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Carne fraca – por Luiz Carlos Nascimento da Rosa e Lucas Silveira

As vezes temos nos perguntado: o que está ocorrendo com o mundo, de uma forma geral e, com o Brasil, de forma particular, pois temos reproduzido, querendo ou não, a vida de séculos atrás? Olhar criticamente para o passado é extremamente, difícil, pois, por vezes, ele nos condena e viver o presente é estar num estado permanente de perplexidade, para não falar atônito. Futuro? Zeus nos livre! Sinceridade talvez não seja o nosso forte, mas com todo nosso crasso cinismo não temos a mínima intenção de ocultar o óbvio.

Podem nos dar um epiteto de “Vulgar”, “Afoito”, “Insensível”, mas pragmático e simplista, por favor, nunca! Somos dois escribas, absurdamente, destituídos da razão vigente e, muitas vezes, tachados de loucos. Esse apelido ou codinome, sinceramente, serve e, delicadamente nos é cabível. Nós chegamos a uma conclusão histórica, perdão pela erudição, mas aprendemos sermos irônicos para subverter a lógica vigente.

Nossa vida atual e a conjuntura política nacional, infelizmente, se não se instituísse como trágica e triste têm tornado nosso cenário político como um espetáculo de uma hilariante comédia. Podemos dizer que somos forçados a rir de nossa própria desgraça.

O monge Erasmo de Rotterdam com seu lindíssimo livro “Elogio da Loucura”, nos prova que não é pecado, por vezes, fazer da vida um estado fluídico de loucura. Diz nosso irônico monge, citando os Estoicos, lá no distante Século XVI: ser sábio é tomar a razão como guia; ser louco é deixar-se levar ao sabor das paixões. Erasmo, com toda sua lucidez e sabedoria afirma: é a loucura que deveis as principais satisfações da vida, e tendes prazer bem doce de usufruir até mesmo da loucura dos outros. Ser muito certinho e viver só dentro das convenções sociais é contraproducente e pressuposto de uma vida enfadonha e triste. Olha que paradoxo, ser louco, muitas vezes é necessário, para ter uma cabeça sadia e uma vida qualificada. Parêntese. Falamos de sadia no sentido de saudável, por favor, não confundam com a Sadia da operação “carne fraca”. Dizem, as boas línguas, que essa tal Sadia nos meteu goela abaixo um balaio de carne estragada.

Para dar início ao desavergonhamento que estamos vivendo, voltemos ao grande Erasmo quando escreve: há duas coisas, sobretudo, que impedem o homem de chegar a conhecer bem as coisas: a vergonha, que ofusca sua alma, e o temor, que lhe mostra o perigo e o desvia de empreender grandes ações. Vejam que estamos muito bem transitando com o século XVI e vislumbramos, pasmem, nosso monge falando de questões, absurdamente, contemporâneas. Pensamos que os larápios que colocaram carne estragada no mercado desvirtuaram a tese de Erasmo de Rotterdam. Usaram da falta de vergonha, ganância e egoísmo para entupir suas contas bancárias de dinheiro. Benza Zeus! A carne é, realmente, fraca.

Na Mitologia bíblica, quando o ignóbil do Adão comeu sua maçã ele se ferrou. O Deus de Adão sempre foi voraz e tirano. Pobre do Adão que desejou e comeu uma linda carne e, que coisa horrível, virou no devir da História um vegetariano. O paraíso de Adão, da Eva, o Éden, transmutou-se num mísero espaço da cobra, do pecado e do desamor. Com Adão e Eva, e o “pecado da carne”, fomos condenados a viver em penitência e, que triste, não desfrutar do paraíso. Ah, a carne!

O grande poeta Homero, em sua Odisseia, nos mostra o desejo da carne pode gerar uma guerra de dez anos. O troiano Páris, ao se apaixonar pela espartana Helena, na poética de Homero, uma das mais lindas epopeias que temos notícia na história da literatura. Qual a causa dessa epopeia? O desejo da carne. Páris se deslumbrou com a beleza e a forma escultural das fartas carnes de Helena. Foi correspondido, a roubou e incitou a ira do traído Agamenon. O traído espartano foi a luta em defesa da tal de honra. A carne fraca, pelo que sabemos, é capaz de provocar grandes tragédias e crimes passionais.

Nossos bons professores de História nos ensinaram que fomos “descobertos” por um erro de rota e, a fundação da terra brasilis e a formação de nosso povo, também, estáoístas  relacionado com o campo gastronômico. Nossos descobridores e sem gosto europeus, a bem da verdade, desejavam ir para as Índias em busca de especiarias para dar sabor mais picantes a sua alimentação e apimentar suas carnes.

Ao falar em europeus não podemos esquecer que tiveram, por um tempo, que fazer dieta de carne, pois por lá apareceu a famigerada “vaca louca”. Pelo que temos visto, aqui nessas bandas dos trópicos, vamos, também, fazer dieta de carne. Nossa vaca não está louca, mas uma parcela dos empresários do agronegócio estão boicotando a vaca ou nos ofertando vaca estragada. A nossa vaca está tão em baixa que, esses e  picaretas lamanos, estão trocando as “mimosas” por desprezíveis e não palatáveis papelões. Que papelão estão fazendo esse pessoal que foi pego com a boca na botija nos vendendo gato por lebre, ou melhor, vaca por papelão. Em um período obscurantista de nossa conturbada História, para protestar, Caetano Veloso poetizou: Vaca das divinas tetas, derrama o leite bom na minha cara e o leite mau na cara dos caretas. Os sem escrúpulos caretas, com a aquiescência de muitos políticos, tomaram, de novo, conta da vaca de fartas tetas e estão colocando “carne fraca” nas nossas judiadas mesas. Na esteira de Erasmo podemos dizer que nossas loucuras são saudáveis, mas esses malfeitores são é louco de sem vergonhas.

(*) Luiz Carlos Nascimento da Rosa/Professor/UFSM; Lucas Silveira/Acadêmico de Ciências Sociais/UFSM

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