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A Revelação – por Pylla Kroth

Alguns assuntos não têm prazo de validade. E quero falar de um livro muito, muito antigo que conta uma velha história de um tempo há muito passado, que de história se tornou lenda e depois mito, como concerne a todas as velhas histórias, as quais ao se tornarem mitos tornam-se também, às vezes, matéria de fé, e assim sendo são tanto antigas quanto atuais, dependendo da ótica sob as quais são lidas ou ouvidas.

Diz esta história deste livro que houve um tempo em que a corrupção havia enchido o planeta Terra, através dos seres humanos, de tal maneira que o ruído da corrupção ecoava por todo universo e ultrapassava o limiar do véu que separa o mundo material dos planos etéreos e das dimensões conhecidas como o Além da matéria.

O ruído provocado pelos humanos era tamanho que atingiu grandemente os ouvidos do Poder Criador, em última instância a Divindade que gerara e modelara o mundo material e o enchera com suas criaturas. De todas estas criaturas, no início, a que o Criador mais amava eram justamente os humanos, por isso encheu-o de desgosto perceber no que haviam se tornado; e o desgosto se tornou ira divina, e então ele tomou uma grave decisão: “Varrerei da face da Terra essa raça humana que criei, e com ela os animais, os pássaros e todas as criaturas que se movem sobre o chão, pois me arrependo de tê-los criado!”. E, assim, fez cair uma chuva sobre a terra, por quarenta dias e noites, e todas as fontes secretas sob a crosta se romperam com toda sua força, provocando uma inundação que represa alguma poderia conter; e todo planeta foi tomado pelas águas e pelo caos, espalhando morte e destruição de todo ser vivo que respirava.

Antes que tudo isso acontecesse, porém, enquanto planejava a grande destruição, o Criador observou atentamente e considerou que mesmo que a corrupção grassasse pelo mundo, era dos humanos que ela havia se originado, que as outras criaturas vivas, os animais, possuíam a pureza em suas essências ainda, e decidiu alterar um pouco seus planos, poupando sementes para que estas criaturas fossem preservadas e voltassem a se proliferar no mundo após a extinção. E ao decidir isto, começou a considerar atentamente a possibilidade de não extinguir totalmente a humanidade também; então procurou, procurou e procurou até encontrar uma pequena família que lhe inspirava esperança em preservar o pouco que ainda restava de bom nos seres humanos, e colocou-os a salvo juntamente com as outras criaturas, até que todo caos passasse e todos pudessem voltar a habitar a terra novamente, reiniciando o ciclo e reciclando a criação. E conta a história que, ao reinserir suas criaturas novamente no planeta, tendo passado a tempestade, o Criador pendurou no céu, novamente limpo e azul, um vibrante arco de sete cores e disse: “Este é meu pacto com a humanidade: toda vez que verem o meu arco no céu lembrarão, como eu lembrarei, da minha promessa de que nunca mais voltarei a destruir a minha criação através das águas desta forma!”.

Séculos e milênios se passaram desde este acontecimento, segundo a mesma velha história contada no mesmo antigo livro, e a humanidade voltou a encher a terra, e os reinos de barro, de pedra e de metal ascenderam e caíram e outros se ergueram no lugar deles, e voltaram a cometer os mesmos velhos erros e pecados de seus pais ancestrais, a mesma velha corrupção gerada pelos seres humanos, que possuem em sua essência a capacidade de conhecer e fazer, ou não, o bem e o mal. Nunca mais, porém, a terra foi inundada daquela mesma forma, e século após século o arco da promessa do Criador continua pendurado nos céus, embora provavelmente ninguém mais lembre seu significado.

O mesmo antigo livro, em capítulos um pouco menos antigos, conta que houve, porém, um tempo em que o Criador decidiu habitar, em carne e osso, entre suas criaturas, quem sabe se tentando compreendê-las mais profundamente e certamente procurando por esperança para os seus filhos humanos, enviando seu Filho divino nesta busca, de forma humilde, para resgatar a capacidade de praticar o bem e o amor daqueles que o recebessem. E no fim de sua vida humana o que ele obteve, porém, foi uma dolorosa morte por crucificação, por causa da dureza do coração dos homens e sua assustadora inclinação para a prática da corrupção. Aqueles, porém que corresponderam à esperança do Criador, afirmam que o Filho ressuscitou, que andou com eles, sentou-se à mesa com eles e comeu com eles, e depois ascendeu aos planos superiores, à Divindade novamente, e deixou a missão de preservarem sua busca. E mais, afirmam que algum dia, não se sabe quando, Ele voltará para recolher os que produzem e cultivam esperança e pureza, e que neste dia a Terra será novamente inundada e destruída pelo seu Pai, mas, como o Criador é bom cumpridor de suas promessas, desta feita não será com água, mas com fogo e enxofre, conforme conta e ao mesmo tempo prediz a história do antigo livro em seus últimos capítulos, intitulados “o apocalipse”.

Estes capítulos em particular deste antigo livro despertam minha curiosidade, pela minuciosa e fantástica descrição de coisas que não aconteceram, mas supõe-se que algum dia acontecerão, caso se acredite que todos os capítulos anteriores do livro tenham de fato acontecido. De tão assustadoras que são as previsões, é possível compreender por que é que são utilizadas por algumas religiões baseadas neste livro como método de evangelização á partir de “ameaça divina”, incutindo o medo ao invés da doutrina primordial do Cristo, que é a esperança e a caridade\amor. De fato é um monte de ameaças divinas, se formos considerar ao pé da letra, e ali tem de um todo: chuva de granizo com fogo, queda de estrelas do céu, envenenamento das águas, guerras, pestilências, fome, ascensão de bestas de aparência aterrorizante aos mais altos postos de comando das nações do mundo, incluso o anticristo, entre outras coisas assombrosas para dizer o mínimo, que desafiam a imaginação em níveis difíceis de explicar.

É evidente que todas estas coisas são matéria de fé, como falei no início do texto, às quais fé pode ser dada ou não, que gera gama imensa de especulação. Inúmeras vezes o apocalipse enquanto “fim do mundo” já foi anunciado por este ou aquele outro, até mesmo com datas determinadas, onde nada de fato veio acontecer, e sabe-se lá quantas vezes já ouvimos a expressão “é o fim dos tempos!”, se referindo a eventos recentes como “apocalípticos”, de uma forma que com o passar do tempo o significado de apocalipse mesmo já se perdeu, banalizou-se, mudou-se. Afinal, a palavra apocalipse, originária do grego apokálypsis, significa “revelação”, e por isso os capítulos finais do livro, que conhecemos como Bíblia, se chamam “livro das revelações”, se referindo ao fato que se constituem de um compilado de revelações que teriam sido confiadas ao apóstolo João Evangelista através de sonhos e visões. Bem, por aí começamos a compreender um tanto de seu conteúdo onírico. Enfim, há quem duvide, há quem acredite…

E eu que não sou evangélico nem muito menos evangelista, embora creia e respeite muito da doutrina Cristã, não pretendo pregar coisa nenhuma ao resenhar toda esta história nos meus escritos de hoje. Apenas relembrei-a por que ultimamente temos presenciado coisas nestes dias que nos remetem a eventos apocalípticos, de caos, morte e destruição através da lama, da água, do fogo e do ar, que nos chocam, nos põem a refletir, nos fazem perceber que terríveis são as conseqüências dos atos derivados de corrupção, das catástrofes que o ser humano é capaz de gerar. Para mim a maior de todas as revelações é que não necessitamos de ameaça divina. Não, pois nós, os humanos, é que somos nossa própria ruína e destruição: somos o nosso próprio apocalipse, e isso não é nenhuma matéria de fé. Alguém duvida?

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