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Família – por Orlando Fonseca

Observando discursos – políticos ou não -, percebemos no pensamento conservador uma tese básica que envolve símbolos universais, os quais se dividem conforme segmentos ideológicos: pátria, família, propriedade e Deus. Nos slogans dos Integralistas, nos estandartes da TFP, nas manifestações da elite na Avenida Paulista, nas postagens dos sem-noção das redes sociais, formando quase sempre uma trinca, aparecem como pauta elementar.

E família é um dos itens comum em todos. Tanto para defender preceitos religiosos, quanto para justificar o direito à propriedade ou brandir imprecações preconceituosas em relação à diversidade de gênero. Parecendo democrático, humano ou cristão, esta ética na verdade, na real, na prática cotidiana é excludente. O sentido elevado do que propõe se reduz a nada, quando se observa a situação como a que a sabedoria popular cunhou no provérbio: “farinha pouca, meu pirão primeiro”.

Basta ver o que tem acontecido nos EUA dirigido pelas diatribes de Donald Trump. Que não está sozinho em suas bravatas. Os republicanos o elegeram, aliados a americanos de informação rala e sem profundidade política, e agora estão com uma batata quente nas mãos.

Não fosse a superpotência que é, em termos econômicos e bélicos, poderíamos deixar que eles se arranjassem por lá. No entanto, o desarranjo na ordem mundial é um perigo iminente, quando um desatinado tem o poder de acionar o botão nuclear.

Ressalte-se que a tese conservadora de manter a tradição cristã da família é um lema republicano, nos EUA. Desde ter direito ao porte de armas – para defender a honra e a propriedade privada – até o sistema de educação, passando por oposição ao aborto e ao casamento homoafetivo, a família é o bastião elementar.

Já a política anti-imigração de Trump, em sua cruzada xenófoba, tem feito horrores, separando pais de filhos dos imigrantes ilegais. Tudo bem, pensam os conservadores, são da família dos outros, e ainda por cima querem desrespeitar nossas fronteiras e afrontar nossas leis.

E não é só lá, no primeiro mundo. No recente impeachment em território brasileiro, vimos votos de deputados que o faziam em nome da família – incluindo alguns que em seguida foram presos ou indiciados em crimes de corrupção. Agora têm-se esmerado em convalidar decisões de um governo ilegítimo que retira dos mais necessitados todos os mecanismos de avanço social, condenando muitos ao retorno à linha abaixo da miséria.

Congela recursos para a educação, comprometendo a formação de brasileiros nas próximas décadas, perpetuando a dependência de nosso país, em termos de novas tecnologias, novos tratamentos médicos, novas metodologias.

Se a família deles está com as condições básicas de saúde, educação e segurança asseguradas, o resto que se exploda. Nisso se comparam às máfias, italianas ou orientais, que normalmente se organizam em famílias para autoproteção, e nesses casos, o sangue tem valor máximo, porque envolvem a família.

Assim, o que se vê é a noção de família de acordo com a sua moral (embora entre parlamentares, abunde a imoralidade), da sua compreensão religiosa. Desse modo, contra o formato tradicional, consideram ético, preferível deixar uma criança abandonada na rua, ou em um abrigo, a permitir adoção por um casal homoafetivo. Se é para seguir os princípios da religião cristã, então é preciso ir a fundo. O Mestre falou: “vinde a mim os pequeninos, porque dos tais é o Reino dos Céus”.

Não estabeleceu critérios, não fez triagens, não perguntou sobre a posição social dos pais, sobre a religião ou sobre a origem étnica. Proteger a vida é considerar as crianças como parte da família humana, que é muito maior – ou deveria ser – do que mesquinhos interesses ideológicos, econômicos ou sociais.

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a imagem que ilustra esta crônica é uma reprodução da internet.

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