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A história de Dona Eli, a culpada. E a reação do internauta

No início da noite, no programa Pampa Boa Noite, foi apresentada uma reportagem tocante. Uma senhora, Dona Eli, desempregada, há algum tempo precisou de uns exames clínicos. Na ocasião, foi-lhe dito, pelas “autoridades” de saúde (registre-se: municipais, estaduais e federais), que, pelo SUS (Sistema Único de Saúde), só poderia fazês-lo dentro de sei lá quanto tempo.
      Ela não pôde esperar. Sacou de R$ 150, dos R$ 320 que recebe de seguro-desemprego (com os quais sustenta, sozinha, dois filhos menores – um dos quais com problemas mentais – em sua humilde residência na periferia) e bancou os exames numa instituição particular.
      Depois de tuudo isso, marcou, para conferir os resultados, uma consulta em uma instituição de saúde municipal, para ontem (ou anteontem, não lembro exatamente). Ao chegar, no dia marcado, ficou sabendo que não poderia ser atendida, pois o médico entrara em férias 48 horas antes e não havia substituto. É absolutamente deprimente esta situação. Ela sequer foi avisada disso, o que poderia determinar a antecipação da consulta. Sequer se questionam as férias, afinal um direito de qualquer trabalhador. Mas o fato de a burocracia da saúde simplesmente não ter avisado a cidadã (embora a informação, inclusive telefone, estava disponível)
      Pois bem, fiz meu comentário diário sobre isso, dizendo, para resumir, que , já que ninguém assume a culpa por isso e todos têm explicações, explicações e explicações (e não soooooluções), imagino que a “culpa” de tudo isso seja de Dona Eli. Ela é a culpada – afinal é pobre. E fácil de ser responsabilizada. Ao contrário de todos os outros integrantes da cadeia de atendimento à saúde da população mais pobre, exatamente como ela.
      Minha indignação foi compartilhada por um internauta. Trata-se de um funcionário público estadual que tem todas as razões do mundo para temer represálias. Por isso, vou reproduzir o e-mail que ele me enviou, omitindo-lhe o nome. Vamos chamá-lo, simplesmente, de João. Tão zangado quanto muitos outros joões, e “Elis”, que existem por todo canto.
      Leia a correspondência. Que publico sem fazer juízo de valor. Apenas respeitando o que o internauta pensa e escreve. O mesmo respeito, convenhamos, que as autoridades, em regra, não têm para com os cidadãos. E respeito, perdoa a repetição, é o que se exige. No mínimo.
     
      Prezado Claudemir:
      Täo indignado quanto você fiquei eu, ouvindo teu comentário esta noite na TV Pampa. Levei tantos anos para descobrir que o culpado também sou eu.
      É inconcebível a situação da Dona Eli e de tantas outras pessoas.
      Há alguns dias atrás saiu uma reportagem em um jornal local, a respeito do cumprimento de carga horária pelos serviços médicos (especificamente médicos, pois os outros profissionais da área da saúde normalmente, com raras exceções, cumprem suas cargas horárias).
      Tem-se contratos para 20, 30, 40 horas, e cumpre-se quanto? 20 horas por semana, seriam 4 horas por dia, 5 dias na semana. Por quantas horas os podemos encontrar?
      Consultas de 5 minutos têm grande resolutividade, mas não resolução. Além do número de atendimentos, estes precisam ser de boa qualidade.
      Em 2004 ou 2003, não lembro muito bem, a prefeitura queria ou fez um acordo com os médicos, só com os médicos, sobre as cargas horárias. Como não poderia dar aumento, permitiu ou permitiria que estes cumprissem uma jornada de trabalho menor que a contratual.
      Fiquei tão injuriado como hoje, pois todas as áreas da saúde fazem o mesmo concurso público, e o tratamento deveria ser igual para todos e não para classes específicas, como no caso da carga horária. Injuriado também fiquei quando a prefeitura começou a pagar um adicional por Responsabilidade Técnica a alguns funcionários, que teoricamente estão no mesmo patamar, padrão, formação, etc de outros tantos que não receberam. Isto simplesmente duplicou certos salários.
      Quando colocamos companheiros políticos a frente de cargos técnicos, este é o resultado: caos. E não adianta o Secretário de Comunicação ou sei lá o que , dizer em periódico local nesta semana, de todos os projetos, ações, etc. que estão sendo realizadas na área social e na saúde. Pois o que vemos na prática é o desrespeito pelas pessoas, pelo ser humano.
      Pergunte sobre os medicamentos dos programas básicos, como o de diabetes, e outros tantos.
      Temos que levantar nossas vozes contra a inoperância, contra a falta de alternativas, contra a troca constante das pessoas que são responsáveis pela vida da população.
      Não podemos mais admitir cabides de empregos. Não é porque perdeu-se uma eleição em nível estadual, que devemos trazer todos os companheiros para inchar o funcionalismo a nível municipal, com CCs e gerências, criadas em número suficiente para os dar abrigo.
      O desabafo não termina aqui; o que termina aqui é minha paciência.
      (a) João

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