Fanta de Guaraná – por Pylla Kroth

Alô além! Alguém poderia me esclarecer ou me dar uma luz? Que tempos são esses que estamos vivendo? O que é verdadeiro ou falso nos dias atuais? Fui criado em um tempo em que as pessoas e as informações eram mais confiáveis. Se fosse vindo da imprensa, então, de alguma rádio, de um jornalista, dificilmente seriam falsas. Os jornais, rádios e TVs verificavam a fonte, a matéria passava pela editoria, de mão em mão, até ser impressa, e ai de cometer um erro, a punição pública seria terrível.

Dias atrás, em uma oficina sobre redes sociais, perguntei ao palestrante como confiar na informação que circula na rede\internet e ele foi enfático: “isto é impossível, atualmente”. Não interessa quem escreveu, e se for num facebook então, é como jogar merda no ventilador. Todos são críticos, todos vão opinar, está feita a fuzarca. É o clima que pela ordem natural não segue mais as 4quatro estações e aí já vem aquele “gritedo”, ou é o time de futebol, é a política, é uma polemica atrás de outra.

Estou certo? Sei não! Já foi criado, mas só é utilizado pela polícia do primeiro mundo o “detector de mentiras”. E nas redes sociais? E nas pessoas? Teria como instalar um dispositivo? Ou seria coisa para o próximo século? Sei lá, mas na velocidade que o mundo anda acho que logo, logo estará disponível, e isso vai vender como água, uma necessidade básica. Não custa sonhar – “o que somos, se não somos, se não sonhos?” já diz uma letra de música de um roqueiro e tal.

Mas fato é que eu estou apavorado mesmo.  Afirmo: eu. Dias desses, passei pelo “calçadão” da  minha cidade e avistei uma turma significativa de hippies, sujeitos que nos anos 60-70 rejeitavam normas e valores da sociedade de consumo, deixavam seus cabelos crescer, desprezavam o dinheiro, pregavam a não-violência e a liberdade sexual, e uma pessoa passou ao meu lado e falou: “olha ali, meu amigo, uma espécie em extinção!”

Lembrei que dias atrás comentei em outra crônica por aqui que esses taizinhos ali tinham mudado o comportamento de uma geração com gritos de Paz e Amor. Pois não é que tanto eu quanto o amigo nos enganamos? O cara era falso. Logo vimos um deles gritando pra um transeunte que ali passava e achou um absurdo o preço de uma pulseira artesanal: “sai pra lá, seu bixolinha! Vai comprar no camelô, então!”, dando ao cara a possibilidade de comprar a pulseira industrializada e agredindo a pessoa que ali estava.

Logo, juntou suas tralhas e foi até o estacionamento. Eu estava a observar, pegou a chave de um carrão, jogou as coisas no porta- malas e se foi embora. Assisti a tudo estarrecido, constatando que não passava de uma cópia forjada e falsa de uma geração que tive orgulho de ter vivido. Na esquina, uma senhora me pede ajuda para raspar uma “raspadinha”, raspo e estava escrito “continue tentando”, a senhora pega mais dinheiro e me diz : “então vamos continuar!” retruco ela e peço que não insista, pois seria difícil achar uma premiada, mas ela insistiu, “compra outra e me dê pra raspar”.

Isso se repete três vezes, “continue tentando”!!! Na quarta entrego pra ela e digo “dê um jeito e faz como fiz com a chave”, saio de fininho e a senhora grita: “Hei! viu? Ganhei uma bola!” kkkk. Bueno. Não era meu dia.

Chego em casa, o porteiro me entrega uma correspondência, abro vejo que e se tratava de um CD de uma banda de uma cidade vizinha, que me solicitava que se possível passasse a um comunicador de uma especÍfica rádio. Chego na rádio orgulhosamente e sorridente, entrego o CD ao referido comunicador, que não titubeou em pegar, pois se tratava de um artista conhecido, e logo se dispôs a fazer a primeira audição comigo, pois seria um privilégio, no bilhete que acompanhava o artista havia escrito que não mandara pela rede, pois poderia “vazar”, era música inédita. Entramos no estúdio da rádio e tracamos o CD no aparelho, segundos de ansiedade, o que iríamos ouvir?

Espera…espera…e nada de rodar a encrenca, tira, bota , bota, tira e nada! Pega ele na mão chama o técnico da rádio e este pega e diz: “Ihhh….sinto muito isso aqui é um CD pirata e falso, no aparelho aqui da rádio não toca, mas vamos ali no meu carro, que o que tenho lá comprei no Paraguai e toca todos, originais ou piratas”.

Oiiinnn…Quebrei a cara novamente. Fui para casa e, na tardinha, fui ao mercado fazer compras já intrigado com os acontecimentos do dia. Paro no posto de gasolina pra abastecer o carro e sou surpreendido por um velho amigo músico, isso me animou, até comentei com minha mulher: ”Esse é verdadeiro!”. E conversamos. “Por onde andaste vivente?” Ele então começa o relato de que ele e seu companheiro de música resolveram passar uma temporada em São Paulo, tentando a sorte com suas músicas verdadeiras.

“Que bonito! Mas e ai? Estão passeando então?”. Ele me responde: “Não, meu amigo, quebramos a cara, só conseguimos dinheiro pra voltar quando me veio a idéia de colocar meu óculos escuros e agarrar no ombro do meu guitarreiro fingindo ser um cego! Por que com o que fizemos de verdadeiro não deu nem pra passagem” Putz! E ainda me alertou “te cuida com este posto de gasolina que um dia desses li na internet que vendem combustível adulterado aqui, ou seja, falso, trazendo um dano irreparável ao seu carro. Abre o olho, quem avisa , amigo é!”

Apavorado vou a outro posto, pelo sim pelo não! Sabe Deus! Abasteço desconfiado. ‘Bora pro mercado mais intrigado ainda. Entramos, pegamos o carrinho e logo na primeira prateleira um belo cartaz: “Lançamento! Chegou a nova Fanta Guaraná”. Resolvi comprar. Quando experimentei em casa, vi não ter gosto nem de Fanta , nem de Guaraná. Refrigerante falso? Que saudades da Gasosa do “Véio” Kempz que tinha o gosto verdadeiro da fruta. Que saudades do verdadeiro. Ó céus, ó vida! Pare o mundo que eu quero descer!

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a imagem que ilustra esta crônica é uma reprodução da internet.