudesse virar um dia um conservador ou até um insuportável reacionário. Mas não me surpreendo ao ver que alguns colegas adoradores de Sergio Moro foram adiante e são hoje assumidamente favoráveis às exceções da Justiça. São vocações que se revelam, algumas tardiamente, por força das circunstâncias. O sentimento de história e memória – extraviado pelo mundo das urgências, das futilidades e das oportunidades – não os preocupa mais.

Não falo, é claro, do jornalista crítico, que nada mais faz do que cumprir com sua obrigação. Trato aqui do jornalista assumidamente golpista, do sujeito pragmático que finalmente festeja a mudança de personagens à sua disposição. Até bem pouco, ele andava de braços dados com a ética de Eduardo Cunha, Bolsonaro, Aécio Neves, Caiado, Zé Agripino, Paulinho da Força, Aloysio Nunes e outros. Agora, tem um juiz-herói para respaldá-lo (sem falar de integrantes do Ministério Público com o mesmo perfil).

O heroísmo togado seria o certificador desse jornalismo que anda por aí, só aparentemente infantilizado pela camiseta da CBF de Ricardo Teixeira, de José Maria Marin e dos 7 a 1.

Porto Alegre, 18 de março de 2016

(Escrevi esse texto porque entendo que jornalistas devem, sim, se submeter a exames críticos, inclusive de colegas, sem a proteção de falsas desculpas corporativas. É assim que nós fazemos com papas, presidentes da República, políticos, jogadores de futebol, professores, policiais, engenheiros, juízes etc. Mas alguns jornalistas se consideram Sergios Moros).

PARA LER A ÍNTEGRA, NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) MOISES MENDES é alegretense e profissional, hoje como colunista, do jornal Zero Hora há um montão de tempo. O texto que você leu acima ele divulgou na sexta-feira e foi reproduzido no perfil do FEicebuqui do também jornalista Mário Marcos de Souza. Até a noite deste sábado havia sido objeto de 91 compartilhamentos.

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5 Comentários

  1. Moisés Mendes tem o direito constitucional de falar bobagens. Moro virou um "espantalho". Para um lado é herói. Para outro é ferramenta de ataque ao judiciário. Empreiteiros "cumpanheiros" presos. Tesoureiros de um partido preso. Se não há argumento jurídico, politiza-se.
    Moro não tomou decisões de ofício. Foi provocado. O Ministério Público, estes meninos que são "crentes", que precisam "ser colocados no lugar a que pertencem", requereram a medida.
    Volta-se na história do Rio Grande. Júlio de Castilhos, ditador da província, baixou medida determinando que os votos dos membros do júri fossem abertos, públicos. Um juiz, Dr. Alcides de Mendonça Lima, declarou inconstitucional a referida lei ao abrir os trabalhos de um julgamento. O bafafá que se seguiu é familiar.
    Processado o magistrado, acabou por ter como patrono Rui Barbosa, que escreveu:
    "A resistência do juiz da comarca do Rio Grande a essa transmutação do júri numa degenerescência indigna de tal nome surpreendeu a política da quele Estado com o imprevisto de uma força viva e independente, a consciência da magistratura, difícil de submeter-se à prepotência dos governos. Com a necessidade então de acudir a obstáculo tão inesperado, improvisou-se, por ato de interpretação, nos tribunais locais, contra a magistratura, um princípio de morte, de eliminação moral, correspondente ao que, por ato legislativo, se forjara contra o júri, no gabinete do governador. O júri perdera absolutamente a sua independência, com a escrutínio descoberto e a abolição de recusa peremptória: o poder não abrira só um postigo sobre a consciência do jurado: aquartelar-se nela. Para fazer do magistrado uma impotência equivalente, criaram a novidade da doutrina, que inventou para o juiz os CRIMES DE HERMENÊUTICA, responsabilizando-o penalmente pelas rebeldias de sua consciência ao padrão oficial no entendimento dos textos."
    A história se repete. Mas como diria Croce (ou Vico, não lembro), a mentalidade é outra.

  2. Mas com toda esta enrrolação ele não precisa nem dizer quem são seus "Super-Heróis" !!! Aliás, os mesmos de gente bem de perto !!!!

  3. Que maravilha, há esperanças no fim do túnel, um jornalista que tem alcance, que pensa e que é lá da minha aldeia, ganhei o dia nem tudo está perdido. Só não sei como ele continua no grupo RBS.

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