Qual foi a vantagem? – por Alice Elaine Teixeira de Oliveira
Sempre fui uma criança diferente das que me rodeavam.
Podia ter uma foto minha no Japão, se não fosse meu pavor, aos 3 anos, do casal de turistas japoneses e seu filhinho. Estávamos no Rio de Janeiro, no bondinho, e eu não estava apavorada com a altura do lugar e sim com as pessoas que falavam diferente… Não cheguei perto pra foto que eles tanto queriam.
Com 4 anos resolvi passear pelo centro da cidade de Santa Maria-RS e pegar o ônibus pra ir pra casa, só porque deduzi que minha mãe tinha me esquecido no brinquedo da loja de sapatos… Ela me encontrou próximo à parada de ônibus graças a um aposentado atento ao meu movimento.
Mesmo com 4 anos a menos que meu irmão mais velho, descobri antes que meu irmão e com meus próprios olhos o que os pais fazem sozinhos num quarto. (Foi a maior SURPRESA que eu podia fazer pra eles…)
Num grupo de meninos, era a única menina. Enquanto as meninas queriam brincar com bonecas e roupinhas dentro de um quartinho de 2 por 1,5 m que fedia a mofo e no qual eu espirrava e me atacava da asma, eu queria ar fresco, correr, patinar e andar de bicicleta, jogar bola com a turma do meu irmão, brincar de mocinho e bandido, empinar pandorga, jogar bolita…
Entendia a conversa dos adultos, muito mais do que podiam imaginar… Mas, ficava na minha. Doía muito quando eu sabia que era depreciativa pro meu lado. Ninguém gosta de criança curiosa, intrometida e chiclete…
Fazia ‘o lado’ dos amigos com as meninas, entrava no meio delas (nem conhecia) e então um amigo vinha me chamar: ‘Teu irmão tá te procurando…’. Fácil! Ele já se apresentava para o grupo, ficava por ali e eu saía fora…
Não tocava instrumento algum, sempre fui um zero à esquerda musical, mas estava em TODOS os ensaios da banda do meu irmão, mesmo porque era em nossa garagem, mas lá estava eu! Quase um serviço de assessoria:
– Traz água, Alice!
– Compra coca-cola pra nós?!
– Oba, a Alice fez um bolo!
– Tira o cachorro de dentro do bumbo, Alice?!
– Consegue um arame ou fio de nylon pra esticar a correia?
E assim eu era feliz…
Mas, ainda hoje eu me pergunto: onde está a vantagem de se nascer velha?
Tá bom… já parei…
…
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