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ARTIGO. Assumir compromisso de propagar a cultura da paz, do diálogo e do convívio social, propõe Valdeci

A cultura da paz precisa de multiplicadores

Por VALDECI OLIVEIRA (*)

Extrapolou. Não dá mais. O Brasil, país pacifista por excelência, país da diversidade e país de povo ordeiro, precisa acordar e, com urgência, dizer “BASTA!” ao quadro de beligerância que está posto no país.  De uns tempos para cá, o que mais se salienta em nosso território são casos e mais casos de assassinatos absurdos, de estupidez, de preconceito e de covardia.

A sensação que se tem é que o país, não na sua totalidade, mas em uma parte bastante significativa, acorda e dorme predisposto a conflitar e a agredir, seja nas ruas, seja nas redes sociais. Isso não é bom, isso fomenta uma atmosfera cada vez mais hostil e não civilizada.

Por exemplo, para citar uma situação bastante aguda e atual, não é possível mais suportar a violência contra a mulher registrada em nosso país. Vergonhosamente, somos campeões mundiais nesse pavoroso índice. Semana após semana, surge na mídia um rosto feminino desfigurado por socos e pontapés que, pasmem, foram desferidos pelos próprios companheiros, ensandecidos pelo machismo e pelo ciúme exacerbado.

No caldeirão de intransigência e violência que o país mergulhou, nem adolescente se salva. O estarrecedor massacre ocorrido em Suzano, São Paulo, dois dias atrás, mostrou ao país inteiro que, no cenário que vivemos, nossos filhos e filhas não estão distantes da barbárie nem dentro de uma escola.  Não há como não se colocar no lugar, nem que seja por instantes, dos pais e familiares das vítimas de Suzano.

Desde que o massacre se sucedeu, eu não consigo parar de pensar na imagem dos pais das vítimas, nas primeiras horas da fatídica quarta-feira, 13 de março de 2019, vendo seus filhos irem para a Escola Professor Raul Brasil com a certeza natural de que seria mais um dia produtivo, pois eles passariam horas aprendendo matemática, língua portuguesa ou outras disciplinas.

Jamais imaginaram eles que, em vez de ensinamentos, seus filhos receberam, na verdade, disparos de armas de fogo dentro do colégio. Como pai e avó que sou, só posso me solidarizar a eles sabendo que nada disso devolverá um minuto de vida dos seus entes.

Poderia citar aqui mais e mais fatos que desenham esse cenário desvairado e desumano que vivenciamos. Longe da mídia e dos holofotes, a juventude das periferias das grandes cidades brasileiras, principalmente a juventude negra, é cotidianamente espancada, criminalizada e assassinada, em um processo que pode-se chamar até de genocídio. Conforme a própria Organização das Nações Unidas (ONU), um jovem negro morre a cada 23 minutos no Brasil.

O mais grave disso tudo é que se nada for feito para desestimular essa sanha, os episódios só vão se tornar ainda mais drásticos. Por isso, faço um apelo público às nossas autoridades – e já me incluo entre os destinatários da mensagem – aos nossos formadores de opinião e todos aqueles que possuem espaços de liderança: vamos parar de incentivar direta ou indiretamente a violência e vamos assumir o compromisso de propagar a cultura da paz, do diálogo e do convívio social.

Independente de posição ideológica, o Brasil não precisa de garotos-propaganda da agressão e do ódio.  O Brasil não precisa de “ditos machões” que postam nas redes sociais fotos ou vídeos com armas em punho ou fazendo “sinal de arminha”, inclusive, na frente de crianças e adolescentes. O Brasil não precisa de covardes que agridem mulheres e LGBTs.

O país precisa é de gente que converse com as outras, que saiba divergir sem agredir, que saiba entender como natural que o fulano pensa diferente e é diferente. Os brasileiros e brasileiras precisam muito mais de acesso à educação sem censura, aos livros, à cultura e à ciência do que de acesso a pistolas, espingardas ou metralhadoras.

Respeito muito quem enxerga as coisas por outro ponto de vista, até porque as pessoas têm razão em se preocuparem com o recrudescimento da insegurança. No entanto, avalio que a propagação do armamentismo só vai fomentar ainda mais a violência, o assassinato de inocentes e a ocorrência de tragédias.

Continuo a defender que o enfrentamento à criminalidade não passa por uma única solução ou por soluções simplistas. Passa, fundamentalmente, pela redução das desigualdades, pela prevenção à violência e pela ampliação de políticas públicas à juventude. Isso somado à valorização dos trabalhadores da segurança pública, a um efetivo maior de policiais nas ruas e de agentes nos presídios e a uma ação judiciária justa e firme.

(*) VALDECI OLIVEIRA, que escreve sempre à sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria.

NOTA DO EDITOR: a foto pós tragédia de Suzano, na Grande São Paulo, que ilustra este artigo, é uma reprodução de internet.

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