Azul da cor das ideias (*) – por Luciano Ribas
Escrever não é uma coisa fácil, mas também não é difícil. Complicado mesmo é escrever defendendo ideias. E não apenas pela argumentação coerente que, obviamente, se faz necessária, mas pelos riscos que a defesa de algo traz consigo.
Uma ideia é um posicionamento e toda tomada de posição tende a colocar pessoas em lados diferentes, o que não seria necessariamente ruim se não vivêssemos tempos de intolerância, de prepotência e de descompromisso com os fatos. Mas vivemos, o que faz com que a defesa de ideias tenha o seu preço.
Isso já me fez tentar escrever apartado das opiniões, mas nunca consegui. Essa coisa tão afeita aos “intelectuais de província”, que abusam das obviedades ao “dialogar” fartamente com o senso comum, sempre me causou asco. Posso não escrever bem, posso ser limitado, posso não tomar chá com nenhum “notável”, o que não posso fazer é deixar de tentar colocar algum conteúdo nos meus textos. Sou um “escritor” (e um fotógrafo) bissexto, mas não sou desonesto. E pago o preço – nunca em processos, pois acho que sei defender o que acredito sem cruzar a linha do respeito.
Entre os jornalistas que remam contra a corrente e insistem em defender ideias está Luis Nassif, titular do Jornal GGN, de livre acesso a qualquer internauta. No episódio que estamos presenciando de adulteração de derivados da carne, entre uma infinidade de “opiniões” que não passam de ecos do senso comum, tem se elevado a lucidez do Nassif ao analisar a condução da investigação e as suas consequências para o país. E ele também está pagando o preço por fazê-lo, apanhando de todos os lados nessa arena insana das redes sociais.
Recomendo a leitura das opiniões do Nassif sobre esse assunto e sobre muitos outros, pelo menos a quem não se contenta em seguir a manada ou tomar chá com os “notáveis” da província. Assim como recomendo as edições em português do El País e da Deutsch Welle para informações relevantes sobre o Brasil e o mundo, do Sul21 para ter outras opiniões sobre o RS e do Claudemir Pereira para ter conteúdo relevante sobre Santa Maria. Informação é tudo, mas nem toda “informação” dignifica o sentido dessa palavra.
Antes de encerrar esse texto, quero ainda assinalar que, para mim, defender ideias significa ter conteúdo. E este pode vir de qualquer assunto ou inspiração, como a poesia fartamente nos prova. Portanto, peço que não confundam o que eu disse lá no início com algum tipo de aversão à abstração e à criatividade. Também tento não ser panfletário…
Me permito dar um exemplo: os lindos olhos azuis da Raquel, meu anjo, que são para mim uma inspiração infinita, cheios de brilho e de significados e capazes de me guiar a qualquer canto. Há anos me fazem (junto com todas as outras pessoas que me são importantes, é claro) seguir em frente. Aliás, essa é uma opinião e uma tomada de posição – pessoal, sim, mas muito relevante para mim, podem acreditar. E que não tem preço, mas tem um valor imenso.
(*) https://www.youtube.com/watch?v=mky-EIfrCbk
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