Quando a justiça é injusta – por Maiquel Rosauro
Entre as casas havia uma igreja. Um pequeno templo de madeira que ficava escondido dos forasteiros e que servia não apenas para orar, mas para buscar um milagre que jamais surgiu.
As 31 famílias que viviam ao lado da olaria da Universidade de Santa Maria (UFSM) lutaram durante anos para manter a posse de suas casas. Eles não eram invasores. Os primeiros moradores foram convidados pela própria instituição para residir no local, na década de 1960.
Diversos membros destas famílias atuaram na olaria produzindo os tijolos que hoje sustentam dezenas de prédios da UFSM. E com o passar do tempo, vieram os descendentes. Porém, sem nunca abandonar o modo simples de vida em um local considerado seguro e afastado dos perigos do restante da cidade.
Um dia, a família do mais antigo morador resolveu entrar com o processo de usucapião da área. Após tantas décadas morando no lugar, criando filhos, netos e bisnetos, fazia sentido ter em mãos um pedaço de papel que comprovasse a propriedade daquela terra.
Mas não foi o que a Justiça entendeu, sendo aquele terreno pertencente à União. Em 2015, a mesma instituição que as famílias ajudaram a construir entrou com um pedido de reintegração de posse. Ontem, foi o prazo final para desocupação e sequer com o frete dos móveis a UFSM ajudou.
À medida que foram saindo nos últimos dias, muitas casas eram patroladas, pouco importando o significado daquele ato terrível para quem passou a vida inteira na mesma residência. Na verdade, era um aviso para não mais voltarem e para os demais apressarem a saída.
Em meio aquelas casas estava a igrejinha onde as famílias se reuniam. Não havia conforto, mas havia esperança. A esperança de ser tratado com dignidade.
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