“Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. Na poesia parece fácil, mas a sociedade cheia de defeitos em que vivemos vive insistindo para que nos encaixemos em determinados padrões. Não apenas as pessoas, mas os filmes também. E se não cabemos em caixinhas com rótulos, porque o cinema caberia? Algumas obras são capazes de falar de tantas coisas e tocar por meio da arte em tantas feridas que não conseguimos defini-las dentro de um gênero. Peles, primeiro longa-metragem do diretor espanhol Eduardo Casanova é desses exemplares que não possuem regras e, por isso mesmo, sua forma não permite encaixes perfeitos.
Seguindo o estilo visual kitsch, que já havia chamado a atenção da crítica em seus ótimos curtas-metragens como Fumando espero e La hora del baño, Peles reúne histórias de vários personagens que têm em comum o fato de terem alguma deformidade física. Já na escolha da temática o fantástico se faz presente, pois há uma mistura de situações reais com criações vindas da criativa mente de Casanova. A ótima atriz Macarena Gómez, uma das atrizes-fetiche do diretor, interpreta Laura, uma mulher que nasceu com uma pele sobre os olhos e trabalha como prostituta em um bordel que tem como “diferencial” oferecer homens e mulheres com algum problema físico. O choque fica por conta de Laura ser mostrada no início do filme como uma menina de 11 anos e já “funcionária” do estabelecimento. Casanova não está preocupado em causar desconforto em seu espectador. E é por isso que merece ser visto e discutido.
Diferente do clássico Freaks, de Tod Browning, onde pessoas com nanismo ou que não possuem algum membro eram colocadas como atrações de um circo, Peles traz estes personagens para o cotidiano, vivendo suas vidas como qualquer outra pessoa. Não há uma preocupação em explorar situações que inspirem piedade. Samantha, interpretada por Ana Polvorosa, outra colaboradora constante de Casanova, possui um ânus no lugar da boca e tenta ser uma adolescente como outra qualquer. Se realizar algumas coisas comuns do dia-a-dia geram situações estranhas, o diretor traz humor para estes momentos. Mas é um riso nervoso e ele sabe disso. Somos convocados a pensar sobre algumas piadas que ouvimos todos os dias e que sabemos que não deveríamos achar graça. O insólito nos diverte, mas por trás dele existe alguém que sente como nós. Casanova os colocou em um filme e elevou na décima potência para nos tirar o sono…”
CLIQUE AQUI para ler a íntegra de “A pele que habitamos”, de Bianca Zasso. Nascida em 1987, em Santa Maria, Bianca é jornalista e especialista em cinema pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Cinéfila desde a infância, começou a atuar na pesquisa em 2009. Suas opiniões e críticas exclusivas estão disponíveis todas as quintas-feiras.
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