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CRÔNICA. Gilvan Ribeiro e para não dizerem que não falou sobre política – que sim, faz parte da nossa vida

Em que lugar a política acontece? 

Por GILVAN RIBEIRO (*)

Quando eu recebi o convite para escrever neste site, lembro-me de ter feito uma promessa a mim mesmo e ao meu editor. O que prometi a nós foi que em hipótese alguma escreveria sobre política neste canal. O motivo para tal afirmação é muito simples: não me considero apto para tratar deste tema com tanto aprofundamento, como ele e outros colaboradores aqui fazem. Não que eu seja expert sobre as temáticas que trago, mas enfim, não me sinto confortável para colaborar com questões sobre o mundo político. Além do mais, o carro chefe desta plataforma são justamente temas voltados à política, portanto, acredito que posso colaborar trazendo outros temperos.
Acontece que hoje resolvi quebrar a regra que eu mesmo criei. Peço licença para a exceção. É que existe algo que tem me provocado muito e como sou movido a escrever sobre o que me provoca (muito), justifico esta ação.

Mas não se preocupem, o que pretendo abordar aqui sobre política não está diretamente relacionado ao desempenho de partidos, disputas ideológicas, jogos de poder, corrupção, etc. Ao contrário disso, convido vocês a voltarem o olhar para a política que mora dentro de cada um de nós.
Como assim, vive uma política dentro de mim? Mas eu nem gosto de política, como pode ela estar dentro de mim?
Bom, isso não sou eu quem está afirmando. Quando o filósofo grego Aristóteles disse que “o homem é por natureza um ser político”, ele estava justamente apontando para o fato de termos uma tendência a nos organizarmos em sociedade. O que ele queria dizer é que assim como a laranjeira existe para dar laranjas, o homem tem na sua gênese o destino de viver coletivamente. E quando buscamos isso estamos agindo para o bem da nossa própria espécie.

De fato, não precisamos de muitos esforços para comprovar o que Aristóteles percebeu e afirmou. Basta olharmos para o lado. O instinto de coletividade atravessa a nossa existência a todo momento, queiramos nós ou não. Ninguém vive completamente isolado do início ao final da vida. Essa condição “coletiva” nos torna seres políticos.

Confesso que demorei para perceber (e aceitar) isso. E hoje entendo que a demora para perceber, consistia justamente em não aceitar que a política seja algo inevitável, e que o fato dela existir está além de eu aceitar ou não.

Essa virada de percepção/aceitação se deu mais precisamente em 2017, quando vivi uma experiência como assessor parlamentar de comunicação, na Câmara de Vereadores de Santa Maria.

Confesso que não consegui sobreviver por muito tempo naquele meio e com apenas seis meses de trabalho me desliguei da função que eu exercia. Aliás, não me desliguei, fui desligado. E os motivos para tal – hoje entendo melhor – foram basicamente uma disputa de poder entre pessoas (muito) mal intencionadas.

De qualquer maneira, hoje me considero privilegiado por tudo que vivi naquela época, acompanhando a rotina da Câmara de Vereadores durante alguns meses. O principal aprendizado que esta experiência me trouxe não se trata das questões técnicas da política, nem mesmo da comunicação política. O que pude levar desta experiência foi exatamente o contrário, foi perceber que nada sei sobre política e principalmente, me dei conta do perigo que é “não saber”, neste caso.

Sendo mais direto, entendi que tudo que reclamamos sobre o sistema político que vivemos só acontece porque não conhecemos e agora o ponto que eu queria mesmo chegar, não nos envolvemos com a política.

A nossa inércia é justamente o motor que ajuda a manter a desordem, a corrupção e tantos outros problemas. É o nosso “não envolvimento” que permite que tanta gente despreparada administre questões primordiais, que ressoam diretamente na nossa vida cotidiana.

Uma coisa que me deixou chocado, por exemplo, foi me dar conta de que os vereadores são aqueles que legislam sobre as leis que eu irei seguir. A parte assustadora disso acontece quando você conhece cada vereador de perto e se pergunta: essa é pessoa que vai sugerir, criar e aprovar as leis que eu terei que cumprir? Obviamente que existem pessoas preparadas, conheci algumas. Mas é trágico dar-se conta de que a maioria não é.

Eu sei que essa “ignorância política” é algo até mesmo pensando pelos governantes mal intencionados. Mas cá entre nós, se já percebemos que a intenção dos caras é nos manter na ignorância para seguirem (des)governando, por que não levantamos a bunda do sofá?

E não estou aqui falando que todo mundo deve ocupar um cargo político. Eu mesmo tenho minhas dúvidas se voltaria a trabalhar no meio. O fato é que todos nós podemos – devemos, precisamos – buscar mais envolvimento com a política.
Por fim, engana-se quem pensa que a ignorância política reside apenas nas periferias, onde as pessoas são vítimas de um sistema que não lhes oferece educação de qualidade. Conheço muita gente graduada que não sabe a diferença entre poder legislativo e executivo, nunca pisou numa sessão da Câmara e vive reclamando das coisas que não dão certo na sociedade. Ainda mais nesse momento de redes sociais, em que fazer política se resume – para muitos – a um textão de Facebook.
Precisamos cobrar, precisamos reclamar, precisamos incomodar aqueles que estão governando. Mas antes disso precisamos minimamente entender como a política funciona, para justamente cobrarmos com eficiência.
Se cada um tem o governo que merece, vamos fazer por merecer algo melhor. Vamos FAZER algo melhor e não apenas esperar que alguém faça. Esse desinteresse que toma conta de nós é o que justamente “eles” querem para nos (des)governar.
Vamos ativar a política que vive dentro de cada um de nós, é assim que começa toda e qualquer mudança social. É assim que começam as mudanças que tanto ESPERAMOS.

(*)  GILVAN RIBEIRO, 29 anos, é atleta olímpico e apaixonado pelo jornalismo (cursa o 8º semestre, na UFN) e pela Psicologia (está no 1º semestre, na UFSM). Ele escreve no site sempre aos sábados.  

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: A imagem que ilustra esta crônica é uma reprodução da Internet.

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