Educação Especial, inclusão idealizada e crises de descontrole na escola – por Demetrio Cherobini
“Conter alunos em crise não deve ser parte do trabalho diário de professores”

Uma situação comum nas escolas hoje são as crises de descontrole emocional – em inglês, meltdown – que alguns alunos com necessidades especiais aí expressam. Salvo exceções, as escolas que dispomos não conseguem evitar tais acontecimentos, por várias razões. Esse fato me faz refletir: vivenciar a crise na escola é benéfico para a criança? É algo que fortalece sua autoestima e autoconfiança? Gera mais empatia ou mais preconceito entre as pessoas que a assistem? Isso pode ser chamado inclusão?
Outra questão: essas crises devem ser entendidas como problemas de saúde ou de educação? A escola, todos sabem, não dispõe de profissionais de saúde. Por essa razão, não tem estrutura para atender a todas as formas de comportamento, como as crises de muitos estudantes. Isso é um defeito e um limite da escola? Possivelmente sim. Esse limite vai ser superado a curto ou médio prazo? Provavelmente não.
O fato é que o atual modelo idealizado de inclusão induz e normaliza as crises (meltdown) nas escolas. Tais crises denotam mais sofrimento do que integração da criança ao cotidiano escolar. Além desse constrangimento, o fato de ela passar por tal embaraço em público pode gerar problemas futuros. Afinal, um colapso sensorial-emocional é algo íntimo e delicado, e que, creio, a maioria não gosta de vivenciar diante de olhos alheios. Não ficarão na criança marcas dessa experiência ruim, isto é, estigmas de uma vergonha pública com a qual ela terá que lidar ao longo da vida?
Alguém dirá: “os professores precisam se preparar para saber conter os alunos em crise”. Mas, pergunto, será essa uma incumbência de professores, que já preparam e executam inúmeras e extensas funções próprias ao seu trabalho docente? Não confundamos as coisas: se isso for uma tarefa que envolva serviços de saúde, é ingênuo acreditar que os professores darão conta dessa obrigação. Colocar tal responsabilidade em seus ombros é só somar mais uma atribuição às muitas que lhes sobrecarregam, e isso não vai resolver o problema. Penso, portanto, que conter alunos em crise – ou realizar ocupações que são da área da saúde – não deve ser parte do trabalho diário de professores.
Acredito, por outro lado, que é mais proveitoso possibilitar a essas crianças, desde a mais tenra idade, um processo de adaptação gradual à vida coletiva, com aproximação lenta a ambientes sociais, horários e atividades flexíveis e intenso acompanhamento terapêutico (que inclua também orientações às famílias), para que aprendam a lidar com suas sensações e emoções, a fim de poderem interagir bem e de forma autônoma na escola, compreendendo as regras aí vigentes, seus limites e possibilidades. Por que não fazer tais intervenções antes de se obrigar as crianças a cumprirem toda a rotina escolar?
Ora, a sala de aula real tem uma dinâmica própria que, nas condições atuais, dificilmente vai se adequar para atender a todos. A sala de aula é, sobretudo, um ambiente coletivo. É claro que esse coletivo deve incluir empaticamente a criança que aí ingressa com o objetivo de aprender e se desenvolver. Mas a criança também precisa aprender a viver em comunidade e se inserir aí de modo amistoso, criativo e frutífero.
Uma sala de aula não pode ser um lugar de mal-estar, retraimento, isolamento e indivíduos apáticos buscando satisfazer somente suas vontades exclusivas: ela é – ou deveria ser – uma síntese da diversidade humana, um conjunto onde as “partes” e o “todo” se articulam e se complementam, de maneira rica e fecunda. Os problemas escolares, via de regra, são problemas de formação de síntese, problemas onde os interesses, expectativas e planejamentos individuais e coletivos, por algum motivo, não se conectam.
As crises, finalmente, significam que alguma coisa está impedindo a composição dessa síntese. E para lidar com isso, no contexto atual, será preciso pensar em opções outras do que apenas forçar, contra a sua vontade, a presença da criança na sala de aula. Será preciso pensar, pois, em critérios e formas alternativas de gerir a inclusão.
(*) Demetrio Cherobini, professor da rede municipal de Santa Maria, é licenciado em Educação Especial e bacharel em Ciências Sociais pela UFSM, mestre e doutor em Educação pela UFSM e pós-doutor em Sociologia pela Unicamp.
Resumo da opera II. Brasil se encaminha para tornar-se um pais velho, pobre e analfabeto. Bastante ‘democratico’.
Resumo da opera. Solução não está no horizonte. Para ajudar ‘espertos(as)’ de rede social (ou no caso de SM, de jornal e rádio também) ficam falando em ‘educação financeira’, ‘inclusão de direito constitucional’. As pessoas saem da escola sem dominar as quatro operações e analfabetos funcionais, estão falando do quê? Alas, a taxa de analfabetismo funcional entre os portadores de diploma de ensino superior é de 12%. O numero só não é maior porque tem muita gente que não faz ensino médio, no fundamental 2 o numero é 43%
O obvio é evidente. Se existe uma crise com uma criatura numa sala de aula o ensino para. Em turmas grandes até a coisa voltar para os eixos demora. E os indices do pais em provas internacionais não são bons, com tendências de piora.
Pessoal da saúde para todo problema anda inventando uma doença ou mudando o conceito das que ja existem para ‘incluir’ mais pessoas. Vide Transtorno Opositor Desafiador. Desobediencia, falta de respeito a figuras de autoridade, desrespeito as regras, agressividade, gostar de pertubar, etc. Imagino o que aconteceria com este problema 40 anos atras.
Num destes videos de youtube uma professora reclamando da patologização (existe a medicalização também) da educação. A desinfeliz tinha 38 alunos com algum tipo de diagnostico numa sala de aula. Turma de 40. O tamanho da turma já é um absurdo diga-se de passagem. Chutaria que a falta de professores(as) contribui para isto.
O problema não é ‘inclusão’ ou até mesmo ‘diversidade’. Problema é que alguns ‘especialistas’ usam paises nordicos (geralmente, depende do qual ‘exemplo’ é necessário) para fazer o lobby ‘nos paises desenvolvidos é assim’. A ‘politica publica’ é um canetaço com uma resma de papel acompanhando para dizer que foi ‘debatida e planejada’. Sim, o planejamento e debate, as transições nas salas de aula, todo o processo que aconteceu nos paises exemplo não acontecem. Demorariam demais e não cabem no ciclo eleitoral. Padrão tupiniquim: ‘depois a gente vê’. Queima o conceito, o corpo docente e o discente.