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INTOLERÂNCIA. Sociedade Israelita divulga nota denunciando atos que considera antissemitas em SM

“Importante referir que o povo judeu, ao longo dos anos, resistiu, mesmo sendo perseguido, desterrado, quase exterminado, com o único propósito de sobreviver”, afirma nota da Sociedade Beneficente Israelita de Santa Maria divulgada nesta quinta (24). Foto Facebook

Por Maiquel Rosauro

A Sociedade Beneficente Israelita de Santa Maria divulgou uma nota, na manhã desta quinta-feira (24), no qual critica atos que considera antissemitas na cidade. A entidade cita como exemplo a exposição do livro Minha Luta, de Adolf Hitler, na Livraria da Mente, e também os desenhos de cunho nazista na UFSM.

O texto é assinado pelo advogado Bruno Seligman de Menezes, no qual afirma que não serão toleradas atitudes que busquem minimizar a dor de seus antepassados. Confira abaixo a nota na íntegra:

Nota da Sociedade Beneficente Israelita de Santa Maria – Antissemitismo em Santa Maria

Nas duas últimas semanas, o mundo assistiu estarrecido à marcha racista ocorrida em Charlottesville. Com palavras de ordem, cartazes e cânticos supremacistas, buscavam afirmar a superioridade do homem branco, cristão, heterossexual.

Movimentos como este crescem em meio a um mundo de intolerância e ódio. Os acontecimentos hediondos que marcaram a metade do século XX de nada serviram de aprendizado de tolerância e respeito ao próximo.

O que não contávamos, entretanto, é que tais fatos chegariam a Santa Maria. No último mês, dois episódios chamaram a atenção da Sociedade Beneficente Israelita de Santa Maria, ambos devidamente documentados abaixo, e com o acompanhamento próximo da Federação Israelita do RS.

O primeiro, foi a exposição do livro “Minha Luta”, de Adolf Hitler, na vitrine da Livraria Da Mente, no Calçadão de Santa Maria. Ainda que se admita a importância histórica deste livro, a acadêmicos e curiosos, o fato mais grave é sua exposição em uma vitrine. Quando uma obra desta natureza é chamariz, significa que o racismo é um produto vendável.

O segundo fato foi a denúncia responsavelmente feita por membros do Diretório Livre do Direito – UFSM, que ao chegar em sua sala – que é aberta a toda a comunidade acadêmica – depararam-se com desenhos de cunho nazista em suas paredes. Ainda sem a identificação dos responsáveis, o fato foi imediatamente comunicado à Federação Israelita de Santa Maria e à Polícia Federal – PF, que instaurou inquérito.

Em pleno 2017, não se admitem desenhos desta natureza, nem mesmo como ‘brincadeira’. Não se brinca com a memória de 6 milhões de judeus exterminados em campos de concentração.

O que mais assusta é que o ‘ovo da serpente’ esteja sendo chocado no berço da intelectualidade santa-mariense (livraria e universidade).

Impossível não associar os fatos acima, com importante passagem histórica, em que o arbítrio e a tirania tentaram se ocupar dos privilegiados espaços da cultura e do conhecimento. Era 12 de outubro de 1936 e o salão de honra da Universidade de Salamanca estava lotado de estudantes, professores e falangistas (fascistas espanhóis) para as comemorações do “Dia da Raça”.

O General Millán Astray tomou a palavra e iniciou seu discurso amaldiçoando os bascos e catalães, prometendo que o fascismo iria exterminá-los, ao que alguém gritou da platéia “Viva la Muerte”.

O reitor, Don Miguel de Unamuno, indignado com o que estava ouvindo ergueu-se então. Virou-se para o general Astray e disse-lhe que não poderia permitir que bascos e catalães fossem vilipendiados na sua presença. E que também não aceitaria que em plena casa da sabedoria viessem aclamar a morte, com “um brado necrófilo e insensato”.

Atribuiu aquele desvario todo ao fato do general ser “um aleijado destituído da grandeza moral de Cervantes” (Astray era um militar mutilado pela guerra), que tendia a compensar-se da sua desgraça procurando mutilações ao seu redor.

Nesse momento, ao escutar as derradeiras palavras de Unamuno, o general Astray furioso e de pé, fazendo a saudação fascista, bradou: “Abajo la Inteligencia!”, complementando com mais um “Viva la Muerte!”.

Unamuno não se intimidou. Voltou-se para ele e disse-lhe: “este é o templo da inteligência. E eu sou o sacerdote mais alto. Sois vós que profanais este sagrado recinto. Ganhareis, porque possuís mais do que a força bruta necessária. Mas não convencereis – Venceraos pero no convenceraos! – porque para convencer é necessário persuadir. E para isso vos falta a razão e o direito em vossa luta.”

Por fim, importante referir que o povo judeu, ao longo dos anos, resistiu, mesmo sendo perseguido, desterrado, quase exterminado, com o único propósito de sobreviver. Em Santa Maria, berço da imigração judaica no Sul do Brasil, os primeiros colonos receberam uma gleba de terra improdutiva, e, com muito trabalho e esforço, fixaram raízes no coração do Rio Grande e se destacaram pelo comércio, pelas ciências e pelo pensamento.

Hoje, a Sociedade Beneficente Israelita de Santa Maria a mantém aberta uma Sinagoga, mesmo com poucas famílias judias em Santa Maria, mesmo com dificuldades, a fim de que possamos nossas crenças e reavivarmos nossas tradições.

Não toleraremos qualquer atitude que vise minimizar a dor de nossos antepassados, ou de sufocar nossas raízes, crenças e cultura. Temos a plena confiança nas instituições que encabeçam as competentes investigações, bem como na Reitoria da UFSM – Universidade Federal de Santa Maria, na pessoa do Prof. Paulo Afonso Burmann.

Conclamamos a comunidade santa-mariense, gaúcha e brasileira, assim como nossos irmãos cristãos, muçulmanos, espíritas, umbandistas para juntos fazermos uma corrente de respeito e tolerância, sufocando discursos de ódio isolados, mas que põem em risco nossa existência pacífica.

O fascismo, o nazismo e a intolerância NÃO PASSARÃO!

Santa Maria, 24 de agosto de 2017.

Bruno Seligman de Menezes
Presidente da SBISM

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4 Comentários

  1. Bueno, o caso da livraria. Olhando a foto observa-se o livro abaixo do Mein Kampf. É o diário do Reichsleiter Alfred Rosemberg, teórico racial chefe do NSDAP e um dos principais idealizadores da Shoá. Não é muito famoso, mas era importante.
    Voltando aos ianques. Ninguém falou em derrubar monumentos de personalidades que “passaram o rodo” nos nativo-americanos. Pois é. Os supremacistas brancos gritavam “Jews will not replace us”. Remete a outra linha de pensamento, a autores polêmicos tais como o francês Renaud Camus. Questão aqui é “atirar” no que se vê por ser mais fácil e deixar passar algo mais importante.

  2. Desenhos no Diretório Acadêmico podem ser “brincadeira”, podem ser provocação ou pode ser uma tentativa de rotular os membros da agremiação de nazistas (tem gente que adora rotular os outros). Tendência a dar em nada.
    La Pasionaria falou o “não passarão” e, como todos sabem, passaram. Alás, tentaram usar no Brasil como se novo fosse e não funcionou também.

  3. Editor tinha que dar jeito num contador de linhas/caracteres. O resumo do circo nos EUA (falaram até em segunda guerra civil) é tentar derrubar o Trump ou inviabilizar o governo do sujeito. CNN passa 24/7 malhando o sujeito, atentado na Espanha chegou a ficar em segundo plano. Boa sorte a todos os envolvidos.

  4. O que aconteceu em Charlottesville não é bem o que teve maior destaque na imprensa. Pessoal do politicamente correto (que alguns identificam com o marxismo cultural, o que é naturalmente negado por outros; a raiz é a teoria crítica) e o combate às “micro-agressões” que leva a reações exageradas, patrulhamento, etc., derrubou monumentos relativos à Guerra Civil americana. Foram ajudados pelos Antifas (Black-Blocks), grupos anarquistas e anti-capitalistas. Houve reação de parte da sociedade (maioria da população é a favor de manter os monumentos por motivos cultuais/históricos) e apareceram os neonazis e os supremacistas brancos.
    Antifa de “antifacista”. Se você é contra o antifacista conclui-se que é fascista. Se não condenar os fascistas o suficiente conclui-se que é fascista. O “suficiente” é determinado pelos Antifas e pela imprensa.

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