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A Luz do Portador – por Pylla Kroth

Em ocasiões passadas, abordei aqui de maneira rápida e superficial o assunto que trago no meu texto de hoje por sentir necessidade de expressar meus pensamentos a respeito dele mais uma vez, especialmente na data que se aproxima.

Alguns leitores haverão de lembrar, talvez, que quando escrevi o texto “O Mal Que Habite Bem Longe de Mim”, publicado aqui em 7 de fevereiro deste ano, fiz algumas observações  rápidas  sobre o universo do Rock’n’Roll do Heavy Metal e suas inúmeras ramificações, especialmente as consideradas “extremas”, serem “demonizados” e associados com o “mal” pelas pessoas leigas e alheias a este universo.

Comentei naquela ocasião sobre as questões performáticas, líricas e de visualidade das bandas de Metal extremo que propiciam esta associação por parte do público leigo, tais como o estilo de vocal gutural, vestimentas, maquiagem, e até mesmo letras com temáticas satanistas e|ou luciferianistas, mas que no fundo não passam de uma expressão artística.

Fato é que desde o seu surgimento o Rock ‘n’ Roll sempre sofreu “demonização” e é um mote ainda comum, e até mesmo explorado na literatura e no cinema, de que “o Diabo é o Pai do Rock”. Quem nunca ouviu isso? Que atire a primeira pedra. Ou, se preferir, que deixe as pedras rolarem, livres, leves e soltas, tal como ainda é e sempre foi o Rock!

E olha que vem chegando a data em que se costuma comemorar o aniversário simbólico deste rebento “diabólico”, aos 13 dias do próximo mês!

É por isto que pensei, nesta minha escrita de hoje, de abordar a questão trabalhada nas letras de algumas bandas por aí, de uma forma mais ou menos didática, sem querer ensinar nenhum vigário rezar nenhuma missa, mas a título de informação que me sinto no dever de compartilhar, já que nós, músicos, também somos de alguma maneira formadores de opiniões e conceitos e compartilhadores de conhecimentos, mesmo que através de simbolismos.

Estava eu ouvindo certa vez uma música de determinada banda, cuja letra achei belíssima enquanto ia lendo e traduzindo e ouvindo. E qual não foi minha surpresa quando comentei com minha mulher, que é fã da tal banda, o quanto aquela letra era bonita, assim como a melodia, e ela me respondeu: “sim, é linda! Toda vez que eles cantam essa, Lúcifer deve dar um sorriso!”.

E então percebi, quase estarrecido, que todo aquele cantar poético e de belas metáforas, sobre um ser de beleza indescritível e luz e brilho capaz de ofuscar todas estrelas do céu e de acender todos os sóis da criação, capaz de inspirar tanta adoração e de destruir dúvidas, suscitar revoluções, liderar hostes para a liberdade e abrigá-las em seus sonhos e protegê-las em sua Luz… na verdade era uma ode a Lúcifer!

Mas por que o meu espanto, afinal de contas? Perguntei a mim mesmo, depois de pensar um pouco. Pois de fato a letra toda fazia muito sentido se analisasse o mito que chegou até nós, sobre este ser misterioso, que desperta reações tão contraditórias, que vão desde a aversão até a adoração, ou indiferença, depende da pessoa, cuja “história” é bastante interessante e cuja existência é tão matéria de fé ou metafísica quando qualquer outro deus ou santo ou ser superior que seja associado ao bem, por exemplo.

Para começar, a luz está na origem do próprio nome Lúcifer, o primeiro nome do anjo caído, que significa basicamente “aquele que porta a luz”, ou simplesmente “o portador da luz”. A própria bíblia cristã o descreve como um dos mais poderosos dos primeiros anjos a nascerem, que junto dos seus irmãos teria contemplado o nascimento de todo o universo, e que ele era um daqueles com os quais o Criador falava quando disse “venham, façamos o homem à nossa imagem e semelhança!”, conforme descrito no Genesis.

Noutras passagens deste mesmo livro ele é apresentado como uma espécie de filho favorito, o querubim ungido que andava pelas pedras afogueadas, que era o mais belo entre os mais belos, perfeito foi criado até o dia em que se encontrou iniqüidade nele e caiu do céu feito um raio, segundo o autor por ter preferido se entregar ao orgulho, por querer ser adorado e cultuado pela humanidade no mesmo nível que o deus-criador, o que vinha constituir uma afronta ao pai que então simplesmente o expulsou de seu convívio.

E assim ele se tornou Satã, ou Satanás, ou simplesmente o Diabo, o que, acreditem ou não, significa apenas, nada mais que apenas “o adversário”! (Sim, ambos são a mesma “pessoa”, só pra constar!)

Sim, mas adversário de quem? Pois há outros que crêem diferente, que foi ele, Lúcifer,  quem abandonou o reino celestial e desafiou uma suposta tirania do criador e seus arcanjos e preferiu manter-se no amor pelas crianças humanas, preferindo ser exilado longe da luz divina e nos ensinar outros caminhos,  e segundo a bíblia do satanismo ou do luciferianismo, sua doutrina se resumiria nas seguintes palavras:  “não possuo servos, pois meus seguidores não são meus escravos e tampouco possuo ovelhas para que não sejam dominadas, porém possuo lobos, donos de si mesmos, que são guiados pela minha Luz”, enfatizando a tão sonhada liberdade de tomada de decisões, o livre arbítrio que os anjos não possuem por serem servos do criador e que ele tanto desejou a ponto de ocasionar a perda de suas asas e eventual queda.

Obviamente que tudo isto se trata de mito e crença, mas me pus a pensar cá comigo… “ora, se o Diabo é o Pai do Rock, como dizem por aí… e se o Diabo e Lúcifer são a mesma pessoa… e se Lúcifer é o “Portador da Luz”… hum… não seria o Rock a Luz do Portador???”

Que seja, que seja! E que seja uma luz capaz de abrir as mentes sobre a quais incidir, esclarecer os escuros recônditos da ignorância e dos preconceitos, que infelizmente ainda imperam em muitas plagas deste mundo. Que o Rock, em todas suas formas, possa brilhar!

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a imagem que ilustra esta crônica é uma reprodução do Google.

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