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PRESTA ATENÇÃO! O desabafo de uma professora estadual de SM pra lá de indignada

Normalmente, não publico na íntegra textos que não são inéditos. É regra do sítio. Exceções são tão raras que não lembro de uma sequer. Mas aconteceram, reconheço. Uma delas é aberta neste instante. Você lerá a seguir um texto publicado noutro blogue, de um colega de profissão. A autora é uma professora de Santa Maria, e o mote é o projeto que modifica o plano de carreira do magistério público estadual, ora em discussão na Assembléia Legislativa. Vale a pena conferir, garanto. A seguir:

“Minha indignação com o que falam de nossa profissão, enquanto educadora que sou, já vem de muito tempo. Isto dói, isto magoa, entristece e incomoda! Só quem é “professor”, que atua, que está em sala de aula, sabe o verdadeiro valor do que fazemos diariamente. Qual a classe que trabalha 24hs por dia, na sala, em casa, e até no ônibus quando imagina algo que vai planejar para os seus alunos? E sem remuneração. Eu planejo, corrijo, faço jogos, crio novas atividades, planejo estratégias, escrevo textos, em horários que não estou em aula, ou seja, em casa, tarde da noite ou nos sábados e domingos.
Quem não sabe o que fazemos sabe avaliar isso? Conhecem nossos alunos? Quem é que consegue “medir” ou avaliar a extensão do meu trabalho, da minha dedicação, com testes elaborados e redigidos para obter “números”? E a qualidade do que faço, e o que meu aluno aprende enquanto um ser social, que deve ter valores, saber opinar, criticar, transformar o mundo em que vive? Quem sabe disso, conhece estas “pessoinhas” para avaliar qualitativamente, a não ser o professor?
Quem pode ter competência pra avaliar se o professor fez um bom trabalho ou não e se vai ou não ganhar um prêmio? Por favor, que lamentável!
Em tempos de degradação do planeta terra, de roubos, escândalos políticos (de pessoas que elegemos para confiar), de uma educação sucateada precisando de valorização, estímulo e respeito, chegam pessoas que são puramente “técnicas”, que nunca deram uma aula, que nunca enxugaram lágrimas de um aluno, que nunca sentiram um abraço e um pedido de carinho, ou de ajuda e nem mesmo sabem como se dá uma aula, e agora querem nos enfiar “goela” abaixo um plano que está colocando a sociedade contra nós!
Já ouvi muitas vezes dizerem que o professor é “vagabundo” porque tem licença prêmio… o senhor (*) mesmo no programa de hoje na TVE, deixou uma insinuação de que nós tiramos licença pra “curtir”…. O que é isso? Os senhores, por certo, tem FGTS quando se aposentam. Pois nós, não temos nada! Sabiam que quando me aposentar (ainda não posso por não ter a idade e a lei não me garantir direitos adquiridos) eu sairei com o salário de aposentada e mais nada? Quantas pessoas ao se aposentarem retiram seu fundo, compram uma casa, investem na velhice, na tranquilidade… Mas nós, os professores, não!!!! Então temos a licença prêmio, direito adquirido, que eu, por exemplo, tenho seis vencidas e nunca, “nunca”, pude gozar, porque estou em sala e não teria como. Quando puder pedir minha aposentadoria, saio um ano antes (se não mudar ainda mais e me proibirem) para descansar, aguardando, merecidamente!
Sabem o que é estar mais de 26 anos em sala de aula, com alunos, todos os dias? E nos dois turnos? Tem idéia do que nos envolve este trabalho? Do que mexe com nossos sentimentos? Ver um aluno com dificuldades de aprendizagem e não poder fazer nada por ele, porque a família não consegue levar a um especialista, pelo menos antes de 6 a 8 meses de espera numa fila? Disso ninguém fala…
Como é fácil falar do professor e culpá-lo de tudo, como tem acontecido sempre, mas especialmente agora, em função do “projeto das bondades” da nossa governadora Yeda.
Quem não ajudou a construir o nosso plano de carreira, quem não o conhece, quem não sabe como chegamos até ele, não pode afirmar que ele é ruim. O que é ruim são as políticas de salário que os governos têm.
Conseguir terminar uma faculdade com o mísero salário de professor não é fácil, mas saber que mudará do nível 1 para o 5 ao terminar é um alento (mesmo que não seja um salário digno do que deveria ser, mas é bem maior que o professor de nível 1). Sou um exemplo disso. Entrei em 1981 somente com o magistério, no nível 1, por 9 anos. Depois consegui fazer um curso de especialização, estudos adicionais em alfabetização, e mudei para o nível 2. Pouquinha diferença de $$. E prossegui sem poder estudar (não parei no tempo, sempre estudei muito sozinha, por vontade de melhorar cada dia mais a minha prática docente), sem poder fazer minha faculdade. Tentei 2 vezes e não consegui pagar. Agora em 2008 consegui terminar, estudando aos sábados e nas férias de julho e janeiro. Finalmente mudei para nível 5. Minha família sabe o quanto isto foi e é importante para mim, um aumento melhor, mas ainda aquém do que mereço. Nunca deixei de ser uma ótima professora por isto, mas deixei de receber merecidamente enquanto isso. Hoje continuo sendo a mesma, dedicada, profissional, afetiva e criativa, mas recebendo pelo nível que consegui chegar com o diploma.
Meu sonho era não parar, era fazer uma pós, um mestrado… Mas se este projeto for aprovado, farei pra me satisfazer, me atualizar e só! Pois não terei como mudar para o nível 6. Não ganharei merecidamente a diferença salarial (que é pequena) que teria ao mudar o nível.
E a meritocracia? Ridículo! Concordo que muita coisa tem que mudar nas escolas, nas metodologias, no ato de ensinar e aprender do aluno e do professor, mas é com alguém de fora nos julgando,criando clima de competição nas escolas? Professor mal pago dá excelentes aulas! Se for bem pago, continuará sendo excelente e poderá ser muito melhor ainda, pois sua autoestima e principalmente a tão sonhada “valorização” chegará!
Nossa, há tanto a escrever, precisaria muito tempo pra contar, de verdade, o que faz um professor… Quanto ele ganha…. Sabia por exemplo que parte do nosso salário é como abono e sobre ele não incide vantagens nenhumas? Que ganhamos o “vale refeição” e depois somos descontados absurdamente no contracheque… Preferia nem ganhar, pois dão e tiram.
Outro aspecto que vocês falaram no programa hoje, que foi sobe licenças saúde: generalizaram um assunto tão delicado… Será que 90% dos professores inventam doenças e vivem de licença só para não dar aula? Isso é um absurdo!
Não falem de nós como se fôssemos uma “aberração”… Acredito que muitos políticos que deveriam estar sendo “atacados” assim, não o são! Eles “ganham muito bem”, se aposentam muito cedo com seus altos salários, ganham ajuda de custo pra tudo, só “trabalham” 3 x por semana…. E são os professores que
vivem “nas cordas”?
O dia que algum governo resolver “olhar de verdade” para uma solução no nosso país, verá que ela está na escola! Na educação! Na valorização do professor! Alguém chega em outra profissão sem passar por nós?
Por favor, não ataquem, não generalizem quando falam dos professores! Leiam, se informem, nos ouçam… A opinião pública e a imprensa quase sempre estão do outro lado, nos criticando e generalizando!
Outro detalhe: eu não farei greve porque muitas já fiz e não é hora nem momento. Temos que ser ouvidos pura e simplesmente: que os deputados rejeitem este projeto que nunca foi discutido com nossa classe! São 3 anos sem aumento! Só quem sobrevive do nosso salário, cheio de descontos é que sabe como é dura a vida de um professor!
Mas mesmo assim, sou professora com muito orgulho! Amo o que faço e ainda tenho esperança que alguém, um dia, irá ver que a solução pra tudo está na educação, na saúde e na segurança!
Este texto é um desabafo que estava “sufocado” há muito tempo…
É hora de nos valorizarmos! Sou professora! Com muito orgulho!
Patrícia Wienandts Flores
Professora Estadual – Santa Maria – RS”

(*) Esse texto foi originalmente publicado no BLOGUE do jornalista José Luiz Prévidi, um dos participantes do programa de debates – referido pela professora – levado ao ar na TVE, a televisão pública do Rio Grande do Sul, no início da semana.

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9 Comentários

  1. Sou professora a pouco tempo…mesmo sabendo do desleixo com a educação em nosso país, eu escolhi entrar nesta profissão por amor! Fiquei muito emocionada ao ler o texto…mas penso que não está distante a hipótese de sermos valorizados de verdade, pois a falta de educadores no país já começou, as licenciaturas gratuitas não são procuradas, ou seja, ser professor se tornou cafona, sem valor…mas nem tudo está perdido, chegará o dia em que o professor terá seu merecido valor e respeito perante esta sociedade que tanto nos julga…abraço a todos os heróis professores do nosso país.

  2. @Fritz
    Fritz, rezo para que tu esteja certo. Mas, os compromissos dessa gente são muito pesados. Eles podem, de repente assumir o ônus e fazer passar o projeto. A RBS se encarrega de abafar os efeitos. O contrato do empréstimo dos dólares foi feito entre duas partes, uma empresta e a outra assume compromissos e metas. Agora chegou a hora de Yeda cumprir sua parte. Mas, vamos aguardar o resultado. Já pensou que interessante seria o Diário de Santa Maria entrevistar vereadores, prefeito e vice, secretários municipais sobre o que eles pensam deste projeto? Sim, por que todos eles tem eleitores professores e muitos serão candidatos a deputado.

  3. Este é “o novo jeito de governar com coragem de fazer” . na progaganda tudo é bonito alias propaganda com o nosso dinheiro gente não vamos esquecer do caso detran da casa da governadora, acabar com o plano de carreira do funcionarios publico faz parte da cartilha do psdb sucatiar o serviço publico vamos lembrar da vale da petrobras da rede ferroviaria . . . Vamos lembrar de tudo isto no ano que vem na eleição estadual e federal as nuvens escuras assombrão Brasilia com o senhor sera e outros do 45 .

  4. Discordo do tom pessimista do colega Rpogério Ferraz. Os constantes adiamentos na votação do pacote na Assembleia demonstram que os “paralamentares” estão sentindo o bafo na nuca. Caso passem esses projetos, os sindicatos têm que comprar páginas dos jornais e estampar os nomes dos traidores do povo. Por outro lado, o desastre tucano tem aí um ano apenas. E, em 2011, esperamos um outro governo que não pertença a qualquer dos partidos da base que apoiam Yeda e, assim, reverter os absurdos que o atual governo vem cometendo.

  5. Bueno, depois de retomar o fôlego e conter a emoção após a leitura do texto, vou tentar escrever algo.
    O negócio é o seguinte:
    Dificilmente não passará este projeto. Yeda assumiu compromissos com o Banco Mundial ao conseguir aquele famigerado empréstimo em dólares. Ao mesmo tempo precisa cumprir o piso nacional. Então saiu esta “maravilha” de projeto. A tentativa de aniquilar o CPERS é simbólica. Se ela conseguir fazer isto com uma categoria que conta com mais de oitenta mil associados, imaginem o que ela fará com o resto do funcionalismo. Ela vai tirar estas vantagens (como a gente se acostuma a chamar de vantagens, na verdade são direitos). Então, ela vai tirar estes direitos dos trabalhadores em educação e depois vai partir para o resto do funcionalismo.
    Qual deputado da base aliada vai afrontar a governadora? Todos tem o rabo preso.
    Se a mídia se interessasse em divulgar o que acontece com os professores, saberíamos que em Minas Gerais, que casualmente é PSDB também, a situação é de igual para pior.
    Parabéns a (me permitam colocar em maiúscula no meio da frase) Professora Patrícia.
    Poderia discordar dela apenas em um detalhe. Concordo também que o momento não é adequado para greve. Mas penso que já que foi a decisão, todos teriam que apoiar. Até quando apenas os professores terão que se importar com os alunos? O Estado não tem responsabilidade?
    No mais, um abraço ao deputado Claudemir. Pena que já botaram ele em péssimas companhias.

  6. Hahaha. Deputados Lasier Martins, Ana Amélia Lemos e agora Claudemir Pereira. (NOTA DO EDITOR: o colega Fritz, quando quer, é mesmo um brincalhão. Só não precisava ofender este repórter. Afinal, uma das poucas coisas que a gente ainda consegue fazer é escolher as companhias. Por isso não tem (e provavelmente não voltará a ter) vínculo empregatício com a mídia grandona – ou que se acha)

  7. Sou servidora de escola e colega da Prof.ª Patty, como é carinhosamente chamada pelos colegas, alunos e pais. Deixo aqui registratada a veracidade de tudo o que ela cita em seu desabado. Realmente, a classe dos professores tem sido, a cada governo que toma posse, mais “esquecida” no sentido de “valorização e reconhecimento”, mas “muito” lembrada para ser alvo de ataques em suas conquistas. Remota é a lembrança de que algum governante tenha apresentado um projeto beneficiando, com reposição de perdas salariais ou pagamentos em dia de direitos adquiridos através dos planos de carreira dos professores e funcionários de escola… parece que existe um ímã, que atrai olhares invejosos nos parcos salários dos trabalhadores em EDUCAÇÃO. E para quem não tem noção da vergonha que são nossos contra-cheques, cheios de descontos e abonos que o governo teima em considerar salário, fica a dica de que se informem melhor antes de julgar e condenar as nossas reinvidicações. Entristece saber que nem Governo, tampouco os representantes do povo (Deputados Estaduais), se coloquem no lugar desses PROFISSIONAIS. O conforto é de que a grande maioria de professores e funcionários tem se esforçado pra dar o melhor de si aos seus alunos. Estou com a minha querida amiga Patty e não abro mão da VERDADE e da VALORIZAÇÃO!!!
    Cláudia Fardin
    Agente Educacional III, Santa Maria/RS

  8. Sou professora estadual, penso que nem tudo está perdido, que ainda existe alguém nesse mundo que pensa e aje com emoção, exemplo disso é o deputado Claudemir Pereira, que deu espaço para a nossa nobre colega. Parabéns!! Precisamos de políticos que pensam e ouçam o povo… (NOTA DO EDITOR: tirando o ato falho da querida leitora (afinal, não sou nem NUNCA serei deputado), o sítio fica feliz com a observação. Afinal, quem não gosta de um elogio?!)

  9. Parabens Claudemir, por abrir amplo espaço para uma professora e uma classe tão injustiçada pela grande midia. Da para se verificar claramente como são verdadeiras as afirmações desta professora, e oxala os deputados da base aliada tenham o minimo de consideração por esta situação e não caiam nesta cantilena desastrada da governadora do estado. abraços

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