Política

ENTREVISTA. “O Novo não quer fazer dar certo, quer fazer o certo”, aponta o empresário Jacques Eskenazi

Eskenazi vai participar do processo de seleção de candidatos do Novo e, se aprovado, concorrerá a deputado estadual. Foto Maiquel Rosauro

Por Maiquel Rosauro

Em um cenário onde a crise política aparenta ser interminável, surge um partido que assegura ser diferente de todas as outras siglas presentes no país. O Novo é a agremiação que desponta defendendo uma cartilha liberal, limitando o carreirismo político e se posicionando como uma alternativa a quem está indignado com os partidos tradicionais.

A agremiação foi fundada em 2011 por um grupo de 181 pessoas sem vinculação com a política, a maioria formada por profissionais liberais, como empresários e representantes do ramo financeiro. Em 15 de setembro de 2015, o partido teve seu registro deferido no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Ano passado, participou pela primeira vez de um processo eleitoral, com candidatos aos parlamentos de Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Belo Horizonte. Apenas na capital paranaense, a sigla não elegeu ninguém.

O Novo pode ser compreendido como um partido de direita, ideologicamente alinhado ao liberalismo. Todavia, rejeita tais rótulos. Além disso, também não se posiciona sobre temas polêmicos, como aborto e legalização de drogas ilícitas.

A sigla defende o estado mínimo, a privatização de estatais e um estado democrático que preserve as liberdades individuais. Diferencia-se por cobrar uma contribuição mensal de todos os filiados e por não utilizar o fundo partidário.

Em Santa Maria, o Novo ainda não possui diretório. Um de seus principais representantes na cidade é o empresário Jacques Eskenazi, ex-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL).

Para compreender as propostas e objetivos do Novo, o site entrou em contato com o empresário, que imediatamente concordou em conceder uma entrevista. O encontro foi realizado em seu escritório na loja Sibrama, na Rua do Acampamento.

Site – Qual o principal diferencial do Novo?
Jacques Eskenazi – O Novo não realiza coligações. Para isso ocorrer, seria preciso haver um partido com os mesmos valores, algo que, hoje, dificilmente ocorreria.

Site – Percebo que o Livres possui uma ideologia próxima ao Novo. Seria possível se coligar com eles?
Eskenazi – O Livres, de fato, se aproxima do Novo, mas eles não possuem outro diferencial que temos: não usamos o fundo partidário. Ou seja, não contamos com dinheiro público para sustentar o partido.

Site – Como vocês fazem para manter o partido?
Eskenazi – Cada filiado contribuiu mensalmente com R$ 28,23. O Novo vive de quem acredita na ideia. Hoje, somos cerca de 30 filiados em Santa Maria.

No Novo não há nenhum cacique, o partido é horizontal.

Site – Como o senhor descobriu o Novo?
Eskenazi – Quem me apresentou foi a Elizabeth Flores (atual vice-presidente da CDL). Ela viu uma reportagem na Veja e veio acompanhando o crescimento do partido, até que se filiou pela internet. Logo depois, o pessoal do diretório de Porto Alegre veio fazer uma apresentação e começamos a atuar com o partido.

Site – Como o partido está organizado na cidade?
Eskenazi – Estamos nos tornando um núcleo do Novo em Santa Maria. Ainda não temos um presidente porque não há um diretório, o que só será possível quando tivermos, no mínimo, 120 filiados. No Novo não há nenhum cacique, o partido é horizontal.

Site – Quem pode se filiar no Novo?
Eskenazi – É preciso ter ficha limpa e realizar a filiação através do site. Se a pessoa acreditar em nossas ideias e não tiver interesse em se filiar, pode apenas fazer uma doação através do site.

Site – Quem costuma se filiar no Novo? Empresários são o público-alvo?
Eskenazi – Como eu atuo neste ramo, temos alguns empresários reconhecidos que se filiaram ao Novo. Mas é um partido de todos, de pessoas que querem fazer a diferença. Temos advogados, professores e muitos estudantes filiados. Enxergo o Novo com uma ferramenta de mudança para quem quer fazer algo diferente.

Site – Hoje, são quantos filiados no Estado e no país?
Eskenazi – São cerca de 13 mil no país e mil no Estado. A maior dificuldade que vejo para aumentar a adesão é o fato de ter que contribuir mensalmente. Isso, às vezes, afasta as pessoas. Mas é igual a um clube ou instituição, onde quem é sócio contribui. Hoje temos um grupo de apoiadores em Santa Maria, cerca de 80 pessoas, que cogitam se filiar. Vai levar um tempo para as pessoas entenderem a importância da contribuição, mas essa é a forma correta de mantermos o partido.

Site – O senhor acredita que o Novo deveria servir de exemplo aos demais partidos?
Eskenazi – Sim, não deveria haver fundo partidário. Imagina se todos os partidos do país seguissem a ideia do Novo. O dinheiro do fundo partidário iria para a educação, saúde e segurança. É nisso que acreditamos, o Estado tem que dar essa infraestrutura para as pessoas.

Site – O Novo pode ser entendido com um partido de direita?
Eskenazi – Os valores do partido defendem o livre mercado e o estado mínimo, mas preferirmos não rotular em direita ou esquerda. Se você quer saber como um político filiado ao partido vai votar em determinada pauta, basta ver nossos valores. Se a matéria for sobre um tema que o Novo não se posicionou, como a liberação da maconha, por exemplo, o eleito é livre para votar conforme seu pensamento.

Site – Como são escolhidos os candidatos do Novo?
Eskenazi – O Novo separa candidatos e direção do partido. Se a pessoa faz parte da direção, não pode ser candidata a cargos políticos. No mínimo, um ano antes, preciso sair do cargo para se candidatar. Além disso, o Novo faz um processo seletivo para os candidatos divididos em cinco etapas: prova, prova de vídeo, entrevista, reunião e convenção.

A Uber, o Airbnb e o Nubank começaram pequenos e olha como estão hoje.

Site – Por que tantas etapas?
Eskenazi – Para ver se o candidato está alinhado aos valores do Novo. Se vou pleitear um cargo de deputado estadual, por exemplo, tenho que saber o que faz um parlamentar, para que serve a Assembleia Legislativa. Passando pelo processo, o candidato estará habilitado a concorrer e terá condições de, caso eleito, exercer o cargo.

Site – Atuando desta forma, o senhor não acha que Novo levará muito tempo para crescer como partido?
Eskenazi – O Novo não quer fazer dar certo, quer fazer o certo. Mesmo que leve mais tempo. A Uber, o Airbnb e o Nubank começaram pequenos e olha como estão hoje. Os três se diferenciam pela transparência e a ética. É a mesma filosofia do Novo. Não temos nada a esconder. Se o filiado entrar no site vai ver para aonde está indo o dinheiro, pois apresentamos todos os balanços. O filiado sabe como vai ser investida sua contribuição mensal.

Site – Quais ações são planejadas pelo Novo na cidade?
Eskenazi – Temos um grupo de voluntários que realiza de uma a duas reuniões mensais. Uma vez por mês vamos para a rua para divulgarmos o partido e, dias depois, locamos um local para fazer uma apresentação. Também temos uma fanpage que ajuda as pessoas a conhecerem nosso trabalho.

Site – O senhor pretende ser candidato em 2018?
Eskenazi – Pretendo participar do processo seletivo do partido, que será aberto em breve. Se eu for aprovado, vou colocar meu nome a disposição na condição de candidato a deputado estadual. É importante salientar que no Novo não há carreirismo político. Só é permitido ser reeleito uma vez para o mesmo cargo.

Site – A eleição de 2018 será fundamental para dar visibilidade ao Novo?
Eskenazi – O partido precisa disso. O Novo busca pessoas que compartilhem da mesma ideia. Todo o processo de seleção do candidato é pago. A primeira fase custa R$ 300 e a segunda R$ 600. Quem vai se candidatar tem que estar pronto para conseguir fazer uma captação e ter recurso para colocar. O dinheiro que pagamos é para manter o partido.

Site – Como o senhor analisa a política santa-mariense, na Prefeitura e na Câmara?
Eskenazi – Todos entram criticando os antecessores, mas acabam cometendo os mesmos pecados. Vejo uma boa vontade nos governantes, mas ainda não conseguiram apresentar algo diferente. Eu torço para que tudo de certo, porém os compromissos políticos são muito fortes. Esse é o problema das coligações. Quando se coligam, ficam na obrigação de ajeitar espaço para todo mundo.

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6 Comentários

  1. Um exemplo ao acaso, poderia ser qualquer outro: o que tem a ver um advogado na gestão de uma secretaria de mobilidade urbana? “TUUUDO A VERR…”, gritaria Galvão Bueno, no viés político de sempre, surreal. Mas e funciona? Onde? Agora coloquem na cadeira uma competência qualificada por uma academia. Essa resolve, é eficiente porque sabe, e daí funciona.

    A política serve para o oposto, para qualquer um sentar em qualquer lugar, fazendo o jogo de interesse político de sempre, pequeno. Quais os resultados daí? Olhem para esse país. A política é uma grande forma de afugentar qualquer competência para longe. Tão longe como o Canadá, por exemplo.

  2. Não precisamos de ideias, precisamos de conhecimento balizado aplicado.

    Precisamos que competências qualificadas pelas academias sentem em cadeiras de gestão em suas respectivas áreas, não para fazer política ou aplicar ideologia, mas para colocar em prática conhecimento, doa a quem doer.

  3. A negação a ideias novas anda junto com o desconhecimento das mesmas. Conhecer antes de tecer diagnósticos é no mínimo imprudente, pra não dizer pedante. Mensalmente o NOVO está se apresentando e mostrando porque possui ideias institucionais que podem revolucionar as formas que fazer política. Recomendo se fazerem presentes.

  4. E a entrevista, o que tem a ver com isto? A falácia. “A Uber, o Airbnb e o Nubank começaram pequenos e olha como estão hoje.” De onde sai a pergunta: e quantos outros começaram pequenos e sumiram? Foram citados só os exemplos de sucesso porque são conhecidos, os insucessos sumiram na poeira da história. Eram todos sem transparência e ética? Óbvio que não. RH do partido também é diferente, mas não garante o mais importante para um partido crescer: votos. Partido horizontal? Faltam lideranças. Qualquer coisa muito “idealizada” tende a não funcionar.

  5. Santa Maria é uma cidade onde uma falácia bem colocada funciona bem. Alguém outro dia saiu com “inteligência é inteligência em qualquer lugar”. Óbvio que não. Se em 1905 tirássemos Einstein (magicamente) da Suíça e o largássemos no meio da Amazônia, o que aconteceria? Ele estaria morto em 24 horas, muito provavelmente. Se colocássemos um nó-cego no lugar do gênio na Suíça? Obviamente não publicaria os artigos famosos e nem desempenharia as funções normais do escritório de patentes. Se colocássemos o nó-cego na Amazônia? Sem comentários. Conclui-se que a imbecilidade é a mesma em qualquer lugar. Inteligência precisa de contexto.

  6. Saber como funciona a Assembleia para pleitear vaga como deputado é o mínimo do mínimo, ou seja, muito pouco. Para ver como está braba a coisa, os outros partidos nem isso faziam.

    Fazer diferente não significa que há intrínseca competência e qualificação para fazer o CERTO.

    Fazer o CERTO também passa longe de ideais (ideologia).

    Nossa democracia ainda engatinha longe rumo a uma representação para uma gestão pública realmente qualificada.

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