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Setembro – por Orlando Fonseca

Quando entrar setembro… dizia a canção popular, com a intenção de levantar o ânimo e a esperança. A perspectiva da primavera deve ter infundido tal impressão no poeta e cantor. O cinza e a atmosfera pesada que vestem os dias no modelo outono/inverno também penetra nos recônditos das almas mais sensíveis. Setembro seria o contrário do mês de agosto, que o imaginário popular consagrou como um mês aziago, agourento, e alguns fatos históricos, no Brasil e no mundo, ajudam a aprofundar a aura lúgubre.

Do ponto de vista patriótico, setembro deveria trazer a alegria e o orgulho de pertencimento, tanto para brasileiros como para os rio-grandenses. Se tomássemos como referência apenas os eventos históricos que as datas comemorativas celebram, deveria. No entanto, o que a conjuntura atual impõe a nós – todos, do Oiapoque ao Chuí – é a péssima impressão de que o ano virou um agosto – ao menos o da imaginação popular – sem fim.

Entre malas de dinheiro, prisões, denúncias, tornozeleiras eletrônicas, delações, vazamentos, subidas e descidas do dólar e das cotações da Bolsa, o desemprego assombrando os jovens e pais de família, a inflação corroendo os salários e retirando a possibilidade de bancar as necessidades básicas, quanto menos a de ser feliz, o brasileiro desconhece o que é da vida republicana; depara-se estarrecido – ou bestializado – diante do que poderia ser tomado como Nação, a sua Pátria.

Nesse cenário, não é fácil celebrar os símbolos pátrios e deixar aflorar o orgulho, sem uma ponta de constrangimento. Os fatos históricos perdem relevância no horário nobre: o grito da Independência não passa de uma bravata, diante de personagens caricatas e cenas de traições, vilanias e erotismo gratuito. A história do Brasil passa no horário das 6, como novela de época, sem a relevância que os fatos políticos da atualidade ganham nos telejornais da noite.

Da mesma sorte, ao ouvir, ou ler – isso já é para privilegiados – sobre o que o governador do Rio Grande do Sul está fazendo com as políticas públicas de segurança, recuperação de estradas, impulso ao desenvolvimento, certamente terá a impressão de que em breve teremos de mudar o nome desta antiga e gloriosa Província de São Pedro. Não é para Estado de Calamidade, mas Rio do Sul. Onde restaram inúteis as nossas façanhas? E aquela “aurora precursora” onde foi acender o seu farol?

O 20 de setembro não passa de uma festa para celebrar uma fantasia: a de que somos “fortes, aguerridos e bravos”; que, por nossas virtudes, não vamos acabar “escravos”. Ora, com 350 pilas na guaiaca, vai ser difícil. E não é apenas do ponto de vista do servidor que esta façanha não serve de modelo, o fato de o Estado não dispor de valores para manter a dignidade da remuneração de seus trabalhadores é um indício de que perdemos a grandeza. E isso é para chorar, e não para celebrar, neste setembro com cara de agosto.

No entanto, não é só de orgulho que se vive. Também nos serve de motivação a esperança. O sol da primavera pode trazer de volta a “aurora precursora”. Beto Guedes insistia no refrão da música –supracitada – que a semente do que sonhamos juntos pode crescer na voz “no que falta sonhar”. E não é preciso voltar às salas de aula, porque “a lição sabemos de cor, só nos resta aprender”.

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