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UMA TEORIA. Numa eleição sem financiadores, quem leva vantagem são os ricos e famosos. Inclusive aqui

A jornalista tem a sua tese (confira logo abaixo), mas o fato é que há grande preocupação entre partidos e candidatos, com a dificuldade para encontrar financiadores de campanha. Em Santa Maria, mesmo, é o grande problema detectado junto a dirigentes. Mesmo entre aqueles que contarão, por conta da prioridade que a eleição local está recebendo internamente, com recursos do Fundo Partidário. Mas, nessa circunstância, quem leva vantagem? Pois é do que trata a articulista. Ah, pela tese dela, por aqui, quem já tem mandato (e por isso é bastante conhecido) leva vantagem. Confira:

Se o(a) candidato(a) não tiver a fama que lhe dá notoriedade pública, talvez o troco pessoal seja decisivo - na tese da articulista (Reprodução)
Se o(a) candidato(a) não tiver a fama que lhe dá notoriedade pública, talvez o troco pessoal seja decisivo – na tese da articulista (Reprodução)

Por HELENA CHAGAS, no blogue de Ricardo Noblat (*)

Uma eleição para ricos e famosos

A três meses e meio das eleições municipais, candidatos de todo o matizes estão gastando sola de sapato atrás de financiamento – que agora tem teto e só pode vir de pessoas físicas ou do fundo partidário. Estão dando com o nariz na porta e alguns já pensam em desistir. Por incrível que pareça, a mudança legal que proibiu o financiamento empresarial, chancelada pelo Supremo Tribunal Federal com o objetivo de moralizar e reduzir a corrupção por trás da bandalheira eleitoral, pode acabar favorecendo os  ricos e famosos.

Quem não é rico nem famoso, e não é candidato à reeleição nem candidato do prefeito que sai com a máquina nas mãos, corre grande risco de ficar a ver navios em outubro. Em primeiro lugar, porque não existe no Brasil a cultura da contribuição individual às campanhas eleitorais – e já ficou claro que será missão impossível implantá-la numa eleição em que a política e os políticos passam por seu pior momento aos olhos da opinião pública.

Qual cidadão comum estará disposto, no meio dessa crise, a botar a mão no bolso e tirar dinheiro de suas economias – se as tiver – para contribuir para campanhas políticas?  Muito poucos, certamente. Mesmo os pré-candidatos com boa penetração nas redes e movimentos sociais vêm tendo dificuldades para estruturar seus sistemas para futuras contribuições online.

Da mesma forma, os candidatos têm constatado em seus périplo atrás de contribuições que os doadores tradicionais, os empresários, andam extremamente refratários a contribuir como pessoas físicas. Mesmo aqueles que já mandaram fazer grandes doações a candidatos por suas empresas, inclusive  contemplando adversários numa mesma disputa, pensam dez vezes antes de expor seu nome e CPF a esta altura.

Em boa parte, isso é resultado da crise e do efeito Lava Jato. Muitos  dos tradicionais doadores estão da cadeia ou respondendo a processos complicadíssimos. O dinheiro rareou. E os que não estão preferem ficar de longe, naturalmente apavorados com as próximas operações e a possibilidade de um dia estar lá.

Pelos relatos, isso vale tanto para o caixa 1 quanto para o caixa 2 – cuja existência e proliferação muita gente previu ser inevitável quando foram proibidas as contribuições empresariais. Talvez por não prever a dimensão e os desdobramentos da Lava Jato, parecem ter se enganado. Os pré-candidatos vêm se defrontando com grande resistência de empresários a doações não-ortodoxas. Ninguém quer se meter em rolos que, sabe-se hoje, podem ser rastreados até na Suíça e nos mais obscuros paraísos fiscais.

Não deixa de ser positivo observar o derretimento do antigo sistema de financiamento eleitoral, os temores de quem sempre delinqüiu e ver que vai ficar mais difícil cometer irregularidades. Também é um avanço constatar que, com menos dinheiro no mercado eleitoral, as campanhas vão ficar mais baratas, talvez até num nível aquém dos limites estabelecidos com base na lei.

Só que não, dizem especialistas em campanha. Ainda que a lei tenha limitado os gastos e reduzido o tempo de campanha na televisão, será necessário fazer despesas salgadas. As mudanças no formato da propaganda, por exemplo, prevêem menos espaço aos tradicionais programas eleitorais – aquele em que, em tese, você pode botar um sujeito falando na frente da câmera – e mais investimento nas inserções, sob o formato de  “comerciais” veiculados ao longo do dia. Essas peças curtas demandam mais cuidados e recursos de produção – ou seja, mais dinheiro.

Pode ser que o cidadão ou telespectador brasileiro agradeça a redução do prazo da campanha eleitoral em mais de um mês (de 5 de julho para 15 de agosto) e da propaganda no rádio e na TV de 45 dias para 35 dias, mas talvez não se possa dizer o mesmo da democracia. Campanhas mais curtas representam menos debate.

Os candidatos terão menos tempo para se mostrar ao eleitorado e apresentar suas ideias, o que claramente favorece quem já é conhecido ou candidato à reeleição – os famosos.

E os ricos? As novas regras também os favorecem. Afinal, a lei permite que o próprio candidato financie sua eleição com recursos pessoais, no limite de 50% de seu patrimônio declarado.

Em tempo: quem conhece a cabeça dos ricos  que entram na política diz que é raríssimo ver algum deles tirando dinheiro do bolso ou de seu negócio para por na campanha. Por mais rico que seja, vai sempre atrás de doações. E é até bom que assim seja. Essa mesma fonte alerta que é preciso observar com muito cuidado aqueles que financiam suas campanhas com recursos próprios. É sinal de que, lá na frente, já no cargo público, podem querer recuperar o “investimento”…

PARA LER A ÍNTEGRA, NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI (atenção: pode ser exigido um cadastro, aliás bem fácil de fazer)

(*) Helena Chagas é jornalista desde 1983. Exerceu funções de repórter, colunista e direção em O Globo, Estado de S.Paulo, SBT e TV Brasil. Foi ministra chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (2011-2014). Hoje é consultora de Comunicação.

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3 Comentários

  1. Quem lê o artigo até acha que não existe caixa 2 no Brasil. Onde existe sonegação e informalidade existe caixa 2, não só com fins eleitorais. Candidato que não se mostrar preocupado gera suspeitas.
    Pior, crime organizado também tem seus candidatos.

  2. Os famosos, celebridades, jornalistas de grandes mídias, jogadores de futebol, ricos, sempre levam vantagem. E os políticos de carreira.

    Veja o Congresso e Senado atuais e das últimas três décadas.

    Com dinheiro ou sem dinheiro, não teria muita diferença.

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