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ESPAÇO ALVIRRUBRO. As razões por que a Esperança permanence bem firme em Leonardo da Rocha Botega

Se… o “Se” não importa, o que importa é a esperança!

Era 1990, ano em que tivemos uma das piores seleções brasileiras de todos os tempos, onde a mania de copiar o que não é nosso terminou nos pés de um gênio e seu coadjuvante, Maradona e Caniggia. Naquele ano, não sei bem se antes ou depois da Copa do Mundo, um time de alguma das sétimas séries do Instituto de Educação Olavo Bilac chegava a uma decisão por pênaltis. Era o último pênalti e um menino de 12 anos correu para bater, o goleiro caiu para um canto e a bola caprichosamente bateu na trave do outro canto. Na hora o menino não chorou (na moral de se mostrar “homem” não era permitido chorar em público), ficou em silencio, pegou sua mochila e foi para casa.

No caminho, na solidão dos passos, engoliu o choro muitas vezes. Chegando em casa, esqueceu até a tradicional fome pós-jogo. No banho passou a questionar: “Se ao invés de deslocar o goleiro, eu tivesse dado um “bicudo”, o goleiro tinha jeito de ser medroso, fugiria da bola? Se tivéssemos feito um gol antes do final do jogo?”. Esse mesmo “Se” voltou a cabeça daquele menino algumas décadas depois após o primeiro jogo decisivo das semifinais da Divisão de Acesso entre o seu Inter-SM e o Pelotas. Um jogo de muitas emoções sempre tem espaço para o “Se”, ainda mais quando o alvirrubro inicia o jogo dominando o adversário. Foram muitos “Se”.

Se aos 4 minutos, tivesse um pé bem colocado para arrematar o cruzamento do Jardison? Se aquele chute do Theo, um minuto depois, tivesse encontrado as redes? Se aos 16 minutos, após aquela sequência de dribles do Pablo, a conclusão do Jackson (com direito a um lindo chapéu no zagueiro) tivesse sido gol? Com certeza teríamos uma placa na Baixada! Se não houvesse um zagueiro para tirar a bola de cima da linha quando Jackson encobriu o goleiro do Pelotas? Se não houvesse o descuido, aos 21 minutos, e a falta cobrada por Hugo Sanches não tivesse encontrado a cabeça do Giovani, não teríamos o 1×0? E se aquela bola chutada, mais uma vez pelo Jackson, após girar sobre o zagueiro, tivesse entrado? Ou aquela outra do Chiquinho que o goleiro tirou de soco? O segundo tempo seria outro?

Mas teve também o outro lado. Se no início do segundo tempo, Dionatan não estivesse na hora certa para afastar a bola em dois lances seguidos? Se o chute do Hugo Sanches, aos 24 minutos, fosse um pouco mais baixo? Se o João Paulo não tivesse bem colocado para defender o outro chute daquele pequeno camisa 10 da equipe pelotense aos 34 minutos e se o mesmo Hugo Sanches não tivesse chutado mal aos 39 minutos? Ou, voltando ao alvirrubro, se o goleiro Giovani, de grande atuação, não tivesse defendido o chute de Pablo logo no primeiro minuto do segundo tempo, ou o chute forte do Chiquinho aos 11 minutos? Se os chutes de fora da área de Chiquinho, aos 30 minutos, e de Paulo Henrique, aos 32 minutos, tivesse atingido o alvo? Por fim, se o time não tivesse tão ansioso por buscar o resultado e, no último dos contra-ataques do Pelotas, aos 42 minutos, Jean não tivesse conseguido o passe para o Hugo Sanchez e esse não tivesse conseguido deslocar o goleiro alvirrubro, não teríamos tomado o 2X0?

Aquele menino de algumas décadas atrás, depois do banho, entrou em seu quarto, lembrou do pai que havia falecido alguns meses antes, sentiu muita saudade. Bateu uma vontade daquela última partida de futebol de botão que não aconteceu. Só então ele chorou! Chorou e percebeu que na vida não há espaço para o “Se”. Como disse certa vez o poeta Fernando Pessoa, “Quem irá escrever a história do Se?”.  Percebeu também que há perdas mais duras do que aquelas do futebol. Que a vida nem sempre é justa, mas é preciso lutar para que ela seja, pois, tirando aquilo que não está ao alcance do humano, tudo pode ser mudado, tudo pode ser revertido. O nome disso é Esperança!

É a Esperança que faz o trabalhador enfrentar o ônibus lotado e o desprezo daqueles que se postam como uma “certa elite”. Tudo por um salário que não satisfaz as suas necedades básicas. É a Esperança que fez os torcedores alvirrubros rumarem à Baixada Melancólica (alguns contanto os trocados para o ingresso), baterem o recorde de público dos últimos anos e gritarem o nome dos seus jogadores. Essa Esperança de que temos um grupo de jogadores e uma comissão técnica que aprendeu a amar este clube, nem que seja apenas por uma temporada na vida nômade do atleta. Essa esperança de que temos um técnico que cresceu batendo bola nas quadras do João Belém e do Maneco e que quando criança ia na Baixada Melancólica torcer e participar dessa comunhão de afetos que é o futebol. É essa Esperança que carregaremos na bagagem para o jogo de volta! Eu tenho Esperança de que esses meninos que superam tanta coisa na vida para jogar futebol tem total condições de superar as adversidades para o jogo de volta!

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a fotoque ilustra esta crônica é de Diego Rodrigues

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