EsporteSanta Maria

ESPAÇO ALVIRRUBRO. Derrota em Pelotas e a magia do rádio, nas palavras de Leonardo da Rocha Botega

O Rádio, a falta de atenção e o novo tropeço Alvirrubro

Entre as invenções da modernidade o Rádio é aquela que mais nos aproxima da emoção. Ouso afirmar que nem mesmo o italiano Guglielmo Marconi, responsável por estabelecer em linha telefônica os sinais de rádio, tinha noção do quão revolucionária tal invenção seria. Reforço esta afirmação tomando por base o próprio nome que Marconi deu àquela invenção: telégrafo sem fio. Ora! Quem tomado pelos mais puros sentimentos humanos que aquelas vozes distantes transmitem iria chamar o instrumento que as permite de um nome tão desapaixonado?

Talvez por isso que, em 1943, a Suprema Corte dos Estados Unidos tenha reconhecido Nikola Tesla como o seu inventor e não o vencedor do Prêmio Nobel de Física em 1901. Afinal, o que é um Prêmio Nobel diante daquilo que a palavra Rádio significa para as pessoas? Apesar da péssima escolha do nome, o físico italiano se redimiu. Foi responsável pela primeira transmissão de rádio: a regata de Kingstown. Nascia ali uma fusão que por si só é pura emoção: Esporte e Rádio.

Esporte e Rádio se casaram com comunhão total de bens e durante muito tempo não tiveram nenhuma ameaça a sua felicidade. Com relação ao futebol, foi somente em 1954 que a primeira Copa do Mundo foi transmitida pela televisão, porém, apenas poucos abastados cidadãos europeus de 8 países puderam assistir. No Brasil, a primeira Copa do Mundo transmitida pela TV foi a de 1962, mas seus jogos não eram transmitidos ao vivo.

Assim, foi pelas vozes de Pedro Luiz e Edson Leite que muitos brasileiros escutaram Pelé, Garrincha, Didi, Vavá e companhia conquistarem a Copa de 1958. Em Santa Maria, às vozes de Marion Mello, André Campos, Paulo Corrêa, Marion Bittencourt, Cezar Saccol, Luiz Carlos Druzian, Claúdio Pacheco, Raero Monteiro, Vicente Paulo Bisogno e Leonel Colvero foram imortalizadas no belo documentário, dirigido pelo grande Luiz Alberto Cassol, “Faltam 5 minutos”.

O que seria de nós torcedores alvirrubros sem aquelas narrações que eternizaram o dia 29 de setembro de 2007? Pois bem, foi através das ondas do Rádio que, desde a Satolep cantada por Vitor Ramil, eu e muitos outros alvirrubros acompanhamos a partida entre Bagé e Inter SM.

Sentado na sala, tomando chimarrão, a voz do locutor além de me fazer viajar até o sul do Estado, me fez viajar através do tempo. Na verdade, todas as transmissões de Rádio fazem isso comigo. Cada vez que ligo o Rádio lembro da minha adolescência e da frase até hoje pronunciada pela minha mãe: “Lá vem o Seu Rocha”. Seu Octácilio José da Rocha era meu avô, um ferroviário que ficou imortalizado na memória afetiva da família pela companhia inseparável de seu Rádio.

Na tarde de sábado não saía da minha memória o personagem Juca Pirama da novela Salvador da Pátria e o seu bordão (retirado do poema I-Jucá Pirama de Gonçalves Dias): “Meninos, eu vi!”. Bem, eu não vi, mas aquilo que escrevi na última semana se confirmou (gostaria muito que não tivesse se confirmado): foi um jogo triste (apesar do sol e da mudança que possibilitou ter torcida no jogo).

Meninos, meninas e meninxs, eu não vi! Meninos, meninas e menixs, eu ouvi! Eu ouvi uma pré-jornada onde a esperança na recuperação diante da derrota sofrida no último domingo estava sempre presente. Que, infelizmente, não esteve presente durante todo o jogo! Futebol não é como maratona, onde na maioria das vezes empolgados corredores saem na frente e na sequência vão dando lugar aos que melhor preparam sua estratégia diante do desgaste físico.

Futebol são 90 minutos (às vezes mais) de atenção e vontade. Muitas vezes é isso que supera a menor qualidade técnica diante de um adversário. E eu ouvi o locutor alertar, aos 8 e aos 9 minutos, que o ataque adversário estava avisando que era preciso mais atenção. Eu ouvi, a nossa defesa não! Aos 15 minutos, o Bagé teve um gol anulado. E como quem protesta incisivamente quando não levam a sério os seus avisos, aos 16 minutos, Rafael Lima fez 1X0.

Aquela palavra pronunciada insistentemente por Carlos Marighela quando tomou a Rádio Nacional em 15 de agosto de 1969, anunciando a resistência contra os desmandos da Ditadura Civil-Militar, não saiu mais de minha cabeça: Atenção! Atenção! Para piorar, no intervalo falando ao repórter um de nossos jogadores ainda fala: “tomamos um gol por falta de atenção!”.

Imagina se por falta de atenção eu não interrompesse a gravação da música e deixasse a voz do locutor ser ouvida por todos os presentes na reunião dançante? Todo mundo sabe que, assim como na gravação de uma fita K7, a defesa do time tem que mostrar para o ataque adversário que existem os botões de pause e stop. Mas não! Nossos jogadores não conheceram este tempo! Quem mostrou a existência do pause e do stop para o nosso ataque foi a defesa do Bagé. Quando ela esqueceu disso o travessão e a trave tiveram a atenção necessária para parar a cobrança de falta do Chiquinho e a sequencia da jogada.

Perdemos! Tomo a liberdade de sugerir a Comissão Técnica e a direção do glorioso alvirrubro que pendurem faixas, escrevam nas paredes do vestiário ou até mesmo gritem pelos autofalantes do estádio a palavra Atenção! Afinal, o jogo do próximo final de semana contra o Santa Cruz passou a ser visto pela torcida como uma decisão e, no futebol, decisão e atenção são sinônimos!

Em tempo: Além do jogo no próximo final de semana contra o Santa Cruz pela terceira Rodada de Divisão de Acesso, na segunda-feira (12/03) às 17h, o Esporte Clube Internacional estará realizando um amistoso. Apesar de ser um horário não muito bom, quem puder vá prestigiar não somente o nosso alvirrubro, mas também o time sub-20 daquele time que passou a ter um lugarzinho especial no coração de cada torcedor mundo a fora: a Chapecoense!

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

2 Comentários

  1. Que bom ler palavras assim. Uma merecida, e sempre oportuna, reverência à Sua Excelência, o Rádio. Ainda hoje, com todo o apuro tecnológico, ele ruge nas boléias, nos táxis, vans, nas portarias, nas obras, ao lado da cama, e onde mais ouvidos queiram imediatismo na ocorrência, da notícia, fazendo, muitas vezes, o dileto ouvinte imaginar quem são os donos daquelas vozes que, tão famliares aos ouvidos, instigam imaginar os rostos. . Os radialistas que mencionastes, lembram os áureos tempos do futebol santamariense. Do nosso querido Coloradinho (em maiúsculo, sim), do simpático e sofrido Gandense. Parabéns pelo bom gosto, rapaz. O seu Rocha por aí, o seu Adair, por aqui, seu João, seu Antônio, seu José, dona Nair, tantos … Tem rádio no céu! Força e esperança no Interzinho. Dá tempo, inclusive prá ligar o alerta.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo